A voz do Gil embala o que propõe a letra tão melodiosa quanto a música em si. O conjunto que se articula entre a mensagem — uma ode à presença — e o som faz vibrar ondas de leveza e compreensão de tudo que é.
E lembra que tudo se esvai. Sem apegos ao que passou ou ansiedade ao que virá, o lugar presente é fluido e subjetivo. Como a vida. Leve e complexa. Fiquei pensando nesse lugar. Onde?
Aqui onde indefinido
Agora que é quase quando
Quando ser leve ou pesado
Deixa de fazer sentido
Aqui de onde o olho mira
Agora que o ouvido escuta
O tempo que a voz não fala
Mas que o coração tributa
Por lugar entende-se espaço ocupado ou não. Uma localidade ou pequena povoação. Um posto, uma profissão, uma dignidade. Circunstâncias ou situações. Pode ser provido de significado ou apenas a materialidade do óbvio.
Pela diversidade de conceito, quem tem um lugar ao sol, tem privilégio. Todos querem garantir uma vantagem. O lugar de honra é o principal. Reservado aos especiais. E para sair dos lugares tópicos, melhor ter claro e bem estruturado o seu lugar de fala. Ceder o lugar é gentileza, humildade ou educação. E para quem não esquenta lugar, de nada vale muito apego e nem o estático pódio do primeiro lugar, pois o que importa é o movimento.
Todo lugar tem um clima. Sentido e apreciado. Tem uma energia. Sedutora ou repulsiva. E está no espaço-tempo sagrado da existência.
Lugares que marcam pelas vivências e amores são saudades. São memórias. Passam e ficam. Lugares que não importam, pois o essencial é a companhia. Transcende o espaço físico e viaja nas ondas do Ser, na transparência harmônica da interação com o outro, ou outros. As pessoas fazem o lugar. Romantizam, horrorizam, amam ou odeiam. O conjunto que habita o lugar é um universo.
O lugar pode não ser um lugar. Um corpo é um lugar. Que se movimenta e se transforma. O estado de espírito contemplativo conduz aos vários agoras da vida. Que seja aproveitado como a rara beleza de viver. Que seja valorizado pela finitude e pelo prazer. Que seja leve e fugaz. Infinito e verdadeiro.
O tempo enquanto série ininterrupta e eterna de instantes existe agora. É nele que se respira. O segundo anterior não volta e não vive. A atenção ao momento presente é a dádiva da verdade. O presente é tudo que somos. É tudo que temos.
O estado de presença mais sublime é o estado de tudo que é, pois é o poder de viver e respirar o instante agora. É o poder de escutar o silêncio. É ele quem fala conosco e nós nos ouvimos verdadeiramente. Ouvimos a voz do coração no silêncio da mente — a intuição. Este é o lugar. Este é o agora.
Nada mais pode importar quando estamos a viver a presença. Um ciclo de vida, morte e renascimento a todo instante. Que sejam honrados todos os instantes. É o melhor que podemos sentir.
Colecionar os tantos agoras é a vida. Compreender a finitude como movimento cíclico vital é a compreensão do mistério que habita em todos nós e em todos os lugares. Sem distrações, agora e presentemente é o melhor espaço que se pode Ser. Sempre a cada segundo, movidos pelo amor.
Aos últimos acordes da canção é possível nos transportar para um mundo onde o mantra se repete O melhor lugar do mundo é aqui e agora...