A oração, uma prática comum em diversas tradições religiosas e espirituais, vem atraindo a atenção da comunidade científica nos últimos anos. Pesquisas investigam os impactos da oração sobre a saúde física e mental, revelando resultados que muitas vezes superam as expectativas dos mais céticos. Até o momento, as evidências científicas sustentam alguns dos benefícios da oração: redução do estresse, melhoria da saúde mental, efeitos físicos positivos e o fortalecimento das conexões sociais.
Um dos benefícios mais evidentes da oração é sua capacidade de reduzir o estresse. Em um mundo onde as pressões diárias podem ser esmagadoras, a oração oferece um espaço de pausa e reflexão. Estudos mostram que indivíduos que se dedicam a práticas espirituais, incluindo a oração, têm níveis significativamente mais baixos de estresse e ansiedade. A oração atua como uma forma de meditação, proporcionando uma oportunidade para que as pessoas se concentrem em pensamentos positivos e se conectem com algo maior do que elas mesmas.
Esse efeito tranquilizador da oração pode ser explicado pelo seu papel como ferramenta de enfrentamento. Durante momentos difíceis, a oração permite que as pessoas sintam uma conexão com o Divino, promovendo uma sensação de apoio e proteção. Essa percepção de estar sendo ouvido ou guiado pode aliviar a solidão e o desamparo, contribuindo para uma resposta emocional mais saudável diante de adversidades.
Neste contexto, Andrew Newberg e Eugene d’Aquili, neurocientista e antropólogo, respectivamente, escreveram o livro Why God Won’t Go Away: Brain Science and the Biology of Belief, em 2001. Eles propõem que o cérebro humano, ao longo da evolução, tenha se adaptado para a espiritualidade e enfatizam a ideia de que certas práticas são particularmente eficazes para induzir estados alterados de consciência, os quais podem ajudar a reduzir ansiedade e estresse.
Um dos autores exemplifica que “o canto, as melodias litúrgicas e as orações sussurradas parecem operar de forma semelhante: ativando o hipocampo e inibindo a comunicação neuronal em certas regiões do cérebro”. Vivenciar essas experiências estaria ligado a uma combinação específica: uma atenção concentrada combinada com uma intensa resposta emocional, excluindo outros estímulos.
Em junho de 2024, a BBC News Brasil publicou uma reportagem com Andrew Newberg, sobre a análise por ressonância magnética do funcionamento do cérebro durante a oração. "Quando a pessoa sente que a oração está quase tomando conta dela, por assim dizer, a atividade do lobo frontal realmente diminui. Isso ocorre quando o indivíduo relata sentir que não são eles que estão gerando a experiência, mas que é uma experiência externa que está se passando com ele", disse o pesquisador.
Além dos benefícios relacionados ao estresse, a oração tem mostrado impactos positivos significativos na saúde mental. Estudos sugerem que pessoas que praticam a oração regularmente experimentam níveis mais altos de felicidade e satisfação com a vida. Pesquisas publicadas no Journal of Behavioral Medicine indicam que a oração pode aumentar a resiliência emocional e ajudar a mitigar sintomas de depressão. A prática regular da oração oferece um espaço para a reflexão e a autocompreensão, permitindo que os indivíduos lidem de maneira mais eficaz com suas emoções e desafios.
O impacto positivo da oração na saúde mental se relaciona a uma sensação de paz interior e tranquilidade. A oração, assim como a meditação, pode ser um meio eficaz para alcançar estados de relaxamento profundo, que são essenciais para o bem-estar psicológico. A meditação e práticas semelhantes, frequentemente associadas à oração, ajudam a reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. A diminuição do cortisol não apenas melhora a saúde mental, mas também tem implicações benéficas para a saúde física, já que níveis elevados desse hormônio estão associados a uma variedade de condições de saúde.
Embora a oração seja frequentemente percebida como uma prática espiritual, suas implicações físicas também são notáveis. Pesquisas indicam que a oração pode ter um impacto positivo no sistema imunológico.
Ironson et al., no artigo An increase in religiousness/ spirituality occurs after HIV diagnosis and predicts slower disease progression over 4 years in people with HIV, publicado em 2006, por exemplo, avaliaram os efeitos de mudanças na religiosidade e na espiritualidade após o diagnóstico de soropositividade para o HIV e suas consequências sobre as dosagens de CD4 e carga viral em até quatro anos de seguimento: independentemente do tipo de prática religiosa, do estágio inicial da doença, das medicações utilizadas, da idade, sexo, etnia, nível de escolaridade, hábitos de vida, presença de depressão e suporte social, a alteração na prática de atividades religiosas foi um fator preditor independente para a diminuição da carga viral e o aumento dos níveis de CD4.
Guimarães e Avezum no artigo Impact of spirituality on physical health, em 2007, concluíram após revisão de literatura, que a religiosidade e a espiritualidade têm demonstrado uma influência significativa na saúde física, sendo vistas como potenciais fatores de prevenção contra o surgimento de doenças em pessoas saudáveis, além de contribuírem para a diminuição da mortalidade e do impacto de várias condições de saúde.
As evidências têm se concentrado, de maneira mais sólida e consistente, no campo da prevenção; a maioria dos estudos independentes, que incluem um grande número de participantes representativos, revelou que a prática regular de atividades religiosas pode reduzir o risco de morte em cerca de 30%.
Além disso, a oração é frequentemente utilizada em contextos de cura. Muitos hospitais e instituições de saúde reconhecem os benefícios espirituais da oração e disponibilizam serviços de capelania para pacientes e familiares. O apoio espiritual pode ser um componente valioso no processo de recuperação, oferecendo esperança e conforto, que são fundamentais durante períodos de doença. Pacientes que se sentem espiritualmente apoiados tendem a relatar uma experiência de tratamento mais positiva e a demonstrar maior adesão às recomendações de saúde.
Outro aspecto importante da oração é sua capacidade de fortalecer laços sociais. A prática da oração em grupo, como em cultos ou reuniões de oração, não apenas proporciona apoio emocional, mas também cria um senso de comunidade. Essa conexão social é essencial para a saúde mental e física. Pessoas com um forte suporte social têm maior probabilidade de viver mais e experimentar menos problemas de saúde. Esse suporte pode ser vital em momentos de crise, ajudando os indivíduos a enfrentar desafios com coragem e resiliência.
Além disso, o engajamento em atividades religiosas e espirituais, como a oração em grupo, pode incentivar a prática de comportamentos saudáveis. Muitas comunidades religiosas promovem estilos de vida que incluem alimentação saudável, atividade física e apoio emocional, todos os quais contribuem para uma saúde melhor. Esse ambiente encorajador pode ser particularmente benéfico para aqueles que lutam contra vícios ou problemas de saúde mental, oferecendo um sistema de apoio onde a oração se torna uma parte central da recuperação e do autocuidado.
Diante das evidências sobre os benefícios da oração, é fundamental que profissionais de saúde e terapeutas considerem a espiritualidade como parte integrante do cuidado ao paciente. Isso não implica que a oração deva ser imposta a quem não a deseja, mas reconhecer seu potencial pode enriquecer as abordagens terapêuticas e promover uma experiência de cura mais abrangente.
A pesquisa sobre a oração e seus efeitos na saúde ainda é um campo em crescimento. Estudos futuros podem explorar mais detalhadamente os mecanismos subjacentes que conectam a oração à saúde física e mental, buscando entender como e por que essa prática tem efeitos tão profundos. Além disso, a diversidade de práticas de oração, variando de meditações silenciosas a rituais comunitários, oferece um vasto campo para investigação.
Embora a oração seja uma prática pessoal e subjetiva, as evidências científicas sobre seus benefícios são cada vez mais robustas. Desde a redução do estresse até melhorias na saúde mental e física, a oração oferece uma série de vantagens que transcendem a esfera espiritual. Compreender esses benefícios pode encorajar mais pessoas a incorporar a oração em suas rotinas diárias, promovendo uma vida mais equilibrada e saudável.
É importante reconhecer que a oração não deve ser vista como um substituto para tratamentos médicos convencionais, mas sim como um complemento que pode enriquecer a experiência de cura e bem-estar. O diálogo entre ciência e espiritualidade continua a se expandir, revelando a complexidade e a profundidade da experiência humana. As descobertas sobre os benefícios da oração ressaltam a importância de considerar não apenas o corpo, mas também a mente e o espírito como pontos cruciais na busca por saúde e bem-estar.