O grande problema da nossa geração “Millennials”, geração que cresceu no fim dos anos 80 até o início dos anos 2000 foi acreditar que para ser feliz você precisaria trabalhar com aquilo que te fizesse feliz. Uma geração que antes foi considerada ambiciosa, hoje somos fracassadas e azaradas segundo as outras gerações e alguns especialistas. Mas quem será o grande culpado da geração do mimimi?

A minha geração, e provavelmente você que está lendo, cresceu ouvindo que trabalho tem que ser bom pra você, tem que ser prazeroso, divertido e para ser perfeito “não tem que parecer que você está trabalhando”. Crescemos achando que poderíamos ser o que quiséssemos e que poderíamos, sim, ter o trabalho dos nossos sonhos, tendo um equilíbrio perfeito entre vida pessoal e profissional, afinal, não é trabalho se você faz o que ama, não é mesmo?

A nossa expectativa na vida e no mercado de trabalho era altíssima. Sonhávamos com trabalhos divertidos, salários altos, poder de compra elevado, vida pessoal perfeita e uma utopia econômica. O resultado disso não poderia ser diferente: uma geração que se sente completamente fracassada, frustrada e com muitos problemas psicológicos.

Fomos a primeira geração a nos envolver com a tecnologia, o nosso desenvolvimento aconteceu junto com o desenvolvimento da tecnologia, acompanhamos toda a mudança da web 1.0 para 2.0, agora 3.0 e assim em diante. O fluxo de informação é avassalador, o nível de educação dos Millennials em comparação com as gerações passadas é muito maior, assim como, a composição social é muito mais diversificada. Porém, diversas pesquisas internacionais, como uma publicada pelo Deloitte Insights em 2015, revelou que os millenials — que podem variar dos 26 até os 40 e poucos anos — são mais propensos a terem dívidas, levam mais tempo para sair da casa dos pais, assim como, mais tempo para conquistar alguns marcos da vida adulta como casa própria, carro, casamento e filhos.

A grande tendência dessa geração é descobrir como ganhar dinheiro sem esforço, e pra isso vale tudo, desde jogos de apostas online, profissão influencer, publicidade enganadora, cortes virais, cultura do cancelamento, coaches, mentorias, mercado do marketing digital, pornografia online e tudo isso com o propósito de fazer você alcançar o seu “primeiro milhão” , aliado com o lema de que trabalho bom não tem que parecer trabalho. Não foi uma, nem duas vezes em que vi conhecidos meus pedindo dinheiro na internet para algum projeto pessoal, onde as pessoas podem “ajudar” umas as outras comprando uma rifa online ou mesmo uma “vaquinha online” onde é possível depositar dinheiro para uma conta e quem recebe faz com ele o que bem entender. Talvez esse movimento desesperado em busca de sucesso profissional se resume à uma cultura centrada no capitalismo e egocentrismo.

Absolutamente tudo é descartável, tudo pode ser comercializado e o centro disso tudo é o consumo desenfreado de tudo. Onde a vida, rotina, conquistas pessoais, absolutamente tudo é transformado em consumo e conteúdo. Não existe mais um limite para o que é privado ou não, absolutamente TUDO, repito TUDO pode e é muitas vezes transformado em conteúdo, na esperança de um desses vídeos se tornar viral e você ter uns 10 segundos de fama, massagear um ego que nem sabe o motivo pelo que o vídeo foi viral, mas depois disso, a pessoa acredita que até tem uma chance nessa bolha virtual.

Recentemente, vi um vídeo de uma influencer muito famosa no Brasil, que fechou um andar inteiro do hospital onde deu à luz ao seu terceiro filho, não satisfeita, a cobertura do parto foi em tempo real, e em menos de 24h após seu filho ter nascido, ela foi para as redes sociais fazer dancinha, com um recém-nascido no colo, divulgar joguinho de aposta online. A minha opinião à essa altura desse artigo, já é um pouco clara, que além de eu achar um completo absurdo, atitudes como a descrita acima, é um desrespeito ao ser humano, uma perda de valores morais e éticos que dificilmente podem ser reconquistados.

Uma reportagem do jornal The Washington em Junho de 2020, apontou os Millennials como a geração mais “azarada” da história dos Estados Unidos, um trecho da matéria diz que "Levando-se em conta a crise atual (da pandemia de covid-19), o millennial, em média, vivenciou crescimento econômico mais lento desde sua entrada no mercado de trabalho do que qualquer outra geração na história do país". Alguns especialistas dizem que o “fracasso” ou o que eu prefiro chamar de insucesso, dessa geração, é a economia.

Levando em consideração o cenário brasileiro, segundo uma reportagem da BBC News, uma pesquisa feita em 2019 do banco Itaú BBA em relação aos hábitos dos millennials, apontava que eles (nós) já eram a maior parcela da população do Brasil e cerca de 50% da força de trabalho. Acreditavam que poderiam realmente melhorar o mundo e com maiores níveis de educação, mais da metade já havia completado o ensino médio, cursava a universidade ou já tinham um curso superior completo. Porém, mesmo assim, a taxa de desemprego entre eles, já era bastante alta, principalmente entre os mais jovens. Durante a pandemia, a geração mais afetada pela falta de trabalho também foi essa, pessoas na faixa etária de 25 a 39 anos. Grupo esse que coincide com a faixa etária que já havia sido atingida pela crise econômica de 2015.

A insegurança profissional é um marco da minha geração, jovens já não querem se comprometer a ficarem anos e anos na mesma empresa, no mesmo tipo de trabalho, já não se importam muito com os benefícios às vezes propostos pelas empresas que estão dispostas a contratá-los, pois esses benefícios eram indispensáveis para a geração anterior, como plano de saúde, segurança e estabilidade profissional, progressão de carreira. Quando, para essa geração, o que realmente é importante é a quantidade de tempo livre disponível, saúde mental, possibilidade de horários mais flexíveis, homeoffice e entre outros, eu acredito que grande parte desses novos valores estão certos e são coerentes com o mundo em que vivemos hoje.

Mas, por outro lado, existe um sentimento de “falsa liberdade” e uma crença de que “eu posso criar minha própria carreira, não dependo do meu empregador, não preciso fazer o que eu não gosto, não trabalho com serviços x ou y…”. Desde que o mundo é mundo, trabalho sempre foi difícil, nunca foi fácil prosperar na vida e conquistar as coisas, e uma geração que cresce com a ilusão de você precisa trabalhar com que você gosta para ser feliz, de que tem que trabalhar somente com aquilo que se ama, é um grande problema.

Acreditar que a única forma de sermos felizes é termos um emprego dos sonhos é como negar a nossa própria natureza humana. Durante toda a história da humanidade, os homens fizeram que era preciso ser feito, independente da dor e sofrimento, são essas situações que nos fazem fortes e solidificam os nossos valores. Numa sociedade onde só fazemos o que nos convém, deixamos de lado o pensamento coletivo e empático que guiou toda a humanidade, nosso senso de coletividade e cooperação que nos fez evoluir até os dias atuais.

Um sentimento de egocentrismo coletivo faz com que uma geração inteira se vitimize e procure culpados pelo seu próprio fracasso. Onde tudo é motivo de alguém se sentir ofendido, a opinião do outro é muitas invalidada só por ser diferente, onde a intolerância por opiniões políticas ou religiosas virou uma guerra e é impossível ter um debate construtivo ou uma conversa onde nenhum dos lados é capaz de ouvir ou abrir mão de algum de seus argumentos.

Uma sociedade muito preocupada com o rei da sua própria barriga que esqueceu que vivemos ainda em um mundo que é composto por diversos indivíduos, que são diferentes entre si, e se vitimizar o tempo inteiro não ajuda em nada a evolução, onde o dinheiro está acima de qualquer valor e moral, é uma sociedade fracassa por si própria. Esse isolamento de responsabilidades nos distancia do senso de coletividade e empatia que sempre nos guiou.

Os millennials foram impactados por uma confluência de fatores: economia instável, expectativas irrealistas e um avanço tecnológico que transformou a vida pessoal em conteúdo. No entanto, culpar exclusivamente esses fatores seria simplista. Talvez o verdadeiro desafio da nossa geração seja reencontrar o equilíbrio entre individualidade e coletividade, reconhecendo que nem tudo na vida precisa ser extraordinário para ser significativo. Trabalhar com propósito e resgatar o senso de cooperação podem ser os caminhos para um futuro mais estável e conectado no offline.