Santa Hildegarda de Bingen (1098-1179), foi uma figura extraordinária do século XII, conhecida por sua vasta contribuição em diversas áreas, com uma profunda espiritualidade e múltiplos talentos. Monja beneditina alemã, visionária mística, escritora, compositora musical, filósofa, cientista, naturalista, médica, líder monástica e reformadora eclesial. Hildegarda é uma das quatro doutoras da Igreja Católica, ao lado de Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Jesus e Santa Teresinha do Menino Jesus.
Desde jovem, Hildegarda teve visões místicas que a inspiraram a escrever sobre teologia, ciências naturais e medicina. Seus escritos incluem análises detalhadas sobre plantas e alimentos, destacando seus efeitos no corpo humano e defendendo uma abordagem holística para a saúde. Ela também compôs música, sendo uma das poucas compositoras medievais cujas obras chegaram até nós. Quem possui algum conhecimento sobre as exigências da formação de uma sacerdotisa, sabe que todos esses estudos e talentos de Hildegarda, eram necessários e aprofundados na formação de uma sacerdotisa dos templos Celtas ou da lendária Atlântida, mito criado pelo filósofo Platão no sec. IV a.C.
Há pouco tempo me deparei com os estudos dessa mulher tão atual para nosso tempo. Pensei em muitas coisas para falar de uma pessoa tão especial e com tantos talentos que poderiam ser discutidos na atualidade. A meu ver era uma mulher feminista, que lutava pelos direitos da mulher, além de enfrentar dificuldades pela doença que apresentava desde a infância. Lutou para ser aceita com suas qualidades, e provar que não possuía uma demência e sim um dom. E é por esse último que resolvi falar sobre suas visões e o numinoso. Teria Santa Hildegarda acessado o estado numinoso ou possuía um Transtorno qualquer?
Seu arquétipo hoje pode ser utilizado em vários estudos, como os de uma xamã, e seus ensinamentos da cura pela natureza, que em seu livro Physica, fala sobre as propriedades naturais das coisas criadas.
Poderíamos ir mais além, com a Psicologia Analítica, e os estudos de C. G. Jung, o numinoso. Seriam suas visões o que Jung chama em sua teoria estado numinoso? Santa Hildegarda de Bingen teve visões místicas desde a infância, que ela descrevia como uma "luz vivificante” ou lux vivens. Essas visões continuaram ao longo de sua vida e foram uma fonte significativa de inspiração para suas obras teológicas e espirituais. Uma de suas obras mais conhecidas, Scivias (Conhece os Caminhos do Senhor), é uma compilação de 26 visões que ela teve.
Nessas visões, Hildegarda abordava temas como a criação, a redenção e a luta entre o bem e o mal. Ela acreditava que suas visões eram uma forma de comunicação direta com Deus, e muitas vezes elas incluíam instruções divinas que ela deveria compartilhar com o mundo. E é devido a essas instruções que hoje podemos ter acesso aos seus tratamentos utilizados com autorização da Igreja.
Uma mulher fora de seu tempo estudando a cura pela natureza
As visões de Hildegarda não eram apenas experiências espirituais, mas também influenciavam suas práticas de cura e sua compreensão da medicina natural. Ela via a saúde como uma harmonia entre o corpo, a mente e o espírito, e suas visões frequentemente guiavam suas recomendações terapêuticas.
As visões de Santa Hildegarda de Bingen podem ser compreendidas como experiências numinosas, um termo que se refere a encontros com o sagrado ou o divino que evocam um profundo sentimento de mistério, reverência e fascínio.
O conceito de numinoso foi popularizado pelo teólogo Rudolf Otto, que descreveu essas experiências como encontros com o mysterium tremendum et fascinans – um mistério que é ao mesmo tempo aterrorizante e fascinante.
Para Hildegarda, suas visões eram encontros diretos com a presença divina. Ela descrevia essas experiências como uma “luz vivificante” que iluminava sua mente e espírito, proporcionando-lhe um conhecimento profundo e uma compreensão espiritual que transcendiam a experiência cotidiana. Essas visões não eram apenas visuais, mas também envolviam uma sensação de ser preenchida com a sabedoria divina e uma missão de transmitir essas revelações ao mundo. Quem já ouviu falar nos estudos de Jung sobre o numinoso, é assim que se relata a experiência, algo que toma conta de você e pode transformar sua vida e suas atitudes.
As visões de Hildegarda frequentemente incluíam imagens simbólicas e alegóricas que ela interpretava como mensagens de Deus. Essas experiências eram acompanhadas por um sentimento de reverência e humildade, pois ela acreditava estar recebendo uma comunicação direta do Criador.
Santa Hildegarda de Bingen e Carl Gustav Jung, embora separados por séculos, compartilham uma conexão interessante através de suas explorações do inconsciente e do espiritual.
Carl Gustav Jung (1875-1961), um dos fundadores da psicologia analítica, explorou o conceito do inconsciente coletivo e os arquétipos, que são imagens e ideias universais presentes na psique humana. Jung estava interessado em como essas imagens arquetípicas se manifestavam em sonhos, mitos e visões.
Essa conexão entre Hildegarda e Jung destaca a importância das experiências místicas e visionárias na compreensão da psique humana e da espiritualidade. Ambos contribuíram significativamente para a exploração do inconsciente e da espiritualidade, cada um em seu próprio contexto e com suas próprias abordagens.
Portanto podemos considerar as visões de Santa Hildegarda de Bingen como experiências numinosas devido à sua natureza profundamente espiritual e mística, pois eram envoltas em um profundo mistério e fascínio. Descrevia imagens complexas e simbólicas que muitas vezes desafiavam a compreensão racional, evocando um senso de maravilha e reverência.
O numinoso também envolve um sentimento de temor reverencial. Hildegarda frequentemente sentia uma mistura de medo e admiração diante das suas visões reconhecendo a presença poderosa e avassaladora do divino.
As experiências numinosas têm um impacto transformador na vida das pessoas. As visões de Hildegarda não só moldaram sua vida espiritual, mas também influenciaram seus escritos, sua música e sua abordagem a medicina, refletindo uma profunda transformação pessoal e espiritual.
Essas identificações mostram como as visões de Santa Hildegarda podem ser entendidas através do conceito de numinoso, destacando a profundidade e a intensidade de suas experiências espirituais.
Em 2012, foi proclamada Doutora da Igreja pelo Papa Bento XVI, reconhecendo sua influência duradoura e a harmonia entre sua doutrina e vida cotidiana.
Ela fundou dois mosteiros femininos e escreveu extensivamente sobre teologia, medicina e música. Além disso, Hildegarda se envolveu na política e foi uma figura influente em seu tempo, consultada por papas e imperadores.
Santa Hildegarda de Bingen é amplamente reconhecida por sua abordagem holística à cura, que integra corpo, mente e espírito. Ela acreditava que a saúde era alcançada através da harmonia entre o ser humano e a natureza. Utilizava uma variedade de recursos naturais em seus tratamentos, incluindo ervas medicinais, pedras preciosas e cristais, que ela acreditava possuírem poderes curativos. Além disso, ela enfatizava a importância de uma alimentação equilibrada e saudável, e muitas de suas recomendações dietéticas ainda são seguidas hoje.
Ela também defendia práticas como a meditação e terapias energéticas para ajudar a manter a vitalidade e a harmonia do corpo. Sua visão de cura natural era personalizada, considerando cada indivíduo único e adaptando os tratamentos às necessidades específicas de cada pessoa. Utilizava uma variedade de ervas medicinais em seus tratamentos naturais.
Para nosso conhecimento ela deixou ervas, plantas e raízes importantes que utilizamos nos dias de hoje, e poucas pessoas sabem sobre os estudos feitos por ela. Uma de suas recomendações por exemplo, foi o Gengibre, devido suas propriedades de aquecimento benéfico para tratar problemas digestivos como indigestão, náuseas e gases. A Erva-cidreira (Melissa), por suas propriedades calmantes, era usada para aliviar o estresse, a ansiedade e problemas de sono, também a Sálvia valorizada por suas propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias, ajudava no tratamento de infecções e problemas na garganta.
Foram muitos estudos e meditações feito pela Santa, ela também se utilizava de diversos cristais em suas práticas de cura, acreditando que eles possuíam propriedades terapêuticas. Eu há muito tempo utilizo o poder dos cristais em minha vida e tratamentos com meus pacientes. Alguns dos cristais que ela recomendava como a Ágata, que eu também aprendi com meu Mestre Xamã Tupi Guarani, sua importância, é associada à terra, Hildegarda foi instruída em suas visões de seu uso para estabilizar a energia e promover a harmonia emocional.
E a Ametista, uma pedra que vemos em tantos locais parecendo somente decorativa por sua cor violeta, ela utiliza para aliviar dores de cabeça e promover a paz interior. São muitas as pedras mencionas pela Santa, e eu não poderia deixar de falar sobre o Topázio que ela relata ser vinculado ao ar, sendo indicado para melhorar a clareza mental.
Uma das pedras que eu faço uso constante, o Jaspe, Santa Hildegarda de Bingen atribuía a ele várias propriedades curativas e espirituais. Ela acreditava que o jaspe era uma pedra poderosa, associada ao elemento fogo, e que possuía a capacidade de fortalecer o coração e melhorar a circulação sanguínea. Além disso, ela acreditava que o jaspe poderia ajudar a equilibrar os humores corporais e aliviar dores causadas por artrite e outras condições inflamatórias.
Esses cristais eram parte de uma abordagem holística que visava equilibrar o ser humano em sua totalidade. Hildegarda acreditava que cada cristal emitia uma energia específica que podia ser utilizada para promover a cura e o bem-estar.
Temos muito ainda o que aprender com a Natureza ou Sobre as propriedades naturais das coisas criadas, como ela denominou em seu Livro. Mas o mais importante é que hoje temos acesso ao que foi chamado de A medicina de Santa Hildegarda, para podermos usufruir e aprender sem sermos chamados de místicos, a medicina dessa Santa está disponível para qualquer pessoa que queira se aprofundar em conhecimentos da Natureza, e com a ajuda e comprovação de seus estudos e do Psicólogo e Psicanalista C. G. Jung, podermos dizer hoje, que está comprovado a eficiência do uso da natureza como cura, para aqueles que ainda duvidam.