Ao considerar o passado que remonta ao período da escravatura colonial onde a África assistiu várias expedições ocidentais com pretensões filantrópicas banhadas de reconhecimento das possessões geográficas, visando traçar as balisas que seriam decididas na grande conferência de Berlim que culminaria com a partilha desenfreada de África pelas potências europeias. Quem diria que as simples trocas comerciais desenhariam um percurso tão sinuoso como o da escravatura secular sobre os povos africanos que eram levados como escravos em condições deploráveis em navios para trabalhar nas minas e plantações ocidentais, entre outros.

Volvidos tantos séculos, em plena pós-modernidade, a mesma África é arrastada para um neocolonialismo financeiro perpetrado pelas mesmas potências que no passado desenharam a ideologia de uma escravatura sangrenta e vulgar para o continente.

Este neocolonialismo assenta suas bases no acometimento ao endividamento dos países africanos por via de financiamento para projectos em diversas áreas das políticas públicas. Mais uma vez e como sempre os ocidentais de forma clara e evidente estudaram minuciosamente a sua presa de sempre: o comportamento corrupto e ganancioso de alguns lideres africanos.

A ganância, assim, serviu de terreno fértil para o lançamento da semente do neocolonialismo financeiro moderno em África. Tendo em conta a descoberta dos recursos naturais pela África, foi aguçada a cobiça dos ocidentais pelas matérias-primas africanas. Visando alimentar a sua crescente industrialização a ritmos cada vez mais acelerados, este neocolonialismo financeiro suga qualquer tentativa, ou possibilidade de uma África livre das dívidas com o ocidente.

Também se impossibilita um desenvolvimento económico sustentável vistoso, as lideranças africanas aderiram a este neocolonialismo financeiro de forma cega e banal fazendo acordos secretos de endividamento dos seus países a custo individual e a revelia de seus povos que clamam por uma saída do subdesenvolvimento. Mesmo com recursos a vista, o endividamento passou a ser uma constante que deixa a África longe dos trilhos do desenvolvimento devido a ganância das lideranças.

É preciso destacar que na maior parte das vezes, o povo não se beneficia de nenhum projecto que tenha sido viabilizado pelo endividamento com algum nível de transparência. Parece propositado e do interesse do ocidente que estes países africanos não se tornem autossuficientes do ponto de vista económico e de desenvolvimento sustentável, e de alguma forma independentes em todos os sentidos.

As lideranças africanas lutaram tanto por uma independência africana, quando parecia que conseguiram o que tanto almejavam, sucumbiram à maldição do neocolonialismo financeiro moderno. Mais uma vez a África está mergulhada no colonialismo financeiro que parece ainda pior que a escravatura do homem pelo homem, pois incapacita todas as tentativas de desenvolvimento económico. O preço da dívida externa sempre aumenta, limitando as pouquíssimas chances de sobrevivência dos povos africanos, que são os que mais sofrem com este sistema financeiro.

Se a África não tomar consciência disso seremos eternos escravos financeiros do ocidente, e a nossa soberania será constantemente beliscada e comprometida pelo preço da dívida externa. As lideranças africanas podem muito bem virar este jogo e se tornarem autossuficientes com os recursos que dispõem sem aderir ao aliciamento do endividamento financeiro externo.

Há uma necessidade urgente de comprometimento das lideranças africanas, o que implica deixar de lado a corrupção e as pretensões individuais para aderir as causas nacionalistas e colectivas, uma abertura dos contratos secretos de endividamento para que se tornem públicos na busca de ajuda interna para negociar a divida externa, e tornar a África governável.

O neocolonialismo financeiro manifesta-se onde há fragilidades estruturais como corrupção institucional, e um comportamento direcionado para o da máfia. De contrário a semelhança do passado a África será uma colónia das matérias-primas do ocidente, ou no mínimo o berço do combustível industrial do ocidente em plena modernidade, a África não precisa de mais endividamento, e sim de lideranças comprometidas com a causa africana de liberdade e independência em todas as esferas da vida pública.