“Sharenting” significa partilhar em demasia fotografias e vídeos dos filhos em demasia. Pode de ser uma maneira óptima para os relembrar mais tarde e matar saudades de momentos especiais. Para além disso, a partilha aumenta o sentido de conexão familiar. Já não é preciso mandar fotos impressas aos avós distantes ou contar aos colegas como as crianças quiseram vestir-se no Carnaval. Os smartphones têm excelentes camêras fotográficas. O Facebook ou Instagram fazem o resto, de maneira quase profissional.

A vontade de mostrar estes registos sempre aconteceu, de forma mais ou menos intensa, no local de trabalho ou entre amigos. Só que, agora, e sobretudo devido às redes sociais, a quantidade de pessoas que pode ver os menores é muito maior. Mesmo quem tenha os chamados “perfis fechados” corre o risco de abrir exeções e mostrar o acervo digital a pessoas menos desconhecidas ou mal-intencionadas. Mais do que isso, as crianças ficam registadas numa pegada digital incontrolável. É certo que a maioria dos pais não está a pensar no pior e alguns até podem viver com segurança. No entanto, convêm que tivessem em consideração que o tempo passa, os filhos crescem, socializam e podem não vir a gostar da forma como foram mostrados.

Um recente estudo do “New York Times”, revela que que estimam que 90% das crianças norte-americanas têm presença nas redes sociais a partir dos dois anos de idade. Pensa-se também que cada uma, apenas aos 5 anos, tenha 1,500 fotos online, em media. Emma Watson, uma das actrizes que encabeçou o movimento “Me Too”, nos E.U.A., disse recentemente à revista “Interview”, que “muitas crianças desta geração têm as vidas inteiras tornadas públicas mesmo antes de poderem de dizer uma palavra sobre o assunto”. Mas não é a única. Naomi Campbell, a super-modelo dos anos 90, que voltou a ser mãe, nem sequer o sexo do bebé quis revelar. Existem alertas de figuras públicas, educadores e psicólogos um pouco por todo o lado. A BBC Índia calcula que daqui a 6 anos, mais de metade das fraudes de identidade tenham a ver com o “sharenting” no Facebook e Instagram.

Um problema moderno com justificação

A grande questão parece ser: se as crianças idade para compreender o que está em causa, aceitariam ser mostradas desta maneira? À medida que o tempo passa, revela o estudo, os filhos podem acusar os pais de não terem acautelado devidamente os seus interesses ou direitos. Até porque muitas vezes acontecem imprevistos desagradáveis, como a morte de alguém da família ou um divórcio.

Sinais de que pode estar a partilhar de mais

Não será por acaso que muitas crianças aparecem tapadas ou de costas em fotos e vídeos, quer nas televisões, quer nas redes sociais. Os “famosos” foram os primeiros a reclamar esses direitos para os filhos, mas com as redes sociais, qualquer pessoa com os perfis abertos a todos, abriu novos cenários no que diz respeito à privacidade das crianças, que apesar de não serem ouvidas, têm direitos que os pais devem ser os primeiros a proteger.

Que sinais podem indicar que está a expor demais uma criança nas redes sociais? Aqui vão alguns exemplos comuns:

Por acaso, criou um perfil do seu filho quando ele nasceu?
Ele aparece nas redes em todos os momentos e ocasiões?
Já deu por si a gravar vídeos de brincadeiras dele para ir logo postar?
Desafiou os seus filhos a fazer “gracinhas” de propósito?

Os pais, há que dizê-lo, não são os únicos responsáveis. Os avós, os tios e os amigos também podem contribuir. Mas, acima de tudo, é preciso que tenhamos consciência, enquanto adultos responsáveis, que as crianças não são nossas e que devemos protege-las dos riscos de uma sociedade complexa e onde o perigo espreita. A resposta é difícil, mas talvez fosse boa ideia refletir sobre ela. Até lá, ao menos recomenda-se que ouçam as crianças, mal elas começam a compreender que uma foto partilhada tem olhares que elas não escolheram. Para alguns psicólogos, os miúdos começam a perceber isso por volta dos quatro anos.