A era 2000 em “meu grifo próprio” considero o período da decadência do poder da hierarquia familiar em detrimento do poder financeiro. O boom da autonomia financeira nas famílias africanas veio trazer à tona as fragilidades que a hierarquia do poder familiar ostentava no silêncio da fraqueza evolucional dentro da própria estrutura familiar.

Há que destacar o facto de que o poder da hierarquia familiar era visto e tido como a base de desenvolvimento do todo um segmento familiar de todas as gerações garantindo o respeito e a cultura conservadora de gerações passadas.

A voz de comando de um ancião da família era sinónimo de respeito e cordialidade entre as diferentes frentes de lideranças de poder na família. As cerimónias de casamento, tradicionais, fúnebres e de resolução de quaisquer problemas eram comunicadas a todos os integrantes da família a partir do topo a base do poder familiar respeitando toda uma hierarquia de poder e voz de comando, nada era feito sem a voz do comando do líder de poder máximo da família, e havia uma consonância estrutural que alimentava esta hierarquia de poder, até as estruturas do bairro, ou da zona respeitavam e davam corpo a esta hierarquia como primeira instância de poder e de resolução de conflitos nas famílias.

O conhecimento dos anciãos e régulos da comunidade fizeram surgir uma espécie de tribunal comunitário para a resolução de conflitos não só num fórum individual, mas também colectivo. Mas tudo partindo da hierarquia do poder familiar para um campo mais abrangente assim se consumava cada vez a existência e consistência desse poder nas famílias. Um dos maiores pecados deste poder eram os tabus que o suportavam, pois, havia situações de resolução de conflitos que as mulheres e jovens não podiam participar devido a natureza e sensibilidade do assunto que seria tratado na reunião familiar.

Este facto permitiu com a hierarquia de poder familiar não evoluísse ao contento de novos tempos que chegavam a pouco e pouco, a era 2000 tornou-se tumultuosa para a hierarquia de poder familiar africano anunciavam-se os tempos difíceis para este poder, é como se este período se equiparasse a “idade média a época das trevas ou do apagão” de todo manancial epistemológico anterior a hierarquia de poder familiar africano.

Iniciaram os questionamentos sobre os porquês disto e daquilo dentro da hierarquia familiar e da sociedade e as respostas a estes questionamentos eram escassas e os valores culturais e a tradição até então existentes eram postos em causa. O respeito pelo Tio, Avó, Pai, Irmão e Mãe, Padrinho, na hierarquia de poder familiar foram postos a prova, pois, a geração de 2000 é adjectivada como a geração da viragem que veio despojar a autonomia da hierarquia do poder familiar.

Hoje na estrutura da hierarquia de poder familiar em algumas famílias africanas a voz de comando vem de quem detém o poder financeiro, quando surge um problema as famílias até podem reunir-se por antecipação, mas enquanto não chegar quem tem o poder financeiro nada será decidido.

Assiste-se ao declínio da hierarquia de poder nas famílias africanas e consequentemente navegamos numa autêntica crise de valores em que o respeito deixou de ter significado, ser mais velho tornou-se um passado esquecido com as mordomias do poder financeiro vigente. Este teatro desonroso assiste-se em quase todas as famílias africanas, e como consequência teremos uma geração sem legado e desprovida de valores e coberta de um vazio espiritual incomensurável, que ira assombrar sua história por longos períodos.

A crise se instalou a solução está mais distante, pois, esta geração de 2000 está com muita pressa em viver os momentos e o presente, e não construir nada de digno que possa lhe representar no futuro. Cabe aos que ainda detém o código de conduta dos bons tempos, em suas famílias como herança do passado passar o seu testemunho para aqueles que acreditam que possam fazer a diferença nesta sociedade, com esta geração putrefacta, abusiva e vazia de espirito.