A cooperação entre a francofonia, a hispanofonia e a lusofonia envolve 5 organizações internacionais e engloba 102 Estados e governos. Atualmente, os 3 espaços linguísticos representam 1,2 mil milhões de indivíduos no mundo, cerca de 70 Estados ou governos têm o catalão, espanhol, francês, italiano, português ou romeno como lingua ofícial ou co-oficial. Esses países devem exercer toda a sua influência no panorama internacional, não se limitando apenas às questões linguísticas e culturais. As filiações entre as grandes áreas linguísticas e culturais não são acidentais. A Lusofonia é, acima de tudo, a língua portuguesa em toda a sua diversidade, mas é também o português na sua coabitação com as outras línguas.

A meu ver, a melhor estratégia passaria pela criação de uma verdadeira aliança entre os grandes espaços linguísticos em prol do multilinguismo. Na verdade, é uma aliança que já foi forjada, embora timidamente. Mas qual é a melhor forma de partilhar o saber, o maior bem da Humanidade?

Essas X-fonias, termo cunhado por Louis-Jean Calvet, reivindicam pertencer a uma única e grande família: a Latinidade. É o caso da Organização Internacional da Francofonia (OIF), da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e da Secretaria de Cooperação Ibero-Americana (SECIB).

Estes grupos são chamados a defender uma causa comum: a defesa e a promoção de uma língua partilhada por razões de ordem identitária e até utilitária, para garantirem, em conjunto, um lugar no panorama internacional, através da projeção de denominadores comuns. Além disso, verificamos semelhanças extraordinárias entre a OIF e a CPLP, como por exemplo, os elementos imaginários (no caso da primeira, o mito e, no caso da segunda, a utopia) que justificam a sua criação, que permitem propiciar uma aproximação entre ambas, nomeadamente, através de um diálogo preferencial.

A título comparativo, analisámos os 10 fatores do Barómetro Calvet que determina o peso das línguas em 3 componentes em 2050:

  • Número de falantes como língua não materna

  • Número de países nos quais a língua tem estatuto oficial

  • Número de artigos na Wikipédia – 64,8% para o português, 46,3% para o francês e 39% para o espanhol

  • Número de prémios Nobel de Literatura – 14,2% para o português, 44% para o francês e 23,4% para o espanhol

  • Entropia – 21% para o português, 9,7% para o francês e 37,6% para o espanhol

  • Taxa de natalidade

  • Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

  • Presença das línguas na Internet

  • Número de traduções como lingua de partida

  • Número de traduções como lingua de chegada

Estas previsões podem ajudar a determinar melhor as políticas e a fazer escolhas. Escolhas individuais, língua a língua (política da lusofonia, da francofonia, etc.) ou escolhas coletivas. No que toca a politologia linguística, sempre que essas escolhas visem três espaços linguísticos, será necessário estudar primeiro a teoria dos jogos e da decisão das três línguas em questão. O francês, o português e o espanhol não são tratados da mesma forma nas organizações internacionais.

Talvez as X-fonias devessem empenhar-se na formulação de propostas de política linguística que, além de lhes serem construtivas, também beneficiassem a gestão linguística da Europa, da qual ninguém quer falar.

Face ao desafio da globalização, nesta era de supremacia, talvez a latinidade seja o conceito mais importante. O português é uma língua românica, tal como o francês provém do latim. Como todas as línguas românicas, o português faz parte da família do Indo-europeu.

Em conjunto, podemos formar um contrapeso cultural, uma escapatória para a diversidade, colaborando com outras línguas que também lutam para afirmar a sua identidade. Segundo as previsões, este grupo de línguas vivas, cujo total de falantes está atualmente estimado em mil milhões, chegará aos 1,3 mil milhões em 2025.

Esta comunidade linguística de tradição latina é suficiente para contrabalançar as grandes ‘famílias linguísticas’, como a anglo-saxónica, a árabe e a chinesa. Diferenciar-nos-emos pela consciência dessa latinidade. Adotar uma simples abordagem de conflitos e rivalidades seria uma atitude ridícula e redutora, mas pregar o respeito pelas outras culturas, outras entidades linguísticas afigura-se muito mais indispensável para a latinidade, visto que o seu futuro depende do apoio ao multilinguismo. A diversidade cultural do mundo, a riqueza das diferentes visões, valores, crenças, práticas e expressões formam o nosso património comum e uma fonte de intercâmbios, inovação e criatividade, essenciais para a Humanidade.

Para tal, temos de lutar pela preservação da diversidade cultural num mundo que caminha a passos largos para a uniformização, neste contexto de internacionalização e aceleração das trocas. Sem multilinguismo genuino, a diversidade cultural permanece um conceito vazio. Não se trata de travar uma luta estéril contra a língua inglesa, que se impôs como língua de comunicação internacional, e sim de promover o multilinguismo, uma extensão cultural do multilateralismo.

A aliança das línguas românicas, que facilitam a intercompreensão, tem de continuar a fazer-se ouvir no plano internacional, para que a diversidade linguística passe a constar da agenda intergovernamental e para que a sua promoção passe a ser uma prioridade dos Estados e governos.

Mas, além destes aspetos linguísticos, esta aliança também deve ter peso político para a construção progressiva de um novo multilateralismo, mais humano e mais atento à diversidade que representamos, em prol de um ‘humanismo universal’.