O poema Instantes tem atribuição a vários autores, desde autoria atribuída falsamente a Jorge Luis Borges (argentino) pós publicação por Moacyr Scliar (gaúcho de Porto Alegre) em uma de suas colunas no ano de 1987, que desmentiu posteriormente noutra publicação no jornal Zero Hora.

Numa viagem a Buenos Aires, conversou com a viúva de Borges, e Scliar ouviu dela que seu marido não havia escrito tal poema.

Nessa época, os editores da revista de bordo da viação Transbrasil (maio/junho de 1987) também publicaram o poema erroneamente de autoria de Jorge Luis Borges.

Na revista de Domingo do JB, a seção Comportamento chamou minha atenção com o título “Um poema vai à praia”, e ótimo subtítulo que amarra o leitor: "Depois do biquíni fosforescente, o verão ganha os versos da moda".

Tomei conhecimento do poema Instantes lendo essa revista dominical do Jornal do Brasil, coqueluche nas praias da Zona Sul do Rio nos fins de semana. Além das tradicionais guloseimas chá Matte Leão gelado e biscoitos de polvilho Globo, ainda consumidos em larga escala nas praias, a revista foi acessório nos verões cariocas.

Não me fazia de rogado; logo cedo de domingueira, mesmo tendo que ir trabalhar no jornal Tribuna de Imprensa à noite, por volta de 8h sentava numa cadeira alugada na praia do Leme, Posto 1, quase em frente ao então famoso Hotel Mèridien, prendia o Jornal do Brasil com mais de 60 páginas standard (31,75 cm de largura por 56 cm de altura), mais um tablóide (31 x 47 cm), e encartes catálogos de preços de supermercados. Sacava a revista (21 x 30 cm) de dentro desse volume de páginas, e ia direto para o índice.

A editoria da revista era de comportamento, críticas, entrevistas, e novidades, principalmente o que trazia na estação do verão. E uma das novidades foi a explosão do poema Instantes. Nossa intelectualidade tinha modos e tempo para leituras, chegando a debates na praia antes e durante o chope; depois sexo, que ninguém é de ferro. Aqui um parêntese: as mulheres, 'minas' que é diminutivo carinhoso de meninas e elevado ao bom carioquês, eram muito, muito, muito lindas e naturais.

A abertura do texto indica o modo febril de vida de hoje na seguinte ordem: "Um poema entrou na moda. Ele vem ganhando mesas de bar, sendo 'xerocado' e distribuído entre os amigos e até recitado na televisão". Aqui abro outro parêntesis: 'xerocado' significa o que deve ser copiado; as pessoas acostumadas a fazerem cópias em máquinas da multinacional Xerox, logo eternizaram o termo 'fazer uma xerox' em vez de fazer uma cópia. E soma ao modo de hoje essa mania analógica e de bom termo: "É o 'torpedo' (bilhetinhos curtos e rápidos) da estação, circula como toque de amor, convite a aventuras desconhecidas e outras libertações existenciais."

Instantes me fez pensar sobre o tempo, atual modo de vida naquele tempo, amores; nossa quão platônico fui apaixonado por tantas e apenas uma, a aeromoça me deixou voando; na sofrência, de bar em bar. Ela, não sei, talvez, sei onde mora - ainda dou uns rasantes numa dose ou outra de Old Parr.

... “A paixão me pegou
Tentei escapar, não consegui
Nas grades do meu coração
Sem querer eu te prendi...

Refrão do samba do Grupo Revelação, chamado A paixão me pegou, buzinando nos meus ouvidos e acelerando o coração...

As circunstâncias com as quais nos deparamos eu e ... coça a digitação querendo escrever o nome dela..., e ficou nesse ponto circunstancial, apesar de nos reencontrarmos algumas vezes aqui no Rio. Fomos cada um para seu canto desde que ela me convidou para ir num barzinho ao chegar da Europa. Escolheu um famoso point em Ipanema, e lá a encontrei numa mesa ao lado de um holandês praticante de parapente (sailwing em inglês), que ... conheceu nos Países Baixos e a acompanhou numa visita pós Holanda ao Brasil.

Creio que foi a primeira vez que me senti fora do aquário, e naquele instante. Conversavam em inglês como se eu não entendesse nada, até que o holandês disse para ela ter certeza que eu era apaixonado por ela, que institivamente me olhou para confirmar o que nunca havia ouvido, mesmo tendo certeza... Cabreiro, sem ação por um segundo, percebi uma ex-namorada em outra mesa com uma turma, pedi licença e de lá fui embora.

Aí, entra a frase do poema:

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros...
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos...

As paixões vêm e vão, outras permanecem, esta cravada.

Há ainda muitas dúvidas sobre a autoria do poema, que começam lá nos Estados Unidos, em que a autoria de Instantes seria do escritor Ram Dass, outra está arraigada na Argentina...

A agência de publicidade DPZ que pretendia publicar o poema por encomenda de cartão natalino para uma grande empresa teve confirmação na Editora Bantan Books, que o poema constava no livro de Ram Dass Journey of awakening (na tradução livre Jornada do despertar).

Ram Dass apresenta este livro sobre meditação falando que:

Todos já experimentaram um momento de pura consciência. Um momento sem pensar 'Estou ciente' ou 'Isto é uma árvore'. Tais momentos trazem uma sensação de retidão, de clareza, de estar em um. Tais momentos são a essência da meditação.

Mas há ainda a Nadine Stair, escritora norte-americana, que também tem crédito de autoria do poema Instantes, até chegar no seu "verdadeiro" autor Don Herold, que extraiu Instantes de seu poema I'd Pick More Daisies (tradução livre Eu escolheria mais margaridas), publicado na famosa revista Reader's Digest, em outubro de 1953.

Gilberto Cunha confima em sua coluna no portal ON, O Nacional: "Instantes não seria nem de Jorge Luis Borges e nem de Nadine Stairs. Os versos originais, com algumas modificações, seriam do escritor e humorista americano Don Herold (1889-1966), publicados na Reader's Digest, edição de outubro de 1953.”

Não fui conferir essa informação.

(Cunha, em seu artigo de 07/12/2023)

Já no verão carioca, que mata qualquer adversidade, o Rio de Janeiro mantém postura da Cidade Maravilhosa.

E o Rio de Janeiro continua lindo; nessa estação há uma atmosfera de esplendor, alegria, mais clima mais fresco da brisa se é que posso ser tão redundante, e, vejam só, revivo o poema Instantes como na primeira vez que li sonhando com ela, rima...

É muito bom um texto, um poema, excelente poema, que nos faz rejuvenescer, ter o coração acelerado como no primeiro encontro adolescente com a menina amada... até a pele enrugando estica e brilha.

Não posso me furtar desse ponto na matéria publicada na revista de Domingo falando da provável origem, descoberta do poema. Talvez tenha sido desligado, ou desastrado, mas me encantei à época apenas com o poema, e com a praia ainda vazia tentei decorar para declamar para ELA, olha que vexame hoje, talvez - a gente declamava poesias para a futura amada, amigas.

Oxe! Na 65 (sauna na Rua do Rosário, Centro do Rio), ganhei uma loira russa, quase 2m de altura, lindíssima: olhos verdes, corpo delineado, falsa magra. Houve inicialmente muitos risos por conta da diferença de altura frente ao espelho medidor num quarto, minha cabeça chegava na altura dos seios dela.

Declamei parte de Instantes:

...Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Isso me deu guarida: pagamentos do quarto ficaram por conta dela muitas vezes.

Ah, o referendo da revista. Na matéria da Domingo que apresenta Instantes, diz que um aluno da Avatar Cultura e Metafísica, do bairro Botafogo, foi quem levou o poema para a empresária e editora Christina Oiticica, esposa do mago Paulo Coelho. Oiticica vem a ser minha primeira editora de uma antologia de poemas em Brasília, em... ah, deixa quieto o ano...

Instantes

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um paraquedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

Como veem, ainda estou com 69 teimando com escritos e pensamentos, com ações para chegar ao meu centenário, em 21 de abril de 2055. Nos vemos por lá...

Hasta la vista, baby!