Fiquei impressionado, não surpreso, com a declaração do próximo presidente dos EUA de que usará commodities de petróleo, expondo no seu programa de governo muitos incentivos à prospecção de oil and gas. Lembro que, adepto das políticas para a energia limpa, em 2006, tentei implantar em Luanda (Angola), pós-guerra, a energia solar no novo prédio da empresa de comunicação da qual era Diretor Técnico.
A rua Comandante Nzaji era propícia e ainda lotada de embaixadas, e, naturalmente, podíamos abrir um novo nicho de mercado com o modelo exemplar a ser implantado. O motivo, óbvio, era que dia sim faltava luz e dia não a energia provinha de um gerador mais barulhento que o motor de FNM, usado, soltando fumaça que o céu da África buscava refúgio nos lenços do Criador.
Fiz cotação com empresas de Portugal e do Brasil. A de Lisboa não deu atenção, mas a de Ribeirão Preto, já contatada 10 anos antes para instalar energia solar e bancar os três elevadores do Ed. Petrônio no Parque Júlio César, Pituba, da capital soteropolitana, esmiuçou o projeto para os 12 cômodos da nossa empresa, garantindo energia 24h e silêncio. O custo girava em torno de 35 mil dólares, divididos em 12 parcelas, incluindo seis meses de manutenção, além da hospedagem de uma semana para os dois técnicos. Perfeito. O diretor-presidente, proprietário, elogiou a iniciativa e mandou ordenar ao departamento de compras a providência imediata de um gerador numa das empresas da capital angolana ou em Uíge, uma das 18 províncias de Angola, localizada na região norte do país.
Naturalmente, não mostrei o segundo e maior objetivo: Energia Limpa de Angola (ELA), minha doce menina dos olhos enquanto empresário, um projeto que está engavetado até hoje. E o nome? Mataria a pau! E lá veio, em menos de uma hora, o miserável gerador enorme, vermelho e barulhento, que custou aos nossos cofres à vista 18 mil dólares — o gasóleo, mistura de gasolina e diesel, era e ainda é barato naquele país. A sala do diretor-presidente tinha paredes acústicas, então ele se deliciava com o ar-condicionado e o silêncio. A decisão tinha motivos interessantes: mostrar que a empresa Brasil/Angola comprava produtos locais e uma puxa-saquice no governo local, um de nossos clientes, ou o principal.
Outro ponto que busco contentamento no modal energético O&G é a satisfação de ter publicado a primeira matéria sobre o kit gás na época em que a Petrobras começou a bater recordes de prospecção de petróleo em lâmina d'água, empresa muito bem dirigida pelo coronel Ozires Silva, um dos melhores gestores da estatal e de outras que se tornaram multinacionais, como a Embraer (aviões) e a Pelenova (patentes dos frutos e sementes amazônicos), sob sua direção — ele chegou a ser o superministro no governo Collor de Mello.
Eu ainda não desisti da idealização do processo de transição energética, que envolve uma série de fatores interligados, desde políticas governamentais, avanços tecnológicos, mudanças no mercado de energia, conscientização ambiental e demanda por fontes de energia mais limpas e renováveis — "o sol é a brasa do baseado de Deus", já citei minha frase agressiva favorita.
Nesse ano, trabalhava em uma mistura de agência de publicidade, assessoria de imprensa e editora. O principal produto era um Catálogo Offshore bilíngue, que reproduzia anúncios de empresas prestadoras de serviços e de vendas de peças para marinha mercante, estaleiros, comandantes de navios e para as multinacionais petroleiras. Criei o jornal Offshore para abastecer de notícias esse segmento, e foi muito bem aceito.
Fui procurado por um engenheiro e um técnico, este também mergulhador da Petrobras. Eram da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc/Caxias), Rio de Janeiro. O diretor de Vendas da Labuto's Publicidade se aproximou para prospectar anúncio e pedi que nos deixasse, porque o objetivo era noticiar o invento kit gás — os carros teriam autonomia de até 150 km adaptado para gás, tipo botijão de cozinha, melhorando o desempenho do motor e não havia risco de 'explosão'.
Citei a fonte, nominando os profissionais donos da patente, e publiquei no house organ Offshore, com chamada na primeira página de oito mil a dez mil exemplares, mensal. Crescemos muito em pouco tempo. Após a distribuição, os dois telefones da empresa não paravam de tocar, ligação após ligação. Chutei o balde e pedi para uma das estagiárias ficar repassando os telefonemas para os vendedores — haveria ali uma fonte comercial.
Passados alguns dias, percebi que o diretor de Vendas desmerecia a matéria, colocando em xeque o texto e a fonte, denominando-os aventureiros. Isso gerou um ruído, porque o cara, em vez de defender a empresa para a qual trabalhava por comissão, derrubava justamente o veículo que o fez melhorar de carro em poucos meses — as vendas do catálogo aumentaram com a criação do jornal.
Hoje, aqui no Brasil, o kit gás é uma realidade e ainda não entendo por que os fabricantes não adaptaram definitivamente a função flex para o uso do gás em larga escala no mundo. Consultei vários motivos que não me convenceram. Agora, as energias alternativas para veículos, como a solar e o hidrogênio, batem em nossa cara com luva de pelúcia.
Curiosidade
A secretária executiva do presidente da Associação dos Estaleiros do Rio de Janeiro me telefonou pedindo, pelo amor de Deus, para eu “decifrar” uma documentação em inglês recebida sobre uma possível negociação de navios. Após aceitar o desafio, porque nem mesmo os CEOs e renomados engenheiros entenderam o tal documento para negociação de grande soma de milhares de dólares com estaleiros brasileiros, chegou um dos seus auxiliares, o mesmo que rejeitava meus contatos com o dono do estaleiro, presidente da Associação, que eu pretendia que bancasse os custos do jornal Offshore.
Nos identificamos e ele me entregou um envelope ofício magro, vazio. Pegou de volta o envelope e puxou uma folha de telex. “É isso!” Comecei a ler e perguntei o que não entenderam, e ele me disse que nada. Vou transcrever para você então. Ao fazê-lo à mão, num risca-rabisca da minha mesa pessoal do escritório, ele leu no meio da transcrição Aliança, ou seja, estaleiro Aliança. Me pediu para usar o telefone, o que não foi necessário, porque a secretária acabara de telefonar. Atendi e li para ela, que gritou do outro lado da linha: — Não acredito.
Todos aqui não entenderam o que era Alinca. Expliquei que em inglês não existe cê-cedilha, e havia erro na denominação do estaleiro em questão — estava escrito Alinca, e o único estaleiro no Rio de Janeiro apto a tal monta (mais de 1 milhão de dólares) era o Aliança. Ganhei, dois dias depois, uma caixa de uísque, apenas!
Aqui no Brasil de hoje, nem pensar em energias alternativas, porque o Executivo (Lula e sua equipe) eliminou qualquer possibilidade de subsídios e criou novos impostos, o que afetará o uso doméstico em larga escala pelo Brasil afora. Então, entendo que a grande sacada de Donald Trump sobre "incentivo" à política do petróleo em sua plataforma de governo nada mais é do que uma grande tacada de maior aproximação à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), organismo intergovernamental que fortalece os países produtores de petróleo frente às empresas compradoras do produto, que exigem redução cada vez maior nos preços.
Aí, nessa jogada de mestre do Trump, teríamos que entrar na guerra Rússia-Ucrânia e defesa a Israel e Emirados Árabes — lugarzinhos que gostam de brigas. Daí, posso dizer que os terráqueos fazem buracos onshore (terra) e offshore (mar aberto), promovendo na terra buracos por prospecção e ignorância, o que depreendemos como ganância, improdutividade e violação ao que pregam como política de sustentabilidade — daí, acredito que o buraco de ozônio realmente faz parte dessa maldita política das excrescências que se denomina progressista.
Notas
Ipsis litteris — "O queijo suíço é feito com leite de vaca e contém bactérias que ajudam a convertê-lo em um produto sólido. Então, por que ele possui buracos? Também chamados de 'olhos', os orifícios são tão essenciais que, quando desaparecem, os produtores dizem que o lote do alimento é 'cego'."