Ele tinha cerca de 70 anos, enquanto ela, talvez, possuía uns 5 anos a menos. Eu estava do lado de fora do restaurante, sentado em um banco, aguardando a chegada da minha família e observando-os através do vidro no fundo do salão. Não sei por que, comecei a observá-los. Eu gostaria de estar usando óculos escuros para disfarçar, desviar o olhar em outra direção, mantendo a discrição ao observar o casal. No entanto, usar óculos escuros à noite seria um exagero... Tive que manter a discrição sem perder os detalhes da cena.
Ambos apresentavam boa aparência: ele com o cabelo bem cortado, vestindo uma camisa social azul escuro de colarinho italiano, postura ereta, gestos firmes, olhar tranquilo, e mesmo à distância, posso afirmar que usava um bom perfume. Ela estava de costas, mas ocasionalmente, com movimentos de cabeça, era possível perceber seu perfil elegante e bem cuidado. Apesar da idade, como quase todas as mulheres dessa faixa etária, não tinha cabelos brancos... Vestia uma roupa bege e sobre ela um xale trançado com originalidade sobre os ombros, cujas pontas caíam pelas costas.
No entanto, o que chamou minha atenção, antes de tudo, foi o fato de que eles destoavam das demais mesas do salão. Simplesmente conversavam, olho no olho. Parecia que, para eles, aquela era a única mesa no restaurante. Um salão cheio de pessoas e apenas aquela mesa para dois existia.
O garçom chegou com uma garrafa de vinho branco em um balde de gelo e mostrou apenas para ela. Isso me pareceu estranho. Ela acenou positivamente e foi servida. Fiquei atento e ainda mais interessado. O garçom voltou com uma garrafa de vinho tinto, a apresentou a ele e serviu. Dois vinhos diferentes em uma mesa de casal! Isso me intrigou. Eles brindaram, cada um deu um gole, colocaram as taças contrastantes sobre a mesa e deram as mãos. Permaneceram por um bom tempo naquele enlevo, acariciando as mãos, trocando olhares, sorrisos e palavras.
Parecia haver preferências nítidas em relação a cores claras e escuras. Uma diferença marcante no vestuário e na escolha das bebidas. Isso desencadeou uma divagação: se servissem um pratinho misto de azeitonas verdes e pretas, ela comeria apenas as verdes e ele as pretas. Na escolha dos pratos, ela optaria por um peito de frango ou peixe, enquanto ele escolheria um filé mignon, provavelmente... A sobremesa dela seria um sorvete de creme e a dele, um de chocolate. Aparentemente, esses dois conseguiam conviver tranquilamente com preferências divergentes. Pensei então que seria um problema se um tentasse impor seu gosto ao outro:
— Vinho tinto é o verdadeiro vinho. Experimente este. Você vai aprender a gostar.
— Não quero aprender. Estou satisfeita assim.
— Você ficou obcecada com isso. Se tomasse o tinto, evitaríamos ter que pedir duas garrafas.
— Se for por isso, peça apenas uma garrafa. Do branco!
— Tá, deixa pra lá!
Fiquei imaginando quantas outras diferenças poderiam existir entre eles, como em qualquer casal. E como é necessário controlar nossa tendência de querer fazer o outro semelhante a nós mesmos, até em coisas irrelevantes...
Muitas vezes, acabamos apreciando no outro apenas aquilo que é semelhante a nós. Como se fôssemos peças de um quebra-cabeça, exigindo outra peça que se encaixe perfeitamente em todas as características e nuances. Nossa incorrigível afeição pelo igual e rejeição pelo diferente. Esses dois pareciam ter superado tudo isso e encontrado o caminho da verdadeira aceitação: divertiam-se com o que é diverso.
Dei uma olhada ao redor no ambiente. Consternado, percebi o protagonismo dos celulares. Incrivelmente, em todas as outras mesas, havia celulares estacionados ou em plena atividade. Tanta gente com suas "armas" sobre a mesa, prontas para agredir a companhia ao se ausentarem com longos olhares para a tela. Especialmente nas mesas de casais, onde na maioria das vezes, a retaliação do outro é fazer o mesmo: ambos absorvidos pelos celulares como uma película de vidro. Corpos presentes, almas ausentes...
Isso me levou a uma digressão: será que o celular funciona como uma fuga das diferenças? Talvez o que nos atraia tanto nele seja a homogeneidade dos grupos, das opiniões, dos interesses semelhantes. Ali, o controle é nosso: diante de uma divergência, podemos sair do grupo, bloquear o contato ou ignorar. Visitamos apenas os sites que nos interessam, vemos apenas as notícias que queremos, falamos apenas com quem pensa como nós, ouvimos apenas o que nos agrada. E sempre protegidos pela distância, sem precisar enfrentar o olhar do outro. É o império da vontade própria, a prevalência do nosso jeito de ser. O solitário troglodita que temos dentro de nós encontra ali sua caverna! Sem incômodos, sem interrupções, sem contrariedades, sem precisar ceder, sem diferenças...
Voltei minha atenção para a única mesa de casal no restaurante. Ele tirou um pequeno envelope do bolso e entregou a ela, que abriu e começou a ler o conteúdo. Não consegui ver o rosto dela, mas ao terminar a leitura, ela reagiu pegando as duas mãos dele e o beijando carinhosamente. Em seguida, deslizou a mão direita pela face esquerda dele, numa carícia suave que percorreu da orelha até o queixo. Ele pareceu ir ao céu e voltar, sorrindo com os olhos.
Neste momento, minha família chegou, e precisei ir embora, ainda olhando para trás...
Para mim, o que estava testemunhando era verdadeiramente fazer amor em público!