Julho é o mês quando meu cérebro desperta sinalizando algo bom. Ele me aponta para o final do ano e Natal. A alegria que esquenta meu coração, traz pequenas palpitações para ir em busca de referências antecipadas na escolha das cores, na configuração da casa, nos consertos e manutenções a serem feitos, nas lembranças e presentes para os amigos e no que vamos comer. Onde colocarei a vila de natal, para que não fique todo ano no mesmo lugar. Onde teremos feirinhas com artigos natalinos, se acontecerão cantatas de Natal e se nos reuniremos em algumas casas ao longo de dezembro, para nossas rezas natalinas, se viajaremos ou receberemos.
Parece surreal que pensemos sobre o Natal em julho, mas para mim é um bálsamo.
Esse período me faz pensar que a luz e magia já se anunciam, não importando o quanto a agenda está complexa, os afazeres e administração de meus negócios e família me tomem tempo e ainda o que viveremos nos próximos seis meses, até que o dia vinte e cinco de dezembro seja concreto.
Ainda não entendi e talvez nem queira descobrir o motivo de tanta motivação para esse evento; penso que seja o nascimento do menino jesus ou as luzes que brilham, talvez um perdão coletivo inocentando a todos, pelo ano que escorreu pelas nossas mãos. Ou ainda pela possibilidade mais uma vez de rever e presentear aqueles que amamos, enfim a mistura de tudo isso. O que sei é que sim o Natal me pega de um jeito que traduzo como quentinho na alma, que se faz de esperança, certeza do ano vivido como foi possível e o agradecimento por essa linda experiência terrestre.
A polêmica de que o comércio antecipa o Natal, o julgamento implacável de que as pessoas perderam a paciência de esperar o tempo certo para enfeitar as casas, ou de que tudo isso seja uma ilusão do consumo para aquecimento dos negócios financeiros, me remete a pergunta de quando seria o tal tempo certo. E se for uma redenção por tudo isso, qual seria o problema em prol de um desvio de atenção tão bonito que nos deixa mais aflorados em nossa compaixão, religiosidade e suavidade.
É possível que o universo conspire a favor das pessoas conferindo esse intervalo para o Natal, que o nosso pensamento se aquiete e reelabore as mais monstruosas questões de adoecimento do cotidiano. Uma certa espécie de pausa e verdadeira distração para os pequenos aconchegos, delicadezas, mimos, docilidade, casas arrumadas, organizadas e muitas vezes resetadas. No quesito comportamento as pessoas andam mais devagar, desde que não seja para comprar o presente que faltou. São de alguma forma levadas a simpatizar-se com o próximo quando se dedicam a comprar o presente do amigo X ou ainda iniciam intermináveis dietas quatro meses antes, já pensando nas guloseimas da culinária natalina.
Deveríamos viver longos anos embalados de Natal, com mais brilho, delicadezas, perdões e acolhimento. Evidente que isso não acontece para todos, e alguns se quer comemoram ou se lembram dessa data, seja por cultura, credo, guerra, luto ou desesperança, mas esse não é o nosso foco aqui. Há de se ter inúmeras explicações para tal desencanto com o Natal, mas o assunto merece profundidade e seria irresponsável reduzir a questão sem um entendimento mais adequado.
Aqui falamos das luzes que brilham e que nos encantam “O Natal Luz” como chamamos aqui no Brasil, que são os eventos que acontecem em várias cidades turísticas que se preparam e declaram os eventos abertos por volta de outubro, com árvores imensas, lojinhas enfeitadas, comidas típicas e muitas pessoas transitando entre nossos fictícios trenós, renas e papai Noel.
Tudo isso traz alegria momentânea e esvazia o escuro de nossas dores. É tão sempre abençoado e divertido que nos transporta para um mundo sem fronteiras, porque muito de tudo isso é cultura alheia adaptada. E é nesse período que já me sinto pronta para embebedar-me do Natal, com meu acervo de décadas e coisinhas que vou garimpando aqui e ali. Fico encantada também, independente dos meus medos, lutas, perdas, conflitos e desencantos, vou saboreando o tempo de luz.
Estamos abaixo da linha do equador e por isso não temos um Natal frio e nevoso, nem mesmo lareiras acesas, mas a nossa energia do calor escaldante misturado a árvores com algodão em cada galho que imitam a neve, trazem o clima de Natal. E sabem de uma coisa, não acho feio, piegas e nem imitação barata, é apenas uma tradição de outros povos que reconhecemos com carinho e apropriamos a nossa realidade de forma tão particular.
As luzes de Natal são mágicas por si só, elas trazem dentro de si um brilho diferente, daqueles que encantam, nos fazem chorar e rir ao mesmo tempo, que só o Natal é capaz de revelar. Não sabemos ao certo qual é o pó encantado que há nelas, que poder lhes é atribuído, responsabilidades curativas transmitidas ou ainda esperanças depositadas, mas humanos que somos agradecemos a cada vez que elas se acendem.
Nos vemos já, já!