Este ano, tive a oportunidade de participar de mais uma Bienal do Livro, onde diversos autores divulgaram suas obras. Entre eles, estava Elayne Baeta, autora do best seller O Amor Não é Óbvio, que, por acaso, é um dos livros preferidos da minha namorada.

Ficar no meio de uma multidão de adolescentes animados enquanto Elayne falava pode não ser o que muitos considerariam uma atividade típica para o sábado à noite, mas essa experiência me revelou algo profundo: é incrível ver como a literatura sáfica tem sido cada vez mais aclamada e como ela tem o poder de transformar vidas.

Se me perguntassem qual foi o primeiro livro sáfico que li, não sei se saberia responder com precisão. No entanto, O Amor Não é Óbvio está entre os primeiros, e, para aqueles que não conhecem o termo, sáfico se refere a obras que tratam do amor entre mulheres, incluindo também pessoas trans. Dos quase 20 livros que minha namorada e eu adquirimos juntas na Bienal, mais da metade são desse gênero. E posso dizer que a sensação que essas leituras me proporcionam é indescritível.

Ler sobre as angústias e as jornadas de autodescoberta de personagens que vivenciam experiências semelhantes às minhas traz um sentimento de familiaridade, como um abraço acolhedor. É como se, finalmente, eu estivesse encontrando algo que sempre busquei. Significa, também, que está tudo bem não ter se identificado com tantos filmes, desenhos e livros que consumi durante a infância e adolescência.

Descobrir a literatura sáfica foi como encontrar um tesouro há muito escondido.

Por isso, ver Elayne novamente, dessa vez na Flip, ao lado de nomes como Carla Madeira, foi extremamente significativo. Claro, ainda há um longo caminho a percorrer até que o mundo compreenda plenamente a importância da representatividade sáfica, mas os avanços que já estamos vendo são inspiradores.

A literatura sáfica e sua relevância no mercado editorial

Para além da questão da representatividade, a literatura sáfica tem um impacto profundo na formação de leitores e leitoras. Para muitos, especialmente jovens que estão em processo de autodescoberta, esses livros são uma fonte de apoio e validação. A adolescência, que já é um período repleto de desafios, pode ser ainda mais complexa para quem não se sente representado nas narrativas tradicionais.

Ter acesso a histórias onde o amor entre mulheres ou entre pessoas LGBTQIA+ é tratado com naturalidade e respeito pode ser um fator decisivo na vida de muitos jovens. A literatura sáfica não apenas oferece histórias de amor, mas também aborda questões como preconceito, aceitação e identidade de uma forma que permite aos leitores encontrar respostas e conforto.

Lembro-me claramente da primeira vez que minha namorada e eu conversamos sobre o impacto que esses livros tiveram em nossas vidas. Para ela, assim como para mim, a literatura sáfica foi uma descoberta libertadora. Ao ler sobre personagens que passaram por dilemas semelhantes aos nossos, sentimos que não estávamos mais sozinhas. As angústias e as dúvidas que antes pareciam isoladas agora faziam parte de um diálogo mais amplo.

O crescimento da literatura sáfica é um indicativo de que há uma demanda por histórias mais diversas e inclusivas. À medida que o mercado editorial se adapta a essa nova realidade, o desafio será garantir que essa representatividade não se limite a um nicho, mas se expanda para todos os gêneros literários e alcance ainda mais leitores.

Além disso, é essencial que as editoras continuem investindo em autoras e autores que tragam essas histórias para o centro do debate literário. O mercado editorial tem um papel fundamental na promoção da diversidade, e ao ampliar o espaço para narrativas sáficas, contribui para um cenário cultural mais plural e inclusivo.

Estamos apenas no começo de uma mudança muito maior, mas cada passo em direção à visibilidade e ao reconhecimento das histórias sáficas é uma vitória. E, quem sabe, em um futuro próximo, poderemos ver cada vez mais essas histórias ocupando as estantes, as prateleiras das livrarias e, o mais importante, os corações dos leitores.