Pensar converteu-se num luxo, reservado a uma elite para muitos. No rápido compasso usado nos dias de hoje, pensar exige tempo, esforço, mas acima de tudo criatividade.
Sem sobra de dúvida, que se torna mais fácil não pensar e apenas seguir impulsos liderados pela crise de revolta, que parece dominar as novas gerações.
Afinal, pensar dá demasiado trabalho...
Estamos numa geração mais ponderada, vista através de uma nova forma de pensar, talvez menos motivados segundo os parâmetros do passado, mas também incompreendidos pelas vozes do futuro. Efetivamente, as novas gerações são sentimentais, contra mim falo, valorizamos sentimentos e qualidade de vida, mesmo que isso signifique sacrificar a forma de os alcançar.
Queremos o pico da montanha sem a escalada toda.
Existe um claro objetivo familiar, bastante claro, uma versão melhorada passada de geração a geração. Passam por encaminhar os descendentes por um caminho melhor, mais cultos, mais bem formados, encaminhados na vida e sem dificuldades.
No entanto, estamos a criar pessoas com menos capacidades do que as que na verdade nos formaram a nós.
O excesso de proteção é talvez, uma ponta do iceberg a ser derretida. As consequências são cada vez mais notórias.
Não sabemos formar frases complexas, não usamos vírgulas nem ponto e vírgula, ora; o ponto final é decididamente o nosso melhor amigo.
Cada vez menos nos expressamos com complexidade. E nuance. As frases são cada vez mais curtas e a rede é cada vez mais a nossa melhor amiga.
Confundimos frontalidade com ofensa, contudo, pode suscitar sentimentos nos outros e com isso estamos nós bem.
O problema não é nosso, o outro é que ficou ofendido... Mas sentimos mais, sentimos demais.
Estamos perante uma cultura justificada, onde cada qual tem a sua liberdade individual e abrimos, perigosamente, muitas portas que não deviam ter sequer uma fechadura.
Libertamos pensamentos que devem ser soltos, mas pensamentos bastante cuidados, não infringindo o espaço individual de cada qual, quando o nosso foi o primeiro afetado.
Afinal, ainda temos direitos. Afinal temos de crescer.
Mas cada vez mais o nosso espaço se torna invadido. Não queremos rótulos, mas somos os primeiros a ter rótulos, uma geração cada vez mais ofendida.
E, na ânsia inusitada de liberdade, esquecemo-nos do crescimento que surge do desconforto e da demanda consequente dos nossos atos.
Talvez, tudo isto seja consequência de nunca termos sido verdadeiramente incentivados a crescer, de existirem proteções excessivas e tendências gerais na sociedade contemporânea.
Defendemos a nossa evolução, mas pela primeira vez, poderemos estar a retroceder.
Deixamos de pensar porque jamais ousaram que usássemos essa capacidade.
Criamos dependências emocionais, porque não nos forçamos a crescer, dedicamo-nos ao conforto, porque com ele está tudo bem. Estamos a recuar na história e achamos que estamos dez passos à frente dela.
Não sabemos resolver situações sozinhos e deixamos que a ansiedade nos consuma. Adquirimos doenças mentais graves que jamais em tempos conturbados da nossa história existiram. Entendemos que são graves, mas dedicadas a um certo público, porque se do povo se tratasse seria mais acessível.
Ainda não é algo atingível a todos os bolsos. Problemas elitistas. Lidamos com proteção, pouca resolução de problemas, levantamos o tom e a situação por sim se resolve, pensamos nós. Tal e qual os chás das cantinas.
Já não crescemos como antes, ganhamos uma liberdade, mas certamente perdemos outra.
Não nos apercebemos da situação, afinal escrevo isto em frases curtas.
Insisto que pensar não custa, mas a verdade é o trabalha que dá. Vivemos numa cultura fast charge, “lidamos com tudo”, mas não lidamos com nada, queremos estar em tudo, mas a mente já não está em nada.
Achamos que o outro tem de moderar o vocabulário, mas não moderamos o tom de voz.
Estamos confiantemente formatados e permitimos isso continuar, contra mim falo... pois novamente, escrevo frases curtas.
Repetimos e, somos donos da razão. Estamos exaustos e não conseguimos focar a nossa atenção.
Tudo vira hábito se permitirmos isso acontecer, tudo se cinge a uma uniformidade de conteúdos e práticas pouco saudáveis, ao conforto do desconforto da pouca liberdade que não temos e cada vez mais defendemos ter.
A capacidade de gerar ideias fica mais limitada, a informação à nossa volta é exagerada, rápida e de pouco pensamento. Somos domados pela comunicação, pelas redes sociais e pelas bengalas de IA que estão cada vez mais ao nosso dispor.
Como julgar esta nova geração após tudo isto? Somos um reflexo dos nossos anteriores.
Lemos e relemos, nada faz mais sentido.
Lemos e relemos, somos novos, tentamos pensar.
Temos um ego alto, equilibrado em biquinhos de pés, não estamos preparados para viver em equilíbrio.
Forçamos o outro a entender que só existe uma opinião, mas baseamo-nos argumentos fundamentados em pilares da democracia.
Penso que já fiz algumas frases mais complexas, vou retornar ao meu ponto final.