Pensar na importância das religiões é algo fundamental na sociedade contemporânea. Não é nosso objetivo avaliar as religiões do ponto de vista da expressão subjetiva da fé de um determinado grupo e respectivos valores e crenças, mas, sim, pensar na manifestação concreta da vivência dessa fé no cotidiano da sociedade.
Nesse aspecto de manifestação das crenças vinculadas a uma determinada religião, urge entender que a maioria das instituições religiosas prima por valores como a paz, a justiça e a solidariedade. Assim, nos perguntamos por que as mais diversas instituições não se unem em prol desses valores tão fundamentais para uma vivência social pacífica e harmoniosa?
Lutar pela paz é um desafio mundial no cenário em que vivemos muitas vezes tão tenso diante de tantas situações de vulnerabilidade da harmonia mundial. Se pensamos do ponto de vista filosófico, os grandes ideais do iluminismo do ser humano ainda não se efetivaram, conforme nos aponta o filósofo Jürgen Habermas, na obra Discurso filosófico da modernidade, isso porque como percebemos em pleno século XXI, com tanto desenvolvimento tecnológico, estamos ainda carentes de humanização, eivado de retrocessos em processos diplomáticos.
A diplomacia e o respeito pela soberania de cada país é fundamental para um processo de pacificação mundial. Outro princípio que nos parece essencial no processo de pacificação é um pacto efetivo de todos os países pela paz! Lutar pela paz é, no mínimo, sonhar que os países despendam mais com ações humanizadoras, como superar a fome no mundo do que propiciar o uso de armas.
Lutar pela justiça é primeiro sonhar com um sistema capitalista que valorize mais o ser humano do que apenas o capital financeiro. É lutar para que as pessoas sejam consideradas não como números e sim como pessoas. Nesse sentido, a definição clássica de que justiça é dar a outrem o que lhe pertence pode ser aplicada a diversas situações cotidianas, somada a uma interpretação da importância do respeito aos direitos da pessoa humana, inalienáveis, considerados direitos fundamentais.
Assim, lutar pela justiça é lutar para que relações mais humanas se tornem mais comuns na sociedade. Como nos legou Charles Chaplin, precisamos, sim, de inteligência, mas precisamos também de humanização e doçura.
Promover a solidariedade é um desafio em uma sociedade muitas vezes tão individualista. Quando presenciamos certos discursos religiosos em que se percebe o quanto a solidariedade foi superada pelo individualismo, constatamos que a religião parece ter-se desvirtuado do verdadeiro caminho. Basta ouvir alguns discursos de conversão a uma religião em que as pessoas dizem: agora eu consegui ter “o meu cônjuge”, “o meu carro”, “o meu emprego”, “os meus bens”. Evidentemente que nada contra agradecer pelas dádivas recebidas, mas vinculada a uma religião que está muito ligado aquilo que é material e ao individual não se apresenta uma dimensão coletiva.
No caso do Brasil, recentemente assistimos a um episódio muito lindo de solidariedade, pessoas das mais diversas ideologias, pontos de vista, religiões, ajudaram em muito na tragédia do Rio Grande do Sul (enchentes).
Enfim, os líderes religiosos podem se unir cada vez mais para pensarem em uma vivência religiosa no século XXI que seja mais humanitária, mais praticantes da fé. Oxalá, o “ser supremo” de todas as crenças seja referência para sermos éticos, lutando pela paz, pela justiça e promovendo a solidariedade.
Que o “ser transcendente” auxilie a humanidade a ser menos materialista e que nos unamos em projetos que busquem lutar pela paz mundial, pela não violência entre as nações e entre as pessoas. Que saibamos nos conscientizar da importância de superarmos valores apenas materialistas, financeiros, na vivência de uma fé que se abra para o individual, mas que também dialogue com a alteridade e com a solidariedade universal.