Estamos cansados.
Estamos todos exaustos.
A minha volta vejo apenas olhos pesados. Que todo este suor investido traga de volta alguma recompensa. Não sorria para a incerteza porque aquilo que volta é sempre o tempo perdido e um corpo exaurido.
Preocupações com as tarefas a cumprir; expectativas para atingir; metas para acreditar, um sentido para ter. Eu corro com prazo sem término. Até quando?
Decido então encarar aquelas caras tão fadigadas, sinto o espelho da verdade. É que o cansaço apagou aquilo que queríamos. Vejo apenas o vestígio de uma vontade que se perdeu. Tão empreendidos em gastar tempo com moeda que não se paga. Em conversas paralelas os lamentos são ouvidos. “Vai se andando”. O que se anda, Teresa? O que se faz se não gastar o tempo com lamúrias? O que se vê? O que não se vê?
Há pouca vida nas vidas que existem lá fora. O que de certa forma torna-se numa preocupação. Olhamos pouco para dentro e esquecemos que a vida é feita de vivências, não de horas passadas. Aquilo que coleciono são memórias vazias num escritório? O dinheiro chega para as contas? É o suficiente? O que não se paga é o cansaço de uma vida cansada.
As escolhas que fazemos são as linhas que formam o desenho da vida. O grande problema é que muitas vezes as linhas são tortas e turvas. Queremos aquilo que nem queremos. Vivemos fartos de viver. Tudo isto para dizer que somos uma geração de enfadados. Não conheço ninguém que não precise urgentemente de uns dias para apreciar o nada. Quando embatemos no nada, não sabemos reagir. Olhamos para ele com a ansiedade de quem é vagabundo. De quem estar a perder.
Estamos tão habituados a ter algo para fazer. Algo para entregar. Uma tarefa para dar check. Sabe aquela agenda infindável? Aquela listinha na porta do frigorífico? O bloquinho em cima da mesa do lado da fruteira? Melhor nem ver. Mais vale nem pegar.
Questiono-me se vai parar. Se o acelerar de tudo a nossa volta representará o retrocesso. Digo isto, por uma simples razão. Quando a passada ultrapassa as pernas a tendência é para o desequilíbrio. Descarrilhamos. Fazemos mais do que aguentamos, assim é fácil desistir da corrida.
Mas quando estamos tão cansados a cabeça não trabalha. O corpo não para. O novo normal é o piloto-automático. Parece ser o traço da nossa geração. A geração que não dorme, filhos dos pais que se alimentam da roda da riqueza. Quanto mais tenho, melhor estou.
Apesar de tudo, guardo fé no futuro. Já vimos que como seres humanos vivemos de tendências. Talvez a próxima tendência seja baseada em namastê e no viver o momento. A trajetória da humanidade tem imensas possibilidades. São nas possibilidades que reside o grande problema. Não se tem o certo, e quando não se tem, são como um grito no vazio. Ecoa em vibrações que não chegam a lado nenhum.
Não queria falar sobre definições abstratas, lógicas distantes, ou até pensamentos demasiado metafóricos. Falo apenas da Dona Clarice ou do Senhor Joaquim que com o pouco que ganha só conhecem mais do mesmo. Sobreviver, trabalhar para sobreviver. Resistir cansados como quem carrega o estofo do mundo. Levantar com o único objetivo de passar o dia. “É mais um dia”. “Já está quase!”
Quantos de nós não deixamos de dormir para mais umas horinhas no trabalho? Trabalho extra que não é pago. O mesmo trabalho que continua sendo romantizado. Como se a remuneração fosse a satisfação do ego de quem faz mais e produz mais. Gastar anos de vida para ter mais, mesmo que sacrifique o pouco que tenho. Mesmo que para isso esqueça um bocadinho de mim.
Nunca vai ser o suficiente. Nunca vai dar para o gasto. Ambição vinda de quem não tem é sede que não se mata. Esta imerso na cultura, enluvado em forma de crenças de uma maneira que nem damos por ela. Apenas replicamos sem questionamentos ou discussões. Até porque discutir cultura vai ser sempre conversa para adultos engravatados.