Etimologicamente, ler (do latim, legere) significa ‘colher’, ‘recolher’, ‘tirar’. A relação de quem lê com o que lê é a de colher algo do texto. Como se colhe da terra o alimento que nos sustenta, que permite que nosso corpo funcione e se desenvolva; do texto, colhe-se o alimento que nos possibilita o desenvolvimento intelectual. A leitura é o alimento da mente; sem ela nosso desenvolvimento intelectual é prejudicado.

Ler é um processo de interação entre leitor e autor mediado pelo texto. Há um leitor virtual inscrito no texto, constituído no próprio ato da escrita; trata-se do leitor presumido, aquele que o autor imagina para seu texto e para quem se dirige, que tanto pode ser seu cúmplice quanto seu adversário. Assim, quando o leitor real, aquele que lê o texto, apropria-se do texto, já encontra um leitor aí constituído com o qual ele tem de se relacionar necessariamente. Jean Foucambert afirma que “ser leitor é saber o que se passa na cabeça do outro para compreender melhor o que se passa na nossa”.

Por outro lado, não há autor onipotente, na medida em que ele não consegue controlar as leituras que leitores reais farão de seu texto; como não há um leitor onisciente que domine as múltiplas determinações de sentido que jogam num processo de leitura.

Ler é fazer perguntas ao texto e a si mesmo, formular hipóteses, que podem ou não se confirmar, confrontar as informações que o texto apresenta com as que possuíamos anteriormente, estabelecendo comparações, preenchendo lacunas, fazendo inferências. Michel de Certeau, em A invenção do cotidiano, diz que o leitor é o caçador que percorre terras alheias.

Uma das características da sociedade moderna é a busca da rapidez. Prega-se o ideal de que é sempre bom fazer as coisas no menor tempo possível, afinal tempo é dinheiro. Vejam a popularização dos chamados restaurantes fast-foods. A publicidade nos incentiva a agir rapidamente. Somos bombardeados o tempo todo por frases como seja o primeiro a adquirir, os cinco primeiros que ligarem ganharão um brinde exclusivo, não deixe para depois, compre agora, ligue já!

Todos sabemos as consequências daquilo que fazemos com pressa: a alimentação dos fast-foods gera uma sociedade de pessoas com problemas de saúde; as compras por impulso normalmente vêm seguidas de arrependimento.

Tenho notado que, em decorrência desse culto à rapidez, desse querer aproveitar o tempo o mais que se pode, muitas pessoas simplesmente não leem (afinal ler demanda tempo), ou quando leem o fazem apressadamente. Um texto de mais de 10 linhas nas redes sociais está condenado a não ser lido porque toma muito tempo do internauta.

Nietzsche dizia que o bom leitor é o leitor bovino, aquele que lê ruminando o texto. Isso é verdade. A compreensão do que se lê nem sempre é imediata, por isso tem de se ir ao texto com paciência, sem pressa, ler, reler, deixar o texto falar, conversar com texto. Enfim, ler bovinamente é algo que pais devem ensinar a seus filhos e professores, a seus alunos.

Outro ponto importante é que se deve ter em mente o objetivo que guia a leitura. Temos de ter bem clara a razão por que estamos lendo, pois a interpretação do que se lê está relacionada em grande parte ao que se pretende com a leitura. São vários os objetivos da leitura. Destaco alguns:

  • Ler para buscar uma informação precisa, um número de telefone, um endereço, o significado de uma palavra no dicionário, em que cinema está passando determinado filme, por exemplo. Quando lemos com esse objetivo, podemos desprezar outras informações presentes no texto.

  • Ler para seguir instruções de como executar algo, por exemplo, saber como instalar um computador, como configurar um aplicativo, como preparar um alimento.

  • Ler para obter uma informação de caráter geral, por exemplo, verificar do que o texto trata e decidir se vale a pena ou não continuar lendo.

  • Ler para revisar um texto que se escreveu; pois, em diversas situações, a autorrevisão dos próprios textos escritos é imprescindível.

  • Ler para comunicar um texto a um auditório. Nesse caso, o leitor só poderá fazê-lo se tiver anteriormente compreendido o texto.

  • Ler para verificar o que se compreendeu. Essa atividade está presente na escola. O fato de os alunos responderem corretamente a perguntas sobre o texto lido não significa necessariamente que tenha havido compreensão. Pesquisas mostram que é possível responder a perguntas sobre um texto sem tê-lo compreendido globalmente.

  • Ler para aprender. A finalidade consiste em ampliar os conhecimentos de que dispomos a partir da leitura de um texto determinado. Quando se lê para aprender, é comum – e de grande ajuda – elaborar resumos e esquemas sobre o que foi lido, anotar todas as dúvidas etc.

  • Ler por prazer.