O Centro Interpretativo do Brulhão (CIB) inaugurado no dia 15 de setembro 2024, pretende ser uma aposta para a salvaguarda do património imaterial cultural da localidade de Vales do Rio, no concelho da Covilhã. O espaço nasceu no edifício da antiga pré-escola da freguesia, requalificando e reabilitando ao cujo título que nos encarrega de esgrimir aqui, o CIB. Colocando o acento tónico na sua poderosa tradição transmitida de geração em geração, ao abrigo de uma candidatura do Centro Interpretativo do Brulhão à Medida 10.2.1.6 – Renovação de Aldeias Gall Aderes, no PDR 2020, conseguindo a sua aprovação.

A construção do Centro Interpretativo do Brulhão representa o momento e um valor significativo para a comunidade local, simbolizando a realização de um sonho que foi defendido em décadas por alguns elementos associativos, autárquicos e pelos que sempre valorizaram o património cultural, natural e gastronómico de Vales do Rio, bem como da região.

O envolvimento da comunidade é um testemunho do poder de persistência e da valorização da identidade local. O facto de o autarca da localidade sugerir que a inauguração poderá coincidir com o regresso do FestiVales – Festa da Tradição, da Folia e do Brulhão, evento que celebra a iguaria típica da região particularmente no panorama simbólico, tradicional e único. Esta sincronização resulta sugerindo uma união entre a valorização do passado e a celebração do presente, conferindo ao centro um caráter educativo e interpretativo, mas também um papel ativo na promoção cultural e turística da região tendo como dever cuidar, zelar e interpretar o legado.

É o momento de reconhecimento do brulhão como algo mais que um elemento de identidade natural, será uma componente de profundidade e riqueza cultural da comunidade, que, frui uma vida naturalmente e continua a ser celebrado aquando da sua conceção através do seu evento FestiVales. Doravante o centro interpretativo pode não ser só um espaço físico de aprendizagem, mas um ponto de encontro onde a história, a tradição e a celebração se entrelaçam, podendo regenerar os laços da comunidade e desenvolver a abrangência do património de Vales do Rio.

O brulhão é uma representação viva da riqueza gastronómica da localidade, é mais do que um prato típico, é um símbolo da tradição e dos costumes locais, que guarda em si o sabor de uma história que atravessa gerações. A sua raridade nos dias de hoje e a dificuldade em encontrá-lo à venda fazem dele uma verdadeira iguaria, podendo compará-lo a nível textural ao maranho, iguaria esta que se vê confecionada na zona do pinhal interior agora província da beira baixa, falamos concretamente da vila da Sertã. Profundamente ligada ao território e à memória coletiva das freguesias da corda do rio Zêzere, especialmente nas localidades de Peso e Vales do Rio, que em boa verdade esta última tem vindo a cuidar da própria matéria que nos debruçamos aqui e a qual recebe o espaço interpretativo.

Anteriormente, o brulhão era uma presença certa nas mesas em dias de festa, servia para alimentar e festejar, mas também para celebrar a união e o espírito da comunidade, da família e da festividade justamente. A sua preparação utilizando o estômago da cabra e enchendo-o com uma mistura rica de carne de porco, arroz, chouriço e tomatada envolve um ritual que respeita as práticas ancestrais sendo o produto endógeno, onde cada tempero é com cuidado a ser meticuloso e escolhido para criar uma explosão de sabores que evoca as tradições da(s) localidade(s), da cova da beira e na denominada corda do rio Zêzere.

Os ingredientes que destacam o brulhão de outras iguarias semelhantes é o serpão e a carne de porco. O serpão é uma variedade de tomilho nativa da região, que lhe confere um sabor inconfundível e distinto. Esse toque especial reflete a estreita ligação entre a gastronomia local e a flora endémica, mostrando como a culinária tradicional é profundamente enraizada no próprio território.

Ao saborear o Brulhão, é possível sentir os aromas e as paisagens da região, tornando a experiência verdadeiramente única. Portanto, o brulhão é um prato cuidadosamente confecionado, mas num elo que se conecta às gerações passadas com o presente. Mantê-lo vivo é, de certa forma, preservar a identidade da região e honrar as tradições que moldaram a região, garantindo que esse pedaço da herança cultural não seja esquecido e continue a ser celebrado em eventos como o FestiVales, a Festa em Honra de Santo António, na época natalícia e dentro do que a religiosidade gastronómica assim o desejar convidando a embarcar numa viagem autêntica imersiva onde as raízes culturais prevalecem.

A iniciativa de construir o Centro Interpretativo do Brulhão, conforme destacada pelo presidente da União de Freguesias de Peso e Vales do Rio, visa preservar, mas também promover a cultura e a gastronomia local como um atrativo turístico relevante. Ao situar o centro como um ponto de interesse na zona da corda do rio, enfatiza o seu potencial em criar um impacto positivo para toda a região, atraindo visitantes e valorizando a riqueza cultural e gastronómica da localidade. O centro interpretativo é mais do que um simples espaço expositivo, pretende ser uma e outra vez um lugar onde as tradições ganham vida, sendo possível aprender sobre o que é o brulhão e como se confeciona. A relevância de proporcionar a degustação do brulhão que o centro transforma na herança cultural e numa experiência sensorial que vai além do simples conhecimento, tornando-se um convite ao envolvimento, ao gosto e ao prazer da descoberta.

A instituição não estará limitada ao papel interpretativo, mas assumirá também um papel ativo na animação cultural da comunidade, organizando eventos que incentivem a participação tanto dos habitantes locais quanto dos visitantes. Esta proposta de atividades ao longo do ano pode vir a possibilitar o reforço no propósito do centro como um espaço dinâmico e inclusivo, que valoriza a tradição, enquanto reinventa através de atividades que mantêm vivo o interesse e promovem a interação comunitária. Assim, o centro promete ser um polo de atração e de revitalização, contribuindo para a dinamização económica e social da zona da corda do rio. Será um espaço onde os visitantes não só conhecem a história do brulhão, mas que também participem ativamente na cultura local, criando memórias.

Portanto, a visão do presidente é de um futuro que honra o passado, celebrando a herança gastronómica enquanto projeta um futuro de celebração e dinamismo. Todavia um dos erros cometidos após o momento da inauguração foi manter o espaço permanentemente encerrado nos dias úteis bem como nos fins de semana, sublinho.

Manter um espaço de interesse local e regional encerrado ao público será um erro crasso que compromete severamente o objetivo fundamental do projeto. Este tipo de decisão pode vir a frustrar as expectativas da comunidade e dos visitantes, mas também por outro lado impede que o centro cumpra o seu papel como motor de promoção cultural e atração turística. Um centro interpretativo deve ser um lugar vivo, dinâmico, que acolha a população local e os turistas, incentivando a aprendizagem, a apreciação e a interação com o património cultural e gastronómico da região. Manter o local fechado limita o acesso ao conhecimento e à experiência, que são naturalmente princípios para preservar e valorizar o brulhão. O espaço deveria servir como uma ponte entre o passado e o presente, mas para isso, a disponibilidade é crucial.

A falta da abertura ao público desvaloriza o investimento feito pelas organizações, pelo município e pela freguesia enfraquecendo o impacto positivo que o centro poderia ter no desenvolvimento turístico e económico a média duração. Corrigir este erro rigorosamente referido e assegurar que o espaço planeie a sua abertura permanente e acessível é fulcral para que ele se torne verdadeiramente um ativo da comunidade, promovendo o intercâmbio cultural, o turismo e o envolvimento dos habitantes locais. A abertura regular e a programação de atividades que convidem o público a participar pode também transformar o centro num local acolhedor e intenso, impulsionando a identidade cultural e o orgulho da região, além de fomentar o crescimento económico pela atração de turistas.

Contudo, é fundamental que, após a inauguração, exista um plano de gestão que garanta o acesso e a sustentabilidade do mesmo, assegurando que ele cumpra o seu papel de preservar, promover e salvaguardar o património e o capital cultural.

Pensando no futuro do Centro Interpretativo do Brulhão, é imprescindível que ele passe de um espaço fechado e em outros domínios subaproveitado para o ponto central chave da dinamização cultural e turística da região. A reabertura, acompanhada de uma visão estratégica metódica adotando critérios de médio a longo prazo, podendo transformar o centro num verdadeiro símbolo da valorização cultural, potenciador da identidade e desenvolvedor da localidade, isto é, reunindo e criando um plano bem estruturado, com atividades regulares e um organograma anual, que pode vir a servir e a garantir que o centro se mantenha vivo e relevante para a população e para os visitantes.

A implementação de provas de degustação do prato e de outros produtos locais podem proporcionar uma experiência imersiva que valorize a gastronomia regional, permitindo que os visitantes conheçam, mas também saboreiem e possam degustar o mesmo será dizer.

A criação de uma agenda cultural diversificada, com concertos, exposições e atividades específicas, contribuirá também para a atratividade do centro ao longo de todo o ano, tornando-o num destino de interesse constante. A definição de uma agenda cultural robusta, que contemple a pré-produção, a produção e a pós-produção de cada atividade ou evento, assegurando um planeamento cuidadoso e uma execução eficiente, garantindo a qualidade das iniciativas oferecidas.

Este planejamento deve envolver diferentes etapas, desde a conceção das ideias até à avaliação dos resultados, para que o espaço consiga ajustar as suas propostas direções e melhorar continuamente a experiência oferecida. A realização de concertos, exposições e encontros por exemplo que proporcionem uma dinâmica cultural que vá além da gastronomia, atraindo e gerando um fluxo contínuo de visitantes. Essa diversidade de atividades também fortalece o vínculo da população com o centro, tornando-o um espaço de pertença e encontro. Cada evento pode contribuir para consolidar a imagem do centro como um motor de cultura e animação local, criando um círculo virtuoso de reconhecimento e desenvolvimento uma vez mais.

Num contexto de médio a longo prazo, o sucesso do centro dependerá da sua capacidade de se adaptar e inovar, mantendo-se sempre alinhado com as expectativas e interesses da comunidade, dos visitantes e da própria equipa gestora. O envolvimento de parcerias com as outras entidades culturais, turísticas e educativas podem alavancar o alcance e a visibilidade das atividades do centro, que possa abarcar a sua relevância e sustentabilidade.

A transformação do Centro Interpretativo do Brulhão num espaço aberto e dinâmico é fundamental para que ele se afirme como um elemento vital no desenvolvimento turístico e cultural da região. A valorização contínua do brulhão e de outros elementos culturais, através de atividades envolventes e interativas, permitirá que o centro se torne num verdadeiro guardião da identidade local, num lugar onde passado, o presente e futuro se encontram agregados em celebração.