A cultura sul-coreana está cada vez mais popular ao redor do mundo e de várias maneiras diferentes. Existe o termo chamado hallyu, que pode ser traduzido como “onda coreana”, e se refere ao sucesso que diversos elementos culturais desse país tão pequeno vem fazendo por aí.
Falando em cinema e televisão, é muito provável que você já tenha assistido a um filme coreano, como Parasita (ganhador de quatro Oscars em 2020, incluindo o de Melhor filme), uma série como Round 6 ou algum k-drama, dos vários que estão disponíveis hoje em plataformas de streaming. Na música, o k-pop domina as paradas mundiais há alguns anos, sempre com músicas animadas, muitas vezes cantadas em inglês e com coreografias bastante elaboradas. Existe também o enorme mercado de k-beauty, que são os produtos e técnicas sul-coreanas para o cuidado com a pele, trazendo novas marcas e tecnologias diferentes para o dia a dia de muitas pessoas, reforçando mais ainda a febre cultural causada por esse país.
Na gastronomia não poderia ser diferente. Nos últimos anos é crescente o número de restaurantes especializados em cozinha sul coreana aqui na cidade de São Paulo, algo que começou de maneira bastante tímida, voltada inicialmente para a colônia de imigrantes que chegaram em nosso país nas décadas de 1980 e 1990, mas que hoje já alcança a todos, com diversas opções, especialmente pelos bairros da Liberdade, Aclimação e Bom Retiro.
Há algum tempo já tive a oportunidade de provar a cozinha coreana moderna do chef Paulo Shin no restaurante Komah e fiquei apaixonada pelas camadas de sabor e texturas incríveis. Eu, que amo os ingredientes da gastronomia asiática, logo quis pesquisar e entender um pouco mais sobre esses sabores. Conheci a criadora de conteúdo Tina, do canal no youtube Doobydobap e fiquei completamente viciada em assistir seus vídeos provando e explicando a relação dos sul coreanos com a comida. Ela tem vídeos super interessantes também mostrando a comida de rua das cidades do país e como funciona a preparação de alguns pratos tradicionais de lá.
Entendendo melhor sobre alguns sabores e conceitos da gastronomia coreana, me faltava provar a refeição mais tradicional do país: o churrasco coreano. Assim como aqui no Brasil, o churrasco é parte importante da cultura coreana, juntando amigos e familiares para comer e celebrar ao redor da mesa. Essa tradição existe há séculos no país, e o que há séculos atrás era reservado à nobreza por conta do preço alto pago pelas carnes, hoje tornou-se muito popular e presente para todos.
Num domingo chuvoso, fui até o bairro da Liberdade para almoçar na churrascaria Cho Sun Gal Bi e ao sentar à mesa já dá pra notar uma das grandes diferenças na maneira que eles fazem churrasco. Cada mesa tem sua própria churrasqueira a carvão e quem prepara a carne é você. Ao invés de cortes grandes como nossos bifes de picanha, no churrasco coreano a carne vem em fatias finas, para que você possa grelhar rapidamente na sua própria mesa, deixando tudo muito mais interativo e diferente.
Comemos o rodízio, que inclui cortes como short rib, assado de tira, bife ancho, panceta bovina e suína, além de uma bisteca de porco numa marinada agridoce típica da Coréia do Sul. Todos eles chegam crus e se você não for muito habilidoso preparando carnes, não se preocupe, os garçons orientam a melhor forma de preparar, que é selar dos dois lados e depois cortar em pedaços menores com ajuda da tesoura, para que assim cheguem no ponto que você prefere comer.
Um utensílio pouco usado nas cozinhas ocidentais, a tesoura é muito usada pelos coreanos para diversos preparos em cozinhas caseiras ou profissionais, facilitando o corte de carnes e vegetais. É também super presente nas mesas de restaurantes, como é o caso do Cho Sun Gal Bi, para facilitar a vida dos clientes.
Além de toda a carne, os acompanhamentos são um show à parte. Pode esquecer a farofa, o vinagrete e o pãozinho, já que nos churrascos e outras refeições coreanas existem os banchan. Esse é o nome dos famosos acompanhamentos que vem em grande variedade e pequenas quantidades, para que você coma junto com arroz e o prato principal. Nesse rodízio estão incluídos 10 banchan, mas banquetes tradicionais podem ter até 12 banchan diferentes.
Conservas e fermentados são alimentos super presentes nessa cultura e provavelmente você já ouviu falar no mais comum deles, o kimchi, um fermentado de acelga que é a base da gastronomia coreana. Com textura, acidez e picância, é delicioso e quem quer conhecer essa culinária precisa provar. Mas além dele, foram servidos também: conservas de cebola, nabo e pimenta, tofu temperado, milho gratinado, arroz (que a aparência no potinho lembra o gohan japonês, mas sem o tempero doce e avinagrado), salada com molho de milho, panqueca de legumes, pasta de soja fermentada, óleo de gergelim temperado e muitas folhas de alface. Todos eles cheios de sabores complementares, elementos ácidos, adocicados, crocantes, cremosos…
A maneira tradicional de comer tudo isso é pegando uma folha de alface e montado uma trouxinha com um pouquinho de cada acompanhamento, colocando um pedaço da carne grelhada e temperando com a pasta de soja e o óleo de gergelim. Uma refeição mega interativa, onde a gente realmente precisa colocar a mão na massa, seja grelhando a carne, seja montando nossos “tacos”. E assim dá pra entender bem porque o churrasco coreano se transformou num grande sucesso, é uma verdadeira experiência divertida em volta da mesa, uma imersão deliciosa provando sabores que não estamos acostumados e fazendo tudo isso interagindo com a comida, compartilhando, preparando você mesmo e criando combinações diferentes.
Se você gosta de churrasco e de aprender mais sobre culturas e sabores diferentes, indico muito essa nova maneira de comer! E o sucesso é tanto, que já adianto: as filas de espera normalmente são enormes aos finais de semana, então vale a pena fazer uma reserva. Além dessa unidade que eu visitei na Liberdade, o Cho Sun Gal Bi tem também uma no Bom Retiro.
Para mais dicas de onde comer pela cidade de São Paulo, acompanhe minhas redes sociais e outros textos aqui da minha coluna. Até a próxima!