Formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, O BRICS é um grupo informal com objetivo de promover uma maior cooperação entre essas economias emergentes. Desde sua formação formal em 2009, o grupo se consolidou como um espaço de diálogo e colaboração em diversas áreas, buscando reformar a governança global e oferecer alternativas a instituições tradicionais como o FMI e o Banco Mundial.

Com a recente inclusão de novos membros, como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã, o grupo se expandiu consideravelmente. Essa expansão aumentou especificamente a influência da China no bloco.

Mas será que essa expansão agregou aos demais países presentes na formação inicial ou apenas sinalizou o desejo da China de aumentar a cauda do dragão chinês por meio do grupo?

A história do BRICS

O conceito de BRIC foi introduzido em 2001 por Jim O'Neil, que escreveu um artigo intitulado Building Better Global Economic BRICs, identificando o potencial econômico crescente dessas nações.

O grupo se reuniu pela primeira vez em 2006, sem a participação da África do Sul. Em 2011, com a inclusão da África do Sul, o grupo passou a ser conhecido como BRICS. Desde então, realizaram reuniões anuais para discutir questões políticas e econômicas globais, promovendo um ambiente de cooperação e desenvolvimento mútuo.

As conquistas do BRICS refletem sua importância, como a criação do Arranjo Contingente de Reservas (CRA) em 2014, com um fundo de US$100 bilhões, estabelecido para fornecer suporte financeiro em tempos de crise, garantindo que os membros do BRICS possam lidar com choques econômicos sem depender exclusivamente de instituições tradicionais, como o FMI.

Outra realização importante é o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), também fundado em 2014 durante a cúpula do BRICS em Fortaleza, Brasil. Com sede em Xangai, China, o NDB foi criado como uma alternativa ao Banco Mundial e ao FMI, com o objetivo de financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países emergentes, mesmo não pertencentes ao BRICS.

O banco não apenas busca oferecer uma nova fonte de financiamento para os membros do BRICS, mas também para outras nações em desenvolvimento, como Bangladesh, Emirados Árabes Unidos e Egito, que se juntaram como membros adicionais.

Em termos de comércio, o BRICS abriu grandes portas para o Brasil ter um relacionamento intenso com os outros países membros do grupo. Em 2022, o volume de transações comerciais entre o Brasil e o BRICS alcançou US$177,7 bilhões. O Brasil exportou principalmente soja, petróleo, ferro e carne bovina para os países do bloco, sendo a China o principal destino dessas exportações, com cerca de 90% do total. Em contrapartida, as importações brasileiras desses países foram majoritariamente compostas por produtos chineses, como adubos e fertilizantes. No período de janeiro a julho de 2023, o comércio entre Brasil e BRICS já totalizava US$102,3 bilhões, destacando a importância contínua desse bloco para a economia brasileira.

Espera-se que o BRICS torne a China um dragão ainda maior

A expansão do BRICS posiciona a China como a potência dominante do grupo - um verdadeiro dragão entre as aves. A população total dos países do BRICS ultrapassa 3,2 bilhões de pessoas, e seu PIB combinado é de aproximadamente US$24,7 trilhões. Essa base populacional e econômica fornece à China uma plataforma robusta para exercer sua influência, fortalecendo sua agenda política e econômica.

A inclusão da Arábia Saudita é o exemplo ideal da estratégia do fortalecimento da China, com a expansão do grupo. Como o segundo maior produtor de petróleo do mundo e uma das economias mais influentes do Oriente Médio, a Arábia Saudita traz um peso considerável ao BRICS. A aproximação da Arábia Saudita com a China, apesar de seu histórico de alianças com os Estados Unidos, reflete uma aproximação calculada e estratégica, trazendo mudanças nas dinâmicas globais.

A entrada de países como Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã contribui para a expansão e o fortalecimento da influência da China em territórios que ela costumava a ser distante.

O Egito, com sua população de mais de 100 milhões de habitantes e sua posição estratégica no Oriente Médio, se junta ao BRICS em um momento em que enfrenta uma grave crise econômica, com expectativa de conseguir uma injeção econômica que auxilie a sua recuperação e desenvolvimento econômico, a colaboração com a China, que tem se mostrado um parceiro disposto a investir em infraestrutura e desenvolvimento do país, chegou em boa hora.

Os Emirados Árabes Unidos, com a quarta maior economia da região, também prometem um impacto positivo nas relações comerciais do BRICS. A expectativa de injeção de capital no Banco do BRICS é um sinal claro das intenções de aprofundar as relações econômicas dentro do grupo.

A Etiópia, embora enfrente desafios econômicos, por conta de conflitos internos, pretende encontrar no BRICS uma oportunidade de aumentar sua presença global e superar suas dificuldades econômicas.

A entrada do Irã no BRICS representa um grande alívio para a nação, especialmente em um contexto de sanções internacionais que limitam suas opções comerciais. A aproximação com a China e a Rússia oferece ao Irã um bote salva-vidas enquanto o país tenta não se afundar completamente em um mar de dificuldades econômicas.

Entre os membros originais, a China é claramente a mais beneficiada com a chegada de novos países ao grupo. Sob essa perspectiva, é possível afirma que a expansão do BRICS é simplesmente a expansão da cauda do dragão chinês.

Por outro lado, essa expansão traz desafios específicos para o Brasil e a Índia. Ambos os países perdem protagonismo dentro do grupo e a oportunidade de ocupar uma vice-liderança, além do privilégio de ter no BRICS um canal exclusivo de comunicação com a China. A diluição da influência dos países originais resulta em uma dinâmica onde a China se torna ainda mais poderosa entre seus aliados, estabelecendo laços econômicos e diplomáticos essenciais que não garantem sua posição de liderança no grupo, mas também criam uma dependência dos outros membros em relação a ela.

A cauda do Dragão Chinês no Sul Global

O ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, enfatizou a necessidade do BRICS assumir um papel mais inclusivo e responsável em resposta às sanções ocidentais.

Esse posicionamento não é nenhuma surpresa, apenas reforça a política externa que a China tem construído ao longo desta década. Auxiliar os chamados "inimigos" ou "excluídos do ocidente", como são chamados os países que sofrem sanções econômicas de países ocidentais como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, entre outros. Essa foi a forma que a China encontrou de expandir a sua influência política e econômica, se posicionando como a grande líder do Sul global, mas também a grande oponente do Ocidente. Metaforicamente, neste cenário, podemos dizer que o dragão chinês se tornou o principal oponente da águia norte-americana.

Ao levar esse posicionamento para o grupo como um todo, a China consegue construir um escudo internacional em casos de futuras retaliações, ao mesmo tempo que reforça sua posição como líder do grupo.

A ideia é criar um cenário onde o BRICS se torne um contraponto ao G7, posicionando-se internacionalmente como um grupo com recursos para resgatar e fortalecer os países oprimidos pelo ocidente, livrando-os de opressões e buscando oferecer um futuro mais promissor.

À medida que o BRICS avança, a questão que se coloca é: se os outros países do BRICS estão dispostos a aceitar uma dinâmica onde a influência chinesa predomina, ou lutarão para garantir suas vozes e interesses em um cenário em rápida transformação? O futuro do BRICS dependerá da capacidade de seus membros de equilibrar interesses individuais e coletivos em um mundo onde a "cauda do dragão chinês" continua a crescer sobre o Sul Global.

O que está em jogo é mais do que apenas a influência econômica; trata-se de redefinir as relações internacionais em um mundo que, cada vez mais, parece se dividir entre velhas e novas potências. A ampliação do BRICS não é apenas uma questão de números, mas um indicativo das novas realidades geopolíticas que estão se formando. O Sul Global parece estar caminhando para a criação de uma nova hegemonia na região, desta vez controlada pelo grande e poderoso dragão chinês.