A ética consiste em princípios que disciplinam o comportamento humano, é o ato de refletir acerca de padrões e de valores morais para que haja harmônico convívio entre as pessoas, destacando-se como condição sine qua non para nortear a vida em uma sociedade que pretenda ser democrática.
Em âmbito individual, respeitar o outro não quer dizer que devamos aceitar o que o outro defende como verdade. Aceitar o outro é respeitar a dignidade do semelhante enquanto pessoa humana. Em outra seara, por vezes, as relações de poder tentam impor determinados valores para as pessoas, defendendo que existem verdades absolutas e que uma cultura é maior que a outra objetivamente. A antropologia tem demonstrado o contrário, no sentido de que é de grande importância que todas as culturas sejam valorizadas como expressão de um modo de vivência característico e inalienável de um determinado povo e cultura.
Valorizar as diversas culturas não é desmerecer as outras, mas valorizar de maneira objetiva os valores positivos de cada povo. É preciso, nesse contexto, superar as formas de entendimento de uma visão unilateral da cultura. Os colonizadores que invadiram terras há longo tempo supunham a própria cultura como a única verdadeira, e, ao se depararem com a singeleza dos valores cultivados pelo povo ancestral dessas terras, entenderam que os habitantes eram povos incultos que necessitavam ser “educados”, ou seja, deveriam renegar a própria cultura para assimilarem a cultura do povo invasor. É preciso entender a importância de se pensar e refletir acerca das perspectivas axiológicas e que não é preciso assumir a cultura alheia como a única possível, é preciso, na verdade, respeitar e não tratar preconceituosamente as outras culturas.
Vivemos grandes desafios éticos na sociedade contemporânea; de um lado, temos a questão do consumismo que supervaloriza a dimensão capitalista da identidade humana, de outro, o negacionismo, que induz ao retrocesso, ao contexto da Idade Média. O relativismo igualmente se manifesta ao defender que não existem valores objetivos e válidos para a sociedade contemporânea.
Importante lembrar que o outro não pensa como pensamos, cada pessoa é única, as percepções são totalmente diferentes de uma pessoa para outra. Assim, rever o próprio mito da caverna de Platão torna-se exemplar para avaliarmos o quanto muitas vezes estamos aprisionados nas trevas da ignorância. Platão descreve prisioneiros no fundo de uma caverna e, quando um dos prisioneiros consegue libertar-se, vê a luz e conhece o verdadeiro mundo. Voltando para a cova, conta para os seus que fora dali haveria um imenso mundo, o mundo verdadeiro. Acabou sendo morto porque não conseguiu convencer os aprisionados de que estavam imersos nas trevas da ignorância, de que estavam presos às amarras dos sentidos e dos preconceitos e, assim, impedidos de chegar à verdade.
Pensar em uma ética do respeito é pensar que além do nosso mundo particular existem outros mundos possíveis que possibilitam enxergar a verdade por outras perspectivas. O filósofo Nietzsche, em suas considerações da verdade, contribuiu significativamente para evidenciar a relevância da verdade.
O mundo precisa de maior abertura para o diálogo com o diferente. Dialogar com o diferente não é desvalorizar o que somos, mas, sim, valorizar a dignidade da pessoa humana que existe no outro. A dignidade da pessoa humana é um valor intrínseco, importante e fundamental. Precisamos das mais diversas formas valorizar o quanto o outro é importante pela sua dimensão humana. Evidentemente que respeitar o outro não é entender que o outro tem a visão única possível, mas, sim, acreditar que é de grande importância o diálogo com o diferente. Assim, abriremos a possibilidade de viver em um mundo mais justo, mais fraterno, mais solidário.
Precisamos das mais diversas formas pensar no respeito ao diferente; sem pensar na ética do diferente, não avançaremos. Precisamos superar qualquer espécie de preconceito, pré-julgamento e buscar, assim, entender o quanto o ser humano é inédito e precisamos respeitá-lo em suas potencialidades e em suas escolhas pessoais. Nessa perspectiva, valorizar os direitos humanos é fundamental para uma consolidação política que contribua para uma ética do futuro, a fim de possibilitar a existência de uma sociedade mais plena de valores no que tange ao respeito à dignidade da pessoa humana.
É preciso compreender que é a partir de uma valorização da diversidade de pensamentos, diversidade de pontos de vista que teremos a oportunidade de visualizar novas perspectivas emancipatórias humanas. Racismo e discriminação contra o diferente não condiz com o respeito ao outro, ignorar os valores que habitam o dissemelhante é um contrassenso à prevalência da ética. Em uma sociedade democrática, ninguém, independente da cor, da cultura, dos valores, do credo, ninguém deve sentir-se constrangido em expressar seus pensamentos e sua forma de pensar e agir.
Em se tratando de meio ambiente, ao ler o filósofo Hans Jonas, principalmente a obra “Ética da Responsabilidade”, percebemos que a questão ambiental é de suma importância para que pensemos em uma sociedade globalizada do futuro que valorize as questões ambientais. Segundo o filósofo, se a humanidade não criar uma ética de respeito à natureza, se não se prevenir contra a destruição das matas que preservam os rios, sem água, sem ar respirável o futuro do ser humano estará em perigo; como então sobreviver?
Não seria essa a herança que as gerações atuais deveriam deixar para as futuras gerações. Que uma ética de respeito ao outro prevaleça. Que o homem reconsidere a ânsia de enriquecimento e aprenda a respeitar o outro, que aprenda a respeitar a natureza e o planeta em que habita. Ou todos pereceremos.