Comer é um ato de prazer. Sentir aquele gostinho do arroz bem temperado no alho é uma das paixões desta brasileira que vos escreve. Comer bem sempre será uma experiência fascinante para o paladar. Quando comemos, esquecemos por um instante do trabalho, estudo, obrigações e correrias. Você senta e aprecia o seu alimento com o mais intrínseco desejo de se saciar. Comer, para mim, é uma oração. Momento sagrado do dia que respeito e venero.

Por ser tratar de um ato social e identitário que fala muito da cultura e tradição humana ao longo da história, aprofundo-me na gastronomia para entender as características e peculiaridades de um povo. Quando conhecemos a culinária de um país, imergimos em todo o legado alimentício que foi sendo passado de geração em geração. No livro Una história comestible: homínidos, cocina, cultura y ecologia (2013) do autor Jacinto Garcia1, ele afirma que somos o que comemos, tanto no aspecto fisiológico como no espiritual. A história da gastronomia é pautada pelas construções sociais compartilhadas entre povos e nações.

Quando queremos falar ou mostrar para o estrangeiro sobre a nossa história, geralmente começamos pela comida. Também não é muito imprevisível da nossa parte quando viajamos queremos imergir na gastronomia local. Gostamos de saber o que comem e como fazem o alimento. Tentamos identificar com o que já provamos ou se o sabor é único e inquestionável. A culinária mundial sempre encherá as páginas de livros, as histórias dos documentários, o coração dos chefes e a barriga dos apaixonados por comida.

Sou de provar de tudo um pouco. Tenho o paladar eclético e são poucas coisas que me recuso a comer. Definiria meu menu preferido com a maioria das produções brasileiras. Mas por aqui deixarei meu patriotismo de lado e definirei em um ranking de três posições as melhores culinárias dentre os países que já provei.

Não contrariarei a lista "10 melhores culinárias do mundo", segundo o Taste Altas. Pois eles realmente acertaram em duas das minhas opções. Sem nenhuma surpresa, afirmo, juntamente com as mais de 395.205 (271.819 válidas) classificações de pratos e 115.660 (80.863 válidas) classificações de produtos alimentícios, que a Itália está em primeiro lugar como melhor comida. A segunda posição da pesquisa está com Grécia. Eu realmente confirmo que eles merecem esse lugar. O terceiro, e não catalogado em pesquisa, mas com base na minha experiência, fica a Venezuela.

Três países totalmente distintos de sabores, aromas e sensações. Fui feliz em frente a todos os pratos de comida que pude, e lhe direi com mais detalhes os meus porquês.

Itália

Quem nunca desejou comer uma pizza na Itália que atire a primeira pedra. Embora essa experiência alimentar não seja uma criação deles de fato, foram os que aperfeiçoaram e a tornaram o prato famoso pelo mundo. Para efeito de curiosidade, saiba que as primeiras pizzas surgiram há 6.000 anos, sendo inventadas pelos hebreus e fenícios. Eles faziam uma massa fininha e colocavam molho de tomate e a chamavam de “píscea”.

Os italianos começaram a trazer para o cardápio lá pelo século 18. Era totalmente diferente do que consumimos hoje. Parecia mais como um sanduíche. Com o tempo, eles desenvolveram as primeiras pizzas com mais ingredientes. A minha preferida, Marguerita, é em homenagem a uma rainha. No ano de 1889, o pizzaiolo Rafaelle Esposito colocou na massa tomate, queijo e manjericão e a chamou por esse nome para agradar o rei Umberto I e a rainha Margherita de Savoia.

Na Itália, você pode comer pizza no café, almoço e janta e encontrá-la em vários formatos e sabores. Além disso, a cozinha italiana é vasta e você pode encontrar um menu repleto de pastas e frutos do mar. O melhor ravioli que já comi na vida sem dúvidas foi no restaurante Mino, fundado desde 1960. A perfeição em forma de pasta me encantou pela apresentação do prato e ao sabor fresco da carne ao molho de tomate. Não posso deixar de citar que os italianos são ótimos quando se fala de temperos com azeite, alhos e tomates. Eles sabem deixar qualquer macarrão irresistível com poucos ingredientes. A maior variedade de formatos de massas será encontrada nas terras de Giuseppe Garibaldi. Algumas que só encontrei por lá e confesso que é muita criatividade de formatos e nomes diferentes que eu possa gravar.

Não satisfeitos em nos prender com os pratos principais, os italianos também são fabulosos quando se trata das sobremesas. Os nossos olhos se perdem a procura do que é mais irresistível ao paladar ao olhar as vitrines das gelaterias e docerias. O famoso tiramisù, sobremesa à base de biscoito de champanhe, mascarpone, café e ovo, deixa qualquer um querendo mais. Os sorvetes de pistache e os cannolis são de comer rezando.

A Itália é um país espetacular na gastronomia. Tenho um apreço imenso pelo amor que eles dedicam à comida. Voltarei sempre que possível para me deliciar com as obras de arte da cozinha italiana.

Grécia

Sempre que lembrar da Grécia e sua comida, estarei feliz. Ao andar pelas ruelas do mercado grego, entre aromas de temperos, ervas, azeites, licores, queijos, me transportei para uma cozinha onde a paixão é um ingrediente principal. As comidas gregas têm um sabor único pelos azeites, limão e ervas em que são temperadas as carnes e frutos-do-mar. Os insumos usados na comida têm muitas particularidades. Por exemplo, um dos pratos principais da cozinha dos gregos é a Moussaka. É como uma lasanha de berinjela grelhada com molho à bolonhesa feito com carne de carneiro, cravo e canela. No topo vai bechamel (um molho branco) com noz-moscada. É um prato suculento e muito bem servido.

Os gregos têm influências gastronômicas da Itália, Turquia e Arábia. Alguns pratos levam até tem nomes árabes. Comidas à base de pita (pão árabe) com carne de cordeiro grelhada são bem comuns de serem encontradas. A famosa salada grega é um prato que vale a pena provar. Não se diferencia tanto de outras saladas, mas com o tempero à base de azeite de oliva, sementes e queijo feta (queijo branco grego feito de leite de ovelha ou cabra) faz a diferença.

A base da culinária dos gregos sempre envolve alguma proteína, mas somente de animais de pequeno porte, pois no país não é forte a criação bovina. Será muito comum encontrar prato com frango, carneiro, cordeiro, porco, coelho além dos variados frutos do mar. Um dos melhores frangos grelhados que comi foi em solo grego. Um restaurante no meio de um mercado de antiguidades se denominava o melhor da culinária grega. Com preços acessíveis e um atendimento maravilhoso do anfitrião do “The Kylamino” me trouxe um purê de batata à base de limão e azeite, um frango temperado com ervas, além do famoso iogurte grego que deixou tudo em perfeita sintonia.

As sobremesas também têm seu protagonismo. Uma das mais famosas é a baklava feita de massa de filo recheada com nozes picadas. Também procurei muito pelo sorvete de iogurte grego, não foi uma tarefa simples como imaginei, mas provei e aprovei. A Grécia é um paraíso da gastronomia. Se mil vidas eu tiver, mil vidas quero voltar.

Venezuela

Um dos meus primeiros contatos imersivos com a culinária em outro país foi na Venezuela. Passei mais de 20 dias pelo meu país vizinho e descobri outro universo para a gastronomia. A começar pela forma que eles comem banana. A fruta por lá tem tom mais amarelado e com mais espessura. É cozinhada e se come com manteiga derretida. Confesso que estranhei a princípio, mas depois viciei no sabor. Outra comida que me chamou atenção foi como comem abacate com churrasco. É feito um molho bem temperado com pimenta, sal e limão e colocado no topo da carne assada na brasa.

Tive muitos dias para provar diferentes recheios de arepas, uma espécie de sanduíche à venezuelana. Esse prato é muito famoso no país e na Colômbia. As minhas preferidas são ser de carne de porco desfiada, muita verdura e queijo. São feitas à base de milho e têm formato de uma pizza pequena, que se abre ao meio para ser recheada. Outra iguaria muito consumida pelos venezuelanos e que provei todas são as empanadas. A mesma massa que se faz as arepas é utilizada, porém, com outro processo de cozimento. Com muitas opções de carne, frango, queijo, presunto ou vegetais, as empanadas caem bem a qualquer hora do dia.

A influência da cozinha venezuelana é advinda dos povos indígenas, africanos e espanhóis através do processo de colonização. A mandioca, a banana e a massa de milho são a base para muitos pratos. Embora eles também tenham novas influências do mundo globalizado. Por exemplo, o cachorro-quente. Foi um dos mais diferentes que já provei. O “pero caliente” (nome em espanhol) é feito com pão, salsicha, molho com repolho e cebola, salsa, muita maionese e batata palha. Me viciei e comi em todas as oportunidades que tive.

A cozinha venezuelana tem uma atmosfera familiar. Visitei o país na época do Natal e acompanhei de perto a produção das Hallacas para as ceias. Um prato de origem indígena que é feito com massa de fubá, recheadas com azeitonas, porco ou boi, pimentão, cebola, salsa, alcaparras e misturadas no vinho tinto. São armazenadas em folha de bananeira e cozinhadas na água de Urucum (planta corante típica de região indígena). A produção das Hallacas começa bem antes das festividades de final do ano. As famílias se reúnem para fazer em abundância e armazenar para a ceia de Natal.

Estar na Venezuela me fez observar mais como adentrar em outra cultura é uma experiência encantadora. Por onde andei, notei diferentes comidas e sabores que minha memória afetiva hoje é condicionada a lembrar como foi essa viagem há 10 anos. Os morangos com chantili, os chips de banana com sal e as bebidas tropicais me fazem querer voltar à Venezuela mais de uma vez nesta vida.

Como uma pessoa boa de garfo e faca, procuro na gastronomia compreender o que faz a comida ser uma marca de identidade e representação de um povo. O preparo de um alimento não se dá apenas pela mistura de temperos, mas sim de uma mixagem de culturas, histórias e modos de fazer.

Notas

1 Garcia, Jacinto. Una historia comestible: Homínidos, cocina, cultura y ecologia. Editora Trea.