No século XXI, a ideia de alfabetização está se expandindo além das simples letras e números que aprendemos na escola. Claro, a alfabetização linguística ainda é fundamental para ler, escrever e interpretar textos em um mundo cada vez mais digital. A alfabetização digital, por exemplo, é como aprender a navegar por esse vasto oceano de informações digitais com habilidade e discernimento, usando tecnologias de forma inteligente e criativa. E aí entra a alfabetização ética e cidadã, que são como o guia moral e cívico para navegar nesse mar turbulento da vida moderna, ajudando a tomar decisões responsáveis e respeitosas.

Mas, espere! Tem mais uma forma de alfabetização que está ganhando destaque: a alfabetização visual. É como aprender a "ler" o mundo através das imagens, gráficos e formas visuais que nos rodeiam. Você já parou para pensar como as imagens podem transmitir tanto quanto as palavras? A alfabetização visual não só nos ajuda a interpretar significados ocultos em um meme engraçado, mas também nos capacita a criar nossas próprias mensagens visuais para expressar ideias complexas de maneira simples e direta.

No contexto educacional, a alfabetização visual não é apenas um complemento legal para as outras formas de alfabetização, mas uma habilidade essencial para entender e se comunicar em um mundo que está cada vez mais focado no visual e no digital. Portanto, se você já se pegou analisando detalhes em uma foto, entendendo a mensagem de um infográfico ou se encantando com a arte de um filme, saiba que está exercitando sua alfabetização visual - habilidade que não só enriquece seu entendimento do mundo, mas também abre portas para novas formas de expressão e conexão com os outros. Então, vamos explorar juntos esse universo visual que nos convida a ver além do óbvio e a interpretar o que está além das palavras.

O que é alfabetização visual?

A alfabetização visual é mais do que apenas uma nova “moda” educacional; é uma janela para um mundo de aprendizado que vai além das palavras e números. Imagine poder "ler" uma imagem da mesma forma que você lê um livro - interpretando não apenas formas e cores, mas também captando a essência e a mensagem que ela transmite. Essa habilidade não se resume simplesmente a reconhecer o que está na frente dos seus olhos, mas a entender como cada elemento visual se combina para contar uma história ou transmitir uma ideia.

Kress e van Leeuwen1 explicam que a gramática visual, como a estrutura, a hierarquia e o contraste, são como as regras que governam a linguagem escrita, mas aplicadas ao mundo das imagens. Assim como as palavras formam frases e textos, os elementos visuais formam composições que podem ser tão ricas em significado quanto qualquer texto escrito. É como aprender um novo idioma, onde as cores, formas e arranjos não são apenas estéticos, mas carregam mensagens profundas e complexas.

Mas não pense que a alfabetização visual substitui a tradicional alfabetização textual. Na verdade, ela complementa e enriquece a forma como absorvemos informações. Enquanto a leitura de palavras nos ensina a decodificar o mundo através da linguagem escrita, a alfabetização visual nos capacita a decifrar o mundo visual que nos cerca, abrindo portas para novas maneiras de aprender, criar e se comunicar.

Benefícios da alfabetização visual

A alfabetização visual vai além de simplesmente olhar imagens; ela é como aprender a “ler" o mundo ao nosso redor de uma maneira completamente emocionante, pois a sua leitura estará embebida dos seus conhecimentos prévios, do seu repertório e da sua visão de mundo. Já aconteceu de ver uma charge cômica que utilizasse só a linguagem não verbal, ouvir seus colegas rindo, não entender o porquê do riso e depois de alguns minutos captar o humor da imagem e rir também? O fato de ter rido, é sinal de que houve a alfabetização visual, mas o fato de ter demorado um pouco para entender a charge, pode sinalizar uma fragilidade na aquisição do processo de alfabetização visual. O momento “tcharam” da leitura de imagem é quando somos capazes de entender o propósito dos traços, das expressões faciais, das cores, dos cenários e interpretar as mensagens implícitas de maneira rápida, afinal, a alfabetização visual promove:

  • Desenvolvimento do pensamento crítico: Imagine entender uma mensagem transmitida apenas com emojis. A alfabetização visual ensina os alunos a não apenas ver, mas a interpretar e analisar o que as imagens estão realmente dizendo. É como descobrir os segredos escondidos por trás de cada cena, desafiando a mente a pensar criticamente sobre diferentes pontos de vista e mensagens ocultas.

  • Estímulo à criatividade: Se você já se pegou admirando uma obra de arte e imaginando histórias por trás das pinceladas, então você entende como a alfabetização visual pode despertar a imaginação. Ela permite que os alunos explorem e expressem suas próprias ideias de forma visual, criando conexões únicas entre cores, formas e significados que desafiam as fronteiras da linguagem escrita.

  • Ampliação do repertório cultural e social: Ao mergulhar em imagens que capturam diferentes culturas, histórias e experiências humanas, a alfabetização visual abre janelas para um mundo diversificado e empático. É como viajar pelo globo sem sair da sala de aula, absorvendo perspectivas variadas e desenvolvendo uma compreensão profunda da complexidade do nosso mundo.

  • Preparação para o mundo digital: Em um era onde memes dominam as redes sociais e infográficos explicam o complexo de forma simples, a capacidade de interpretar e criar conteúdos visuais se torna uma habilidade fundamental. A alfabetização visual equipa os alunos com as ferramentas necessárias para navegar e participar de maneira eficaz em um mundo cada vez mais visual e digital.

Esses benefícios não apenas enriquecem a jornada educacional dos estudantes, mas também os capacitam a se tornarem cidadãos críticos, criativos e culturalmente conscientes em um mundo que valoriza cada vez mais a comunicação visual. Então, prepare-se para mergulhar nesse universo visual que expande horizontes e transforma a maneira como vemos e entendemos o nosso entorno.

Como mensurar a alfabetização visual

Mensurar a fluência na leitura de imagens é como desvendar um enigma visual, onde cada detalhe conta uma história diferente. Para isso, é essencial criar instrumentos de avaliação que capturem a complexidade dessa habilidade. Aqui estão algumas sugestões de rubricas adaptadas para avaliar diferentes aspectos da alfabetização visual, alinhadas com a gramática visual proposta por Kress e van Leeuwen1. Os autores destacam que as imagens possuem uma gramática própria, assim como a linguagem verbal, com sistemas de escolhas que os designers fazem ao criar imagens:

  • Rubrica de observação e identificação: Imagine ser capaz não apenas de ver uma imagem, mas de identificar cada detalhe importante, como um detetive que decifra pistas. Nesta rubrica, os alunos são avaliados pela sua capacidade de identificar os elementos principais na imagem, observar detalhes específicos como cores, formas e texturas, e descrever com precisão o que está acontecendo na cena. Desde os iniciantes até os mais avançados, cada nível de desempenho revela um olhar mais afiado e uma compreensão mais profunda do que os olhos veem.

  • Rubrica de interpretação e compreensão: Aqui, a avaliação vai além do que é visível à primeira vista. Os alunos são desafiados a inferir significados implícitos na imagem, a conectar diferentes elementos visualmente e a relacionar a imagem com suas próprias experiências pessoais ou conhecimentos prévios. É como ler entrelinhas visuais e descobrir novos significados que vão além da superfície, mostrando um entendimento contextual e uma sensibilidade para captar nuances visuais.

  • Rubrica de expressão e criatividade: Imagine expressar sentimentos ou ideias inspirados por uma imagem usando um vocabulário que pinta quadros com palavras. Nesta rubrica, os alunos são avaliados pela capacidade de expressar suas interpretações de forma criativa e original, usando o vocabulário adequado para descrever e interpretar cada detalhe visual. É como transformar o que se vê em palavras que dançam na mente, revelando uma imaginação vibrante e uma habilidade de comunicação visual única.

A avaliação contínua e integrada ao currículo é essencial para acompanhar o progresso dos alunos ao longo do tempo, permitindo que cada descoberta visual se transforme em um passo em direção a uma alfabetização visual cada vez mais proficiente e sofisticada. Então, prepare-se para mergulhar nas nuances das imagens e descobrir um mundo de significados visuais que aguardam para serem decifrados.

Alfabetização visual como prática inovadora

A alfabetização visual não é apenas uma habilidade a mais no currículo; é uma verdadeira revolução na forma como entendemos e aplicamos o conhecimento na educação. Ao integrar a leitura de imagens desde cedo, estamos não apenas diversificando as formas de aprendizagem, mas preparando os alunos para um mundo onde a comunicação visual é essencial. Essa abordagem não só aguça o pensamento crítico, mas também potencializa a criatividade e a adaptabilidade dos estudantes, essenciais em um mundo dinâmico e interconectado.

Como a BNCC e os campos de experiências apoiam a alfabetização visual

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Brasil2 abraça as linguagens visuais como uma parte vital da educação contemporânea. Os Campos de Experiências, estruturados por essa diretriz, proporcionam um ambiente educacional rico para que os alunos explorem diferentes formas de expressão, incluindo a leitura de imagens. Por exemplo, o campo "Traços, Sons, Cores e Formas" incentiva os alunos a mergulharem na diversidade das mídias visuais, compreendendo como cada elemento comunica ideias e emoções de maneira única.

Conclusão

Em resumo, a alfabetização visual não é apenas uma ferramenta educacional; é um verdadeiro catalisador para o desenvolvimento cognitivo, criativo e social dos alunos. Ao ensinarmos os estudantes a interpretarem e criarem imagens, estamos capacitando-os não apenas como aprendizes, mas como cidadãos críticos e participativos em um mundo globalizado. Integrar a alfabetização visual desde os primeiros anos não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para preparar as crianças e os jovens para os desafios e oportunidades do século XXI. Este investimento não só enriquece a experiência educacional, mas também fortalece a educação como um motor de mudança social e cultural positiva, promovendo um olhar mais inclusivo e equitativo.

Notas

1 Kress, G., & van Leeuwen, T. (2006). Reading Images: The Grammar of Visual Design. Routledge.
2 Brasil. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2017.