A palavra “Arcano” significa “segredo, mistério”. Os 22 Arcanos Maiores do Tarot escondem os mais profundos segredos da natureza humana, as respostas para cada ser humano, mensagens simbólicas, micro e macrocósmicas.

O Tarot é um dos espelhos do pensamento inconsciente. Cada uma de suas cartas tem por base uma importante imagem arquetípica. Os arquétipos são mensagens do inconsciente e cada Arcano proporciona viagens oníricas que vão no sentido do autoconhecimento e evolução da consciência. Cada Arcano é como um gragamento de uma história mágica!

Por sua vez, Os Contos de Fadas, tal como o Tarot, fazem parte da humanidade há séculos; são grandes maestros da vida e fazem-nos experienciar emoções e vivências e saberes ocultos que conseguimos abrir com a imaginação que aqueles desencadeiam ao serem lidos...Tal como o tarot, também a literatura tem uma função curativa, terapêutica e, por isso, a empatia muitas vezes com os herois e heroínas dos contos.

No caso particular do Conto de Aladino, um feiticeiro engana o jovem Aladino e leva-o a descer às profundezas da Terra para recuperar uma lâmpada mágica. Apesar das intenções maléficas do feiticeiro, Aladino consegue escapar, com a ajuda do génio da lâmpada e tem uma vida tranquila até ser encontrado pelo feiticeiro! Todavia, a sua tentativa de vingança é contrariada por Aladino que envenena o vinho do feiticeiro, livrando-se dele com sucesso e obtendo a paz desejada.

Aladino é salvo pelo vinho, a bebida sagrada de Dionísio, deus da Natureza, da fertilidade, do êxtase e da fantasia...

O Arcano associado a tudo isto é o Mago, o I Arcano do Tarot de Marselha, que simboliza a capacidade de aproveitar o poder da manifestação criativa, da força de vontade e do conhecimento para concretizar os desejos, superar os obstáculos e alcançar os sonhos.

O Mago representa a energia criativa, activa e que tem ao seu dispôr Fogo, Terra, Ar e Água, os 4 elementos que ele próprio consegue conjugar e fazer emergir num 5º elemento. O corpo. O Mago transforma, é a metamorfose, por excelência. Ele supera-se a si mesmo e torna-se um deus de trazer por casa, capaz de criar.

Aladino torna-se Mago e tal como Aladino, o Mago, nós também teremos que o Ser na vida real se quisermos transformar as nossas vidas!

A ficção é lúdica tal como as peças de Lego que nos permitem efectuar e estruturar diferentes experiências de construção, mas este facto pode conduzir-nos a uma ambiguidade; a uma textura híbrida no momento presente, como nos relembra Eco: “Mas se a actividade narrativa está tão estreitamente ligada à nossa vida quotidiana, não poderá acontecer interpretarmos a vida como ficção e introduzirmos elementos ficcionais quando interpretamos a realidade?” (Eco, 1995).

Não é possível desligarmo-nos da “função adesiva” da memória, do modo como funcionamos, porque damos crédito ou não a histórias anteriores, a histórias da vida privada ou pública, até às histórias que a própria História nos narrou até hoje. Apoiamo-nos num contador X e numa história T e fazemos rosários de memórias individuais e colectivas, tomando essas contas com a vida como promessas de imortalidade, que nos libertarão da lei da morte afirmando “e assim rezava a história”.

A ficção transborda para a vida real como a origem ou resultado de uma acção transborda da Palavra (Platão, Crátilo), até que um dia a palavra ficção deixe de fazer sentido. De qualquer modo continuamos no plano da interpretação de si, a qual para Ricoeur vai encontrar na própria narrativa, uma mediação privilegiada, até porque considerações éticas estão implicadas na própria estrutura do acto de narrar (Cf. Ricoeur, 1991).

Para este autor (1990), é a narrativa que constrói a identidade da personagem, que podemos chamar identidade narrativa; logo, será a identidade da história que faz a identidade da personagem e é exactamente neste ponto que o conceito de imaginação se torna pertinente. “To imagine something is to think of a possibly being so” (White, 1990); diz-nos este autor, para quem a capacidade de imaginar permite uma flexibilidade que pode revigorar todas as funções mentais, tornando-se um instrumento vital em termos pedagógico-éticos.

Comparações e perguntas em que o advérbio de comparação surge: – Ele faz como eu? Então, em última instância, é a nossa maneira de ver a vida que está em causa. Por isso e como sublinha Ricoeur (1991) “a narração nunca é eticamente neutra, mostra-se como o primeiro laboratório do julgamento moral”. Trata-se de uma feliz imagem ricoeuriana, que nos permite perceber que o racional e o sensível se sobrepôem neste processo: o objectivo subjectiviza-se e o subjectivo objectiviza-se, na e pela linguagem.

Deste modo, a arte literária afigura-se, por excelência, como palco laboratorial para experiências de pensamento onde variações imaginativas proliferam. São essas experiências de pensamento, suscitadas pela ficção, com todas as implicações éticas, que contribuem para o exame de si mesmo no quotidiano. Estética e ética tornam-se indissociáveis na arte de narrar, que é uma arte que corresponde a uma troca de experiências.

Tanto assim, diz-nos Ricoeur, que, muitas vezes, “o prazer que temos ao seguir o destino de uma personagem relaciona-se com o prazer em explorar novas maneiras de avaliar acções e personagens” (Ricoeur,1986).

Logo, não é de estranhar que, por vezes, o interpretar do texto da acção coincida com a interpretação do agente que se interpreta a si próprio.Assim, os leitores poderão sempre escolher entre voltarem-se para a sua própria experiência de vida ou para o conhecimento que têm de outras histórias... Seja como for, esta interpretação-avaliação favorece sempre o auto-conhecimento e evolução de consciência do sujeito!