A maioria das pessoas modernas costuma ter uma visão naturalista sobre o mundo, rejeitando a existência de fenômenos paranormais no dia a dia. Mesmo pessoas religiosas que acreditam em milagres, de modo geral consideram que eles não são eventos frequentes, mas casos particulares raros.
Humanos não poderiam violar as leis da natureza a seu bel-prazer. Entretanto não foi sempre assim. Durante boa parte da existência humana era considerado auto evidente a possiblidade de interferir na natureza para desregulá-la. A maior parte das culturas humanas possuía mitos sobre a existência de magia, algumas culturas até consideravam um conhecimento acessível ao ser humano e possivelmente benéfico.
Nas sociedades de caçadores coletores (povos com uma economia mais simples, sem agricultura ou pecuária) a crença em feitiços pode desencadear problemas sérios para a comunidade. Como acontece com a maior parte dos povos, os caçadores coletores costumam ser supersticiosos, tratando eventos aleatórios do cotidiano como consequências de maldições lançadas contra eles. O resultado é que pequenos eventos como acidentes ou doenças podem acabar sendo responsabilizados e inimigos serem mortos em vinganças. Algo que pode gerar graves conflitos nessas culturas.
Depois do começo da civilização, a crença na magia se tornou mais importante. Os antigos egípcios acreditavam que os próprios deuses haviam criado a magia como um presente a humanidade. Os Egípcios aceitavam a existência de uma divindade governante da magia: Heka. A magia era usada para tudo, desde ajudar mulheres inférteis a engravidar, até a proteção contra males ou mesmo para amaldiçoar violadores de túmulos.
A religião e a medicina eram práticas que envolviam magia, com os médicos e os sacerdotes sendo capazes de realizar feitiços ou pedir por eles para suas divindades protetoras. Doenças eram causadas por fatores mágicos e se esperava que os sábios invocassem os deuses para salvar a vida do doente.
Os egípcios não estavam sozinhos em suas opiniões. Os Babilônicos acreditavam que os deuses escreviam o destino usando o Céu como mesa, logo, observando os sinais no firmamento deixado pelas estrelas, seria possível prever o futuro, ao registrar os padrões observados nas constelações. O que originou o estudo da Astrologia. Nesta época, já são encontradas as primeiras leis punindo a prática de bruxaria.
A necessidade de considerar os poderes mágicos na hora de tomada de decisões poderia ser um peso muito grande sobre as pessoas. Estrategistas militares muitas vezes abandonavam posições vantajosas na batalha, pois recebiam presságios ruins de que algo não era do agrado do destino. Na Grécia quando se queria saber se determina pessoa estava falando a verdade, era exigido que ela jurasse em nome dos deuses. Pode parecer algo irrelevante, mas os gregos acreditavam que aquele que mentisse sobre juramento seria fulminado diretamente pela divindade ofendida.
Mesmo filósofos levavam as superstições a sério, os estoicos acreditavam que o universo era um todo determinado e regulado, regido pelo logos (razão divina) de Zeus. Como o universo era todo regulado e determinado, significava que métodos de adivinhação poderiam sim pressentir os eventos futuros. O direito romano já tinha sentenças para punir aqueles que usassem magia contra a comunidade.
Os sacerdotes pagãos empregavam a pouca ciência da época para realizar pequenos truques de mágica, enganando o povo a acreditar serem obras dos deuses, esses truques chegaram a ser usados como propaganda em sua luta contra a nascente religião cristã. Os romanos levavam tão a sério o assunto que havia perseguições a acusados de feitiçaria e execuções múltiplas de pessoas condenadas eram comuns no império.
Os egípcios e ocidentais não estavam sozinhos em sua crença na magia. Os japoneses levavam a mágica tão a sério que criaram um departamento do estado especificamente para empregar magos estatais. Eram chamados de Onmyoje, que eram verdadeiros funcionários públicos, para ser um Onmyoje precisava estudar em instituições controladas pelo estado, do qual apenas famílias nobres eram permitias, os magos poderiam fazer cerimonias para afastar doenças, perigos e incêndios, além de preverem o futuro.
Os Onmyoje conheciam a forma pelo qual os espíritos se moviam pelos pontos cardeais e orientavam como os viajantes deviam se locomover pelas estradas para evitar o mal. Ao se construir um novo estabelecimento, os Onmyoje orientavam qual o melhor local de modo a estar na confluência para agradar os deuses das quatro direções.
Do mesmo modo, os chineses costumavam empregar monges taoístas para realizar rituais práticos e mágicos no dia a dia. Era uma crença comum entre os chineses que alguns taoístas pudessem avançar tanto em sua compreensão sobre o funcionamento da força maior subjacente a realidade (o Tao) que alcançassem a imortalidade.
Vários povos antigos atribuíam algum tipo de poder ou conhecimento último da realidade aos sacerdotes e sábios de sua época, como os druidas celtas que podiam prever o futuro e curar doenças. O próprio termo “Magos” se originou de como eram chamados os sacerdotes da religião Persa, que supostamente conheceriam as leis ocultas da natureza. Mesmo em textos budistas era sugerido que o Buda poderia fazer magia, mas renunciava a prática para não ser confundido com ilusionistas.
Antes da época da renascença, o mundo sobrenatural e o mundo material estavam entrelaçados sendo na prática o mesmo. Logo não parecia mais estranho o uso de magia no cotidiano do que seria o uso da ciência e tecnologia no mundo moderno. Videntes eram figuras comuns da sociedade. Qualquer pessoa poderia encontrar um ser sobrenatural em sua vida.
A visão de mundo do cristão feudal era ainda muito próxima da visão mitológica, os cristãos acreditavam que universo era formado de “Andares” com várias esferas concêntricas cobrindo se sucessivamente, o paraíso se encontrava literalmente no nível mais alto, acima dos céus, com Deus e seus anjos habitando-o. O Ar que circunda a terra era tomada por demônios que ocupavam a terra. Abaixo do mundo material existia um inferno, cheio de fogo e enxofre com dragões e serpentes aterrorizando os pecadores.
A alquimia, uma forma primitiva de Química em que ainda não tinham sido descoberta suas leis fundamentais e por isso não se compreendia seus limites, era uma área de interesse grande dos medievais. Os alquimistas acreditavam que poderiam transmutar as características de um material, o que na prática permitiria transformar algo em outra coisa, de preferência um objeto valioso, como metal em ouro. Ou mesmo encontrar uma fórmula para a imortalidade, uma obsessão da raça humana desde seus primórdios.
Apesar do mito popular moderno. Os medievais não acreditavam na existência de bruxas durante a maior parte do período. Os intelectuais medievais entendiam (numa percepção bem similar ao dos psicólogos modernos) que uma pessoa podia acreditar ser uma bruxa, mas não ser uma de fato. Entretanto, o fim da sociedade medieval, cercado de várias crises sociais levou o temor e paranoia da opinião pública a assumir uma posição mais supersticiosa, despertando a caça às bruxas que ceifaria a vida de milhares de pessoas, principalmente mulheres.
O contato com os árabes que possuíam uma vasta literatura estudando a magia tornou os cristãos mais abertos a ideia. São Toma de Aquino escreveu que um demônio poderia ter sexo com homens para roubar seu sêmen e depois fecundar uma mulher. No século 13, a inquisição começa a perseguir bruxas por supostamente se reunirem em sabás presididos pelo Diabo.
O começo da ciência viu ironicamente um crescimento pelo interesse na magia. Vários intelectuais humanistas estudaram as artes místicas como astrologia, alquimia e hermetismo; em busca de compreender melhor a realidade. Mesmo Galileu, Pai da ciência, era interessado pelo assunto, tendo sido parte de uma irmandade chamada “Sociedade dos Linces” que estudava o hermetismo, e Newton dedicou anos da sua vida ao tema, na verdade, o interesse de Newton pelo oculto superava seu trabalho como cientista, o que levou alguns a declararem que “não foi o primeiro homem da era da razão, mas o último dos magos”.
Mesmo depois da era moderna, era comum se acreditar que bruxas, vampiros e lobisomens eram reais, frequentemente apareciam pessoas dizendo terem encontrado o chifre de um Unicórnio no campo, mas não o próprio animal pois é muito raro.
Os estudiosos do tema durante a caça às bruxas desenvolveram a Demonologia, uma suposta ciência dedicada a estudar o sobrenatural. Ainda pouco antes das eras revolucionárias, os europeus acreditavam que os reis europeus teriam o poder de curar doenças simplesmente estendendo suas mãos sobre os necessitados. Mesmo no islã era comum a crenças que líderes religiosos que fossem abençoados por Alá pudessem transmitir sua benção para outras pessoas.
O iluminismo e o avanço da ciência trouxeram um crescente desprezo por crenças místicas. Os filósofos olhavam com ceticismo para as práticas supersticiosas, demandando provas que os crentes não conseguiam fornecer. A ciência estava assumindo o lugar dos conhecimentos ocultos e apresentava resultados mais visíveis e claros. Começava a fazer mais sentido atribuir os males da natureza aos parasitas e fenômenos climáticos do que a demônios e bruxas.
A crença no sobrenatural não desapareceu totalmente, os crentes em tais poderes tentaram adaptar suas doutrinas ao pensamento cientificistas dos novos tempos. No século 19, fascinados pelo mundo sobrenatural tentaram elaborar supostas ciências para vascular a realidade metafisica, o que deu origem a religião espírita de Allan Kardec, em outra empreitada similar feita por homens como Aleister Crowley e Eliphas Levi, foi criada a moderna disciplina do ocultismo. Enquanto Helena Blavatsky formulou a Teosofia que tentava encontrar os segredos últimos da vida e de Deus.
Tal interesse por sobrenatural era tão comum entre os intelectuais, que o lendário escritor Arthur Conan Doyle tentou por anos convencer a sociedade inglesa que existiram fadas no mundo real. Mesmo cientista como o renomado psicólogo americano Willian James possuíam uma forte curiosidade pelo tema, que levou a formação a parapsicologia para buscar supostos eventos sobrenaturais.
No final do século 20, o interesse pelo místico presenciou um ressurgimento; muitos, cansados do mundo racional moderno, começaram a experimentar uma volta a mentalidades alternativas, os hippies da revolução sexual acreditavam que pelo consumo de drogas poderiam entrar em contato com a divindade maior. Mesmo atualmente, o interesse por saberes alternativos como religiosidade pagã e astrologia é forte dentro a população jovem.
O sobrenatural sempre fascinou o ser humano em parte por seu mistério e também por abrir a curiosidade, afinal o que não pode ser compreendido pode assumir qualquer forma que a imaginação das pessoas conseguir conceber. Talvez por isso, mesmo tendo uma relevância marginal na sociedade humana, o assunto tenha sido alvo de atenção muito grande mesmo pelas autoridades e intelectuais.