Mas será que um discurso, por mais memorável que seja, pode mudar a história? A tendência é achar que não. Ao refletir sobre o ritmo impetuoso da história da civilização, as batalhas e revoluções, as marchas e as migrações, as reviravoltas económicas, seria fácil concluir que forças históricas são demasiado vastas e poderosas para se sujeitar à influência de qualquer pessoa isolada e menos ainda de um único discurso. Pode-se argumentar que, em séculos passados, os cronistas antiquados, com seu foco em indivíduos, não tinham uma visão suficientemente abrangente.
E se o oposto for verdadeiro? Falar em termos de “nações” e de “forças sociais”, de “normas culturais arraigadas” e de “mudanças demográficas” desconsidera o fato de que a história não é forjada por abstrações, e sim por pessoas – pessoas com ambições, sentimentos, desejos e, acima de tudo, ideias. Quando ignoramos a dimensão humana da história, não apreendemos o panorama por completo.
[…]
Há ocasiões em que um discurso transmite uma mensagem importante. Nehru anunciou o nascimento da Índia como um “encontro com o destino”. Macmillan assinalou o fim do imperialismo quando falou sobre os “ventos da mudança”. Quando Malcolm X falou sobre “o voto ou a bala”, isso foi uma advertência para os inimigos dos direitos civis.

(Ferdie Addis)

No texto anterior referi-me a frases que marcaram a História e a grandes discursos da História. Frases e discursos cujas força e impacto derivam do recurso ao sonho, variando este entre o ideal utópico e o possível.

A brevidade, a profundidade, a expressão de uma filosofia da existência e/ou da convivialidade informam as mais marcantes, como os Mandamentos das religiões abraâmicas (originalmente enunciados em Êxodo 20:1–17 e, em nova apresentação, no Deuteronómio 5:5–21), codificação de preceitos de vida comunitária que variam em número, ordem e modo de aplicação de acordo com as diversas tradições, ainda que tendam a ser reconhecidos como Decálogo, que Jesus reduz à fundamental "Lei de Deus do amor a Deus e ao próximo" (Mt 22:37–40). São proibições retoricamente elaboradas para serem facilmente memorizáveis. As sociedades juntar-lhes-ão regulamentos diversos da vida pela afirmação positiva. Mas esse é assunto complexo que aqui não me ocupará...

Voltemos aos discursos. Qualquer um de nós vai recordando ou ouvindo evocar frases, expressões e, mesmo, discursos, face aos que nos invadem o quotidiano através dos media, seja pelo contraste que nos oferecem, seja pelo modo como os oradores mais eficazes parecem inspirar-se em discursos anteriores cujos efeitos, constatados, desejam capitalizar para os seus.

Mas, como questiona Ferdie Addis em epígrafe, será que essa importância se concretiza em alterações do curso da História? Na verdade, é fácil encará-los como momentos representativos de mudanças no sentido da História, como o faz Marco Antonio Villano no seu A história em discursos (2018), mas mais difícil será encontrar genuínos operadores de mudança, como defende Ferdie Addis no título do seu Discursos que mudaram a História (2011).

Apesar de raros, indicarei 2 casos em que o discurso mudou o rumo da história, um factual (embora esculpido pela ficção) e um ficcional.

E terminarei como comecei no texto anterior, reduzindo a dimensão do observado: expressões/slogans cujos efeitos se têm repercutido na História, influindo em comportamentos, senão em factos mesmo… Do discurso à expressão, do diálogo à palavra, do comércio à política.

Discursos que mudaram o curso da história

Na vida, como na ficção, assumida ou que elabora aquela…

O caso mais célebre: discurso de Marco António, após o homicídio de César

Este discurso inverteu a relação de forças em confronto político num golpe de estado apoiado pela população (Júlio César vs. conspiradores). Foi essa eficácia inequívoca que o constituiu no exemplo mais célebre da eficácia oratória. Na peça Júlio César (acto III, cena 2), de Shakespeare, encontramos uma das mais célebres “reconstituições” dessa intervenção.

O assassinato de César tinha sido anunciado por um vidente para os Idos de Março (74º dia do calendário romano, correspondente a 15 de março), como aconteceu, promovido por uma conspiração de 60 liderada por Brutus. Cena que nos recorda o espanto cristalizado no comentário final de César:

Até tu, Brutus?...

Depois do assassinato de César (44 a.C.), Brutus, contrariando Cássio e Cícero, concordou que César deveria ter as exéquias tradicionais, com o habitual elogio fúnebre feito por Marco António.

Na ocasião, o discurso de Marco António foi uma peça argumentativa de tal forma elaborada que levantou a população, inicialmente relutante em ouvi-lo, contra os conspiradores que tinham aplaudido antes, num movimento que acabou por conduzir à Batalha de Filipos (42 a. C.), onde a facção revoltosa foi derrotada pela de Marco António e dos seus, que assumiram o poder.

No filme Júlio César (1953), de Joseph L. Mankiewicz, Marlon Brando encena o discurso dando sinais claros da dissimulação que, a partir de determinado momento, se desfaz para galvanizar a massa popular. Discurso e representação são duas peças retóricas impressionantes.

Hoje, esse discurso “reconstituído” por Shakespeare é peça de análise obrigatória nas aulas de Retórica…

Scent of a Woman/Perfume de Mulher (1992)

Produzido e dirigido por Martin Brest, e protagonizado por Al Pacino como Frank e Chris O'Donnell como Charlie, conta um episódio de vida e da relação entre Charlie, um estudante pobre e íntegro que tem de trabalhar para estudar, e Frank, um oficial do Exército cego, revoltado e de difícil trato. Trata-se de um remake de Profumo di donna (1979), de Dino Risi de 1974, protagonizado por Vittorio Gassman. Na origem de ambos os filmes está o romance Il buio e il miele (1969), de Giovanni Arpino.

Ao longo de um fim-de-semana, o jovem e o oficial vão-se identificando progressivamente a ponto de se admirarem e reconhecerem que cada um deles é uma espécie de alter ego do outro no tempo: cada um consubstancia os sinais identitários de integridade, coragem e solidariedade que os plasma um no outro, apoiando-se mutuamente. Uma espécie de “Retrato de um homem quando Jovem/Velho”, para recorrer a um título de James Joyce (Retrato de um Artista quando Jovem,1916).

Dois episódios promovem a mudança na vida de ambos: o de uma tentativa de suicídio de Frank (planeada para esse fim-de-semana) e o do tribunal académico que julga Charlie. No primeiro, Charlie arrisca a vida para evitar o suicídio e convencer Frank a desistir dele. No segundo, Frank assume a defesa de Charlie de um modo que põe em confronto dois códigos de valor (o académico e o militar) em função da vida real, vencendo e desmontando um processo viciado à partida pelo director da escola.

Qualquer dos episódios merece e tem tido uma análise retórica da comunicação em crescendo emocional até ao anti-clímax final.

Frases & slogans mobilizadores

Do marketing à política, os casos são imensos, mas ater-me-ei a um de cada…

Um slogan que rendeu…

Em 1947, a empresa De Beers, produtora de diamantes, lançou o sloganA diamond is forever.” Criado pela NW Ayer, a agência de publicidade mais importante dos EUA na altura. Foi o slogan mais marcante e resistente do séc. XX, segundo a Advertising Age, contrariando o desinteresse pelos diamantes que começara a manifestar-se e instituindo-os como obrigatórios nos anéis de noivado já na década de 1950.

Sob esse signo de “eternidade”, os diamantes encontraram a sua apoteose cinematográfica no 007 - Diamonds Are Forever (1971), com Sean Connery, dirigido por Guy Hamilton, baseado no romance homónimo de Ian Fleming, e com a banda sonora dominada pela canção do mesmo nome entoada por Shirley Bassey, filme que, já no séc. XXI, o vilão de 007-Die another day (2002) citará a Pierce Brosnan-007 em despedida. E, em 007 - Casino Royale (2006), de Martin Campbell, um colar de diamantes brilha em Eva Green.

Mas, na verdade, os diamantes invadiram o cinema. Gentlemen Prefer Blondes (1953), dirigido por Howard Hawks, com Marilyn Monroe e Jane Russell, além das cenas evidenciando a joalharia, põe Marilyn Monroe a cantar Diamonds are Girls’s best Friends, referindo as marcas de casas de diamantes (Tiffany’s, Cartier, Black Star, Frost, Gorham e Harry Winston). O roubo ou o tráfico de diamantes dominam o mundo cinematográfico: To catch a thief/Ladrão de casaca (1955), dirigido por Alfred Hitchcock, com Cary Grant, Grace Kelly, The Pink Panther (1963), onde o famoso diamante Pink Panther é roubado, The Thomas Crown Affair (1999, remake de filme de 1968), de John McTiernan, Snatch (2000), de Guy Ritchie, Ocean's Eleven (2001), de Steven Soderbergh, Heist (2001), de David Mamet, The Italian Job (2003), dirigido por F. Gary Gray, remake do homónimo realizado por Peter Collinson (1969), After the Sunset (2004), de Brett Ratner, Blood Diamond (2006), de Edward Zwick, Flawless (2007), de Michael Radford, The Bling Ring (2013), etc.

Audrey Hepburn foi eternizada com seu colar de pérolas e diamantes em Breakfast at Tiffany’s/Boneca de Luxo (1961) exactamente diante da montra da Tiffany’s, Júlia Roberts ostentou-os iconicamente em Pretty Woman/Uma Linda Mulher. (1990) e o The Heart of Ocean adornou inesquecivelmente o pescoço de Kate Winslet/Rose em Titanic (1997) e uma cópia sua foi exibida por Celine Dion na gala dos óscares de 1998 para cantar My Heart Will Go On, sendo depois vendida em leilão de beneficência para o "Diana, Princess of Wales Memorial Fund e Southern California´s Aid For Aids".

No séc. XXI, Nicole Kidman usa um colar de diamantes longamente focado em Moulin Rouge! (2001) e Kate Hudson, em How to Lose a Guy in 10 Days (2003), usa um colar de diamantes amarelos que se tornou bastante famoso. E eles chegam a expandir-se no écran, envolvendo inteiramente a personagem feminina: em The Bodyguard (1992), Whitney Houston usa um inesquecível vestido com diamantes evocador do célebre vestido de seda com 2.500 cristais que Marilyn Monroe usara na festa de aniversário de John F. Kennedy (1962, no Madison Square Garden) e que recentemente Kim Kardashian envergou no Met Gala de 2022.

O projecto de impor os diamantes, para além do glamour e do luso, na moldura do romance levou a forte investimento no chamado star system da indústria cinematográfica. Bastaria lembrar os imensos da colecção do par Elizabeth Taylor e Richard Burton, pontuando as suas zangas e reconciliações, colecção onde avulta o célebre Diamante Taylor-Burton, de 68 quilates, famoso em 1969 quando adquirido por eles. Ao fundo, sem romance, mas com um valor imenso, cintilam muitos famosos: o “Jubileu de Ouro”, o maior diamante polido do mundo, descoberto em 1986, de 545 quilates que o Rei da Tailândia ostentou no Jubileu de Ouro da sua coroação (1997); o “Centenário” (de 599 quilates, descoberto em 1988) celebratório do centésimo aniversário da De Beers; o “Hope”, de 45,52 quilates cravejado como um pingente com 16 diamantes brancos…

Enfim, suspendo-me sob pena de ficar submersa em diamantes como, na BD, o Tio Patinhas no dinheiro…

Uma expressão que se impôs: MAGA, MEGA, MIGA…

Eis um slogan político hoje na espuma dos dias: "Make America Great Again" (MAGA) Trump reclama tê-lo cunhado em 2014, colou-o a si, ritmou e iconografou com ele as campanhas, as vitórias e repete-o à exaustão.

Mas o slogan capitaliza longuíssimo uso. Vejamos alguns momentos do seu itinerário.

É resposta inequívoca a Martin Luther King, que colocou a questão sobre “se a América está destinada a ser uma grande nação” no seu célebre discurso de 28 de agosto de 1963, no Lincoln Memorial em Washington, D.C.:

I Have a Dream
[…]
Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho de que um dia todo vale será enaltecido, toda colina e montanha serão rebaixadas, os lugares acidentados serão aplainados e os lugares tortos serão endireitados; “e a glória do Senhor será revelada e todos os seres a verão juntos”.
Essa é a nossa esperança, e é com essa fé que eu volto para o Sul.
[…]
E se a América está destinada a ser uma grande nação, isso concretizar-se-á. […]”

Mas o slogan acrescenta ao dubitativo a convicção, a ideia de uma história de superação, de restauração de uma Idade de Ouro: “again”, implicando ocorrência anterior, faz confiar na possibilidade da sua renovação e sublinha a unidade comunitária mobilizada pela esperança do viável, não pelo vão desejo.

A capacidade mobilizadora das massas foi demonstrada por diversos líderes, particularmente em fases de crise, de sentimento de decadência ou de revolta. Lembremos alguns.

Em fevereiro de 1940, Hitler enunciou como um dos imperativos de seu movimento político: would make Germany great again (tradução).

Em 1950, num discurso eleitoral no Reino Unido, a jovem Margaret H. Roberts (depois, conhecida como Margaret Thatcher) afirmou ser seu objetivo "tornar a Grã-Bretanha grande novamente" e ser a altura de o fazer e, em 14 de junho de 1982, após anunciar um cessar-fogo nas Malvinas, juntou-se a uma multidão de ingleses a cantar Britannia Rules the Waves à porta de casa e afirmou The Great Britain is Great Again!. E James Cameron afirmou num discurso no Parlamento que "the Iron Lady made the country great again" , do mesmo modo que Andrew R.T. Davies disse, aquando da sua morte: “Margaret Thatcher put the great back into Great Britain" .

Nos EUA, diversos foram os contextos de recurso a esse slogan com variantes diversas e em muitas áreas (arte, publicidade, murais, moda, literatura, cinema, música, videojogos, etc.), mas seria fastidioso enumerá-las, passando apenas às mais recentes e destacadas ocorrências políticas.

Em 1980, na sua campanha presidencial, Ronald Reagan assume o slogan com sucesso ("Let's Make America Great Again") , justificando uma obra sobre o seu exercício com esse título (President Ronald Reagan: Let's Make America Great Again!, 2013, de Hal Moroz). E, nessa mesma década, também George H.W. Bush o usou

Bill Clinton usou-o também durante sua campanha presidencial de 1992 e no apoio à da sua esposa, Hillary Clinton, em 2008, que reformulou a palavra de ordem (“I don’t think we have to make America great. I think we have to make America greater.”).

Trump usou-o massificadamente nas suas sucessivas campanhas presidenciais (2016,2020, 2024) e pôs em causa o seu uso por quaisquer outros (p. ex., Ted Cruz, senador do Texas, quando anunciou a sua candidatura presidencial), mas já em 2011 publicara um livro com ela subtintulado Making America #1 Again, cuja reedição de 2015 teve a variante Make America Great Again! (ao longo do tempo, o slogan teve variantes, como Keep America Great, mas esta foi a fórmula definitiva). Em 19 de janeiro de 2017, Donald Trump, já eleito, e Melania visitaram o Lincoln Memorial antes do concerto Make America Great Again e tiraram a mais simbólica das fotos diante da gigantesca estátua de Lincoln.

Quando confrontado com o efectivo uso do slogan por Reagan, embora começando por afirmar “desconhecer” o facto, acabou por contrapor que Reagan não o registara, mas, ele, Trump, sim, no Escritório de Patentes e Marcas dos Estados Unidos em 14 de julho de 2015.

Curiosamente, o registo era apenas para uso político, não comercial, falha que Bobby Bones, jornalista, aproveitou para se antecipar a Trump, de modo a poder propor-lhe "ter [seu] slogan de volta" por um valor não divulgado…

MAGA, MEGA, MIGA…

Com a crescente onda populista na Europa, alguns políticos apropriaram-se do slogan, e começaram a usar "Make Europe Great Again" (Viktor Orbán), tendência que culminou com a I Cimeira dos Patriotas Europeus/Patriotas pela Europa de 8/2/2025, em Madrid, com 12 líderes de partidos políticos a vocalizá-la (André Ventura, Le Pen, Abascal, Salvini, Gilders, Babis, etc.)1. Mas também começaram a substituir “Europa” pelas suas nações: Marine Le Pen, na eleição presidencial da francesa em 2017 ("Make France Great Again"), Geert Wilders, do Partido da Liberdade Holandês (“Make Netherlands Great Again”), Javier Milei na Argentina (“Make Argentina Great Again” ), o Vox em Espanha, Venezuela, Israel (“Make Israel Great Again” ), Hungria (“Make Hungary Great Again” ), Brasil (“Make Brasil great again” ), etc.

Empresas também o declinam em produtos diversos: “Make England Great Again – MEGA” ou a sua variante “Make Britain Great Again" . Outros usam claramente a ideia, como Vladimir Putin quando fala em restaurar a Rússia histórica e czarista na sua “Política de grandeza da Rússia” representada no culto da sua personalidade. Trump aconselha com ele líderes europeus (p. ex., Macron, face à perda de popularidade deste em 2018) e a própria China, cujo líder Xi Jinping trabalha nesse sentido. “MOGA - Make Ontario Great Again”, “MUGA - Make Ukraine Great Again”… Nem os temperos lhe escapam: “MOGA- Make Oregãos Great Again”…

Nem o cinema lhe ficou indiferente, como ser pode ver nos seus títulos. Como o documentário Make Poland Great Again, 2019, de Konrad Szolajski , a série Make Belgium Great Again (2018), de Frances Lefebure, o filme ou os filmes Make America Great Again (2018), de Nelson Denis ou de Joseph Zabrosky (2024), Make Denmark Great Again (2019), de Simon Talbot, para já não referir os filmes que o usam com variantes estratégicas (Make Christmas Great Again, 2017, de Peter Orton e Errol Etienne; Make Love Great Again, 2018, de Aaron Agrasanchez; Make Hollywood Great Again, 2020, de Michael Jolls; Make Democracy Great Again, 2023, de John Lundberg; etc.). Nem o teatro-comédia: lembro o Making America Great Again! (2016), de David Cross, no Paramount Theatre (Austin, Texas). Nem o podcast: What Next: Make Hollywood Great Again (2024).

E livros há que o declinam nos seus títulos, como Bridget Rooney e J.S. Griffin (Make Lists Great Again - An Antidote To Trump Derangement Syndrome, 2018), os de Robin Rivaton e Vincent Pavanello (Make Real Estate Great Again, 2018), Rafa Wright (Make The Hood Great Again, 2019), Armond White (Make Spielberg Great Again, 2020), Miguel Nuño (Uncle Donald makes America great again, 2021), Christopher Buckley (Make Russia Great Again, 2021), Frank Nato (Kids Make America Great Again, 2021), Alexander Unzicker (Make Physics Great Again: America has Failed, 2023), Ben Piper (Make Men Great Again: Mastering Masculinity & Modern Dating, 2024), R.M. Green (Make Armstrong Great Again, 2024), Andrew Sangster (Make Germany Great Again, 2024), um guia-vídeo para “Make Italy Great: Like America” (MIGA), Make America Great Again (2025), Francesco Orsi (Make Germany Great Again, 2025), de Raphael Wood, Make Black America Great Again (MABAGA) – The Poem (2025), de Anton Dormer, e (pasmem!), Make Poetry Great Again: The Poems of Donald J. Trump, 2016, de Donald Trump, Pedrito Ortiz, et al... E, enfim, tudo culminará com Make the world great again (2019), de Amy Mohammed…

E a música: Make America Great Again! (CD, 2016), de Delfeayo Marsalis, Make Oi! Great Again (CD, 2017), de Broken Heroes, Make Anger Great Again (CD, 2020), de James Kennedy, etc.

A lista do uso da expressão é interminável, com a variação da segunda letra (todas as vogais ocorrem)… seria cansativo observá-lo em todas as áreas… Mas porquê este modismo?

É uma ideia sedutora: não tem a grandiosidade esmagadora das utopias, mas a ambição do acessível. E não tem a densidade dos mitos que nos excedem e que, hoje, no mundo banalizado, estão a dissolver-se e a tornar-se impertinentes ou, mesmo, absurdos…

É, também, uma ideia que exprime um mecanismo da memória individual e colectiva que sobrevaloriza um passado distante onde se confundem o indivíduo e a colectividade (infância ou o que recordam da história colectiva) e, com nostalgia, o seu arauto gostaria de reinstituir2

Enfim, limitei-me a alguns exemplos de discursos ou de expressões que, se não mudaram o curso dos acontecimentos na vida e/ou na sua ficção), estimularam essa mudança. Deixo à Retórica, à Sociologia e à Psicologia a explicação aprofundada da força do discurso que não poderia aqui analisar…

Referências

1 Movimento liderado por Jordan Bardella, é formalmente conhecido por Identity and Democracy Party (ID or ID Party) e Movement for a Europe of Nations and Freedom (MENF).
2 Cf., p. ex., We Made History: Citizens of 35 Countries Overestimate Their Nation's Role in World History, Journal of Applied Research in Memory and Cognition, Volume 7, Issue 4, December 2018, pp. 521-528.