A Medimoc é uma fábrica de medicamentos de Moçambique que devia no mínimo produzir medicação para alimentar as farmácias públicas e beneficiar com valores simbólicos aos mais carenciados. Com o passar do tempo a missão da Medimoc como indústria estatal na produção de medicamentos deixou de fazer sentido, pois, a baixa qualidade de medicamentos produzidos nesta fábrica não satisfaz as necessidades e preocupações dos utentes do dia a dia nas farmácias públicas.
À questão da baixa qualidade da medicação associa-se também a falta constante de certos medicamentos nas farmácias públicas, o que deu lugar para aparição de muitas farmácias do sector privado operando no território nacional, acelerando o de cima a falência e a inoperância das farmácias públicas no país.
A aparição de novas indústrias farmacêuticas é benéfica para a concorrência, o que ajuda para o estabelecimento de preços justos e qualidade dos medicamentos. Mas isso não se justifica na prática, pois as indústrias farmacêuticas privadas vieram decretar uma falência que vinha se vislumbrando faz tempo na Medimoc.
As indústrias farmacêuticas privadas estão enraizadas em todo território nacional, o que a Medimoc não conseguiu fazer em 48 anos de independência, as indústrias farmacêuticas privadas fizeram em curto espaço de tempo.
Os preços aplicados nas farmácias privadas na venda de certos medicamentos, relativamente aos preços aplicados nas farmácias públicas são altos, o que se reflecte no bolso do cidadão de classe baixa que não consegue comprá-los. São vários os casos em que os pacientes, após uma prescrição de medicamentos entram em choque por não saber onde encontrá-los a um preço que se reflecte nas suas condições de vida, e do seu bolso, ou se existem nas farmácias públicas. Há casos de pacientes que até abandonam a medicação por conta do preço.
O capitalismo violento em Moçambique levou à falência muitas empresas estatais para favorecer os negócios privados, sem entanto olhar-se para a questão nacional e nas condições de vida de sua população. A indústria farmacêutica estatal Medimoc não foge à regra: foi falindo na forma e na matéria, ficando apenas o nome, mas a essência foi comprometida.
Como ter uma esperança de vida num país onde a industria farmacêutica estatal deixou de cumprir o seu papel de provedor de saúde para o povo?
Enquanto isso as indústrias farmacêuticas privadas vão fazendo das suas. Sem uniformização de preços dos medicamentos vão massacrando o bolso do pacato cidadão que luta para sobreviver apesar de um sistema de saúde precário quando procura por medicamentos acessíveis.
Assume-se que estamos diante de um capitalismo violento, onde sobrevivem os que tem poder de compra, mas o Estado não deve escusar-se de seu papel de regulador nos negócios das indústrias farmacêuticas - entre outras - para que haja um equilíbrio de preço que permita que as pessoas possam respirar com saúde.
Enquanto persistir este dilema da falta de qualidade dos medicamentos, e de sua falta nas farmácias públicas, o slogan “o nosso maior valor é salvar vidas” ostentado nas ambulâncias públicas, e em outros locais públicos, ficam sem eficácia ao menos na matéria. À indústria farmacêutica privada fica o seguinte conselho: não pensem apenas no capitalismo, a vida está acima de qualquer argumento económico. Se o paciente deve morrer por não ter dinheiro para comprar a medicação, então porque existem farmácias se não podem ser úteis quando a vida precisa.
É evidente a ausência do Estado nesta matéria, mas é chamada à responsabilidade social para com o próximo. A Medimoc está em declínio, só resta ser entregue, ou alienada aos privados para a sua gestão, e continuar-se com o capitalismo violento contra as massas. Isso significa encurtar a esperança de vida das populações, pois, se em plena capital do país há estes problemas de falta de qualidade dos medicamentos, e sua falta nas farmácias públicas, imagine num distrito recôndito distante da capital.