Estudos recentes revelam que, no Brasil, pelo menos sete em cada dez alunos já fizeram uso da Inteligência Artificial (IA) para auxiliar em seus estudos. Nos Estados Unidos, a situação é ainda mais expressiva, com 90% dos estudantes afirmando que a experiência de aprendizado com o ChatGPT é superior àquela sob a orientação de um tutor. É evidente que as novas tecnologias têm promovido uma transformação significativa nas rotinas de diversos setores, inclusive na educação, o que levanta questões sobre a possível substituição dos educadores pela IA. Este é um tema controverso, que suscita debates e demanda esclarecimentos mais profundos.
De acordo com a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a IA possui o potencial de enfrentar alguns dos maiores desafios educacionais atuais, proporcionando inovações nas práticas de ensino e aprendizagem, além de acelerar processos para garantir uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade. No entanto, a organização também ressalta que os avanços tecnológicos rápidos estão acompanhados de riscos e desafios consideráveis.
Ao longo deste ano, foi lançado pela organização um novo documento intitulado AI Competency Framework for Teachers (AI CFT) durante a 2ª edição da Digital Learning Week, um evento realizado anualmente que se concentra na aprendizagem digital e na transformação educacional. Este guia visa auxiliares os educadores na aquisição de competências relacionadas ao uso de ferramentas de inteligência artificial, capacitando-os a integrá-las em suas atividades acadêmicas de maneira segura, eficaz e ética.
O conteúdo do documento é estruturado em cinco áreas de competência: mentalidade centrada no ser humano, ética em inteligência artificial, fundamentos e aplicações da IA, pedagogia da IA e a utilização da IA para o aprimoramento profissional dos docentes. Conforme destacado pela UNESCO, essas áreas de competência representam elementos interconectados de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes que os professores devem cultivar para incorporar a IA em suas abordagens pedagógicas, facilitar o aprendizado e promover seu próprio desenvolvimento profissional.
Conforme o AI CFT, as competências podem ser aprimoradas em três etapas. No primeiro nível, os educadores iniciam o processo de aquisição e aplicação das habilidades e conhecimentos básicos para o manuseio da inteligência artificial. O segundo nível exige que os professores sejam competentes em integrar a IA em suas atividades pedagógicas. Por fim, no último estágio, a UNESCO enfatiza que os docentes devem possuir uma compreensão crítica sobre os impactos sociais da IA, atuando, inclusive, na elaboração de políticas e normas éticas relacionadas ao uso dessa tecnologia.
As discussões em aula sobre os desafios éticos da tecnologia digital preparam os alunos para debates ao longo de suas carreiras. Permitir que desenvolvam hoje competências preparadas para o futuro e fornecer apoio integrado com a tecnologia, é fundamental para a adoção eficaz da IA.
No entanto, a inteligência artificial não oferece apenas novas possibilidades aos estudantes. Também dá aos professores mais tempo para fazer o que amam: ensinar.
Com a tecnologia facilitando as tarefas operacionais diárias, os educadores podem dedicar mais tempo ao elemento humano da especialização, causando um impacto significativo no desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Os administradores educacionais também devem participar do debate. Quando os professores enfrentam estes desafios na sala de aula, necessitam de processos e políticas que os orientem. Os alunos devem citar trabalhos gerados por IA em suas pesquisas, bem como quaisquer fontes bibliográficas em trabalhos acadêmicos. Mas surgirão novos desafios, exigindo novas práticas, métodos e soluções.
Não podemos interromper a educação para construir estas soluções nos nossos próprios termos. Para tanto, temos a tarefa de criá-los em tempo real na aula, construindo à medida que aprendemos.