Tradicionalmente os cientistas dividem a fauna que cobriu a superfície da Terra em quatro dinastias distintas de animais: insetos, sinapsídeos (animais hoje extintos), dinossauros e por fim os mamíferos. Quase todos os ambientes terrestres dos últimos 300 milhões de anos foram governados por algumas dessas criaturas. Mas a evolução tende a seguir caminhos diversificados e acabar selecionando criaturas exóticas para situações exóticas. Por tanto alguns lugares tiveram faunas particulares bem diferentes.

Nesse sentido, ilhas foram e ainda são uma enorme oportunidade para criaturas que no resto do mundo fracassaram, poderem prosperar e assumir novas características. Hoje, talvez o melhor exemplo seja os lêmures de Madagascar, um tipo de primata que só existe na ilha, parente de animais primitivos que foram sobrepujados por seus rivais macacos. Mas na ilha africana eles tiveram a oportunidade de dominar o ambiente livres da competição de outras criaturas, se tornando os animais símbolos do País.

Outras ilhas também possuem animais notáveis, como as Galápagos e suas tartarugas gigantes, ou a Indonésia e o icônico dragão de Komodo. Sem outros animais para competir, os répteis puderam tomar o local para si, crescendo em tamanho e se diversificando para diferentes espaços e dietas do ambiente. Repteis não são os únicos animais que são facilmente beneficiados pelo isolamento geográfico fornecido por ilhas. Aves também prosperam com facilidade.

A capacidade de voo permite que esses animais se movam colonizando novos locais antes da chegada de répteis e mamíferos pelo mar ou terra. Por isso várias ilhas do planeta desenvolveram suas próprias espécies de pássaros únicas e especiais. Entre os exemplos modernos existem as belíssimas Aves-do-paraíso nativas da Papua-Nova Guiné. Esses animais conseguiram seu nome pelas plumagens exuberantes e diversificadas, apesar de ocuparem um espaço tão reduzido esses animais conseguiram se diversificar em mais de 40 espécies.

Mas um dos exemplos mais marcantes de ilhas sendo espaço para novas espécies surgirem foi a Nova Zelândia até menos de mil anos atrás. Ao contrários de outras áreas do planeta, após a extinção dos dinossauros, a ilha não foi ocupada por mamíferos de grande porte. Registros fósseis indicam a existência de pouquíssimos mamíferos primitivos, inclusive espécies de morcegos que não voavam e caminhavam no solo das florestas. Esses animais provavelmente evoluíram de morcegos que chegaram as ilhas voando, mas perderam a capacidade ao longo da evolução.

Ao contrário dos mamíferos, a Nova Zelândia chegou a possuir alguns répteis de destaque como tartarugas e tuataras (animal similar aos lagartos), sendo possível que tenha tido também crocodilos e cobras. Mas os répteis logo foram sobrepujados, e o habitat foi tomado pelos pássaros que fizeram do local seu reino particular. A falta de competição também foi benéfica aos insetos que puderam crescer a tamanhos gigantescos. Um deles foi o wētā, o grilo gigantes das ilhas. Esses animais prosperaram se alimentando comendo frutas e pequenos animais pois não possuíam a competição com os primatas presentes no resto do mundo.

Aves de grande porte que competiam com mamíferos pelo ambiente existiram durante toda a era dos mamíferos. Vários locais possuíram aves enormes tanto como predadores com quanto necrófagos ou herbívoros. A américa do sul teve rica diversidade de aves caçadoras, e Madagascar possuía a icônica Ave-elefante que pesava mais do que meia tonelada. Mesmo atualmente, aves grandes como avestruz e causares ainda são comuns.

Mas na Nova Zelândia houve um caso único, em que todos os principais espaços da fauna foram ocupados por aves, em outros lugares da Terra, ainda que de vital importância, as aves nunca puderam tomar o papel dos mamíferos como animais dominantes. Assim as duas ilhas da Nova Zelândia representam um evento único na evolução recente da vida.

Uma das maiores aves da história viveu na Nova Zelândia, o Moa, gigantesco animal de 3 metros de altura, similar aos modernos avestruzes, tendo penas laranjas, pescoços compridos e cabeças minúsculas. Seu tamanho avantajado também foi responsável por limitações, como eram incapazes de voar, os moas estavam entre as poucas aves que perderam completamente suas asas, se moviam apenas pelas fortes pernas.

Convivendo ao lado dos Moas, e ainda habitando as florestas da ilha, existe o kiwi, ave do tamanho de uma galinha famosos por depositarem ovos muito grandes, quase do tamanho dos animais já adultos, o que permite aos filhotes nascerem já bastante desenvolvidos e capazes de se cuidarem sozinhos. Os kiwi possuem narinas na ponta do bico que os permite buscarem comida atrás do apurado olfato.

Apesar de todos esses animais serem criaturas impressionantes, nenhum deles era o predador dominante da Nova Zelândia. Esse título caia sobre a incrível águia-de-haast, a maior águia que já existiu. Podendo chegar a uma envergadura (distância da ponta de uma asa até a ponta da outra) de quase 3 metros. Era capaz de matar um moa de mais de 200 quilos com seus ataques aéreos. Mesmo nos dias modernos, as lendas dos nativos da Nova Zelândia falam sobre aves gigantes capazes de carregar humanos em pleno voo (o que provavelmente é um exagero). Mas é consenso entre os paleontólogos que essas aves conseguiam abater humanos com seu mergulho de ataque aéreo.

Esse ecossistema fascinante veio ao fim com as chegadas dos primeiros humanos nas ilhas. O povo maori, uma comunidade guerreira e caçadora, descendentes dos primeiros navegadores humanos que se aventuraram pelo oceano pacífico. Os maoris não tinham muita preocupação com a ecologia dos animais, matavam várias aves em uma só caçada, se aproveitando da vulnerabilidade dos bichos que nunca tinham enfrentado um mamífero predador antes.

Os humanos não aproveitavam suas presas de forma econômica, comendo as melhores partes e abandonando o restante do corpo, assim as mortes em grandes quantidades era demais para que a população de aves pudesse resistir, os moas desapareceram, sem sua presa, a águia-de-haast a seguiu no caminho da extinção. Ainda assim, os animais menores como o kiwi e o wētā sobreviveram permitindo que a Nova Zelândia conservasse parte de sua fauna única.

O caso da Nova Zelândia perdendo sua riqueza natural é um prenuncio do que aconteceria com o mundo nos próximos séculos, e que ainda acontece hoje em dia, com várias espécies de animais, principalmente insulares, desaparecendo após seu contato com o homem que vinha explorar novos habitats. Agora que se tem conhecimento deste fato é preciso ser mais cauteloso com a fauna que ainda existe para evitar a perda completa da natureza pelas próximas gerações.