Perder alguém que amamos pode dar lugar a muitas sensações para quem fica: alguns se sentirão aliviados porque seu ser querido parou de sofrer, outros se sentem totalmente desesperados diante da ausência, outros entram em depressão… mas a dor da falta sempre está. Pode durar meses, anos ou toda a vida.
Mesmo sabendo que a morte é um processo natural da vida, uma perda não nos faz mais duros ante perdas posteriores, porque em cada uma delas somos diferentes; nossas relações com as pessoas que morreram eram diferentes. Nós nos transformamos depois de cada perda. Mas sempre dói.
Há vezes em que sequer podemos chorar a ausência repentina. Às vezes a morte nos deixa sem chão debaixo dos pés, o luto se faz carne e nos acompanha pelo resto da vida; é como se uma parte nossa fosse embora com eles. Em outras, o tempo se encarrega de fechar um pouco a ferida e esse ser querido passa a ser uma linda lembrança, carregada de saudade e nostalgia.
Se você está em um momento parecido a este, leve meu abraço afetuoso daqui de longe.
Cada luto é muito diferente, se encara e se enfrenta de maneira diferente. No meu caso, me deixou sem um pedaço enorme, como se tivesse levado meu coração junto com ela. Vejo minhas tias e meus tios e cada um leva o luto de forma diferente: enquanto uns dizem que “temos que seguir adiante”, outros ainda estão paralisados pela dor. Vejo meus primos e eles seguem a vida apesar da dor. Por que sou a única que não pode continuar? Como explicar com palavras um sentimento tão avassalador que não posso definir?
Apesar de tudo, sou grata. Sou grata por ter sido quem percebeu que algo estava errado. Sou grata por ter podido desfrutar de sua companhia estando “saudável” (ou ao menos isso parecia) por duas semanas, depois de dois anos sem vê-la. Grata por ter lhe dito sempre o quanto a amava e era importante pra mim. Por ter passado o Dia das Mães com ela, algo dentro de mim me dizia que seria o último. Grata porque ela viveu 98 anos com qualidade de vida, independência e rodeada de amor dos filhos, genros, noras, netos e bisnetos. Ela chegou a fazer 99 anos, mas já estava no hospital e, nesse dia, ficou em coma induzido. No meu coração, ali ela se foi. Os dois dias que ela suportou depois disso, para mim, foram uma mera formalidade para o atestado de óbito. Pelo menos quem sofre sou eu, não ela. Prefiro que seja assim.
Ainda não estou podendo voltar à rotina de trabalho, inclusive custa voltar a escrever.
Uma semana depois, voltei pra casa, a mais de 5.000 quilômetros de distância, mas minha cabeça ficou lá na casa dela. Ficou no choro que ainda não consegui derramar. Nos gritos que ainda não consegui dar. No chão, que continua aberto sob meus pés. Ainda paro de vez em quando para cheirar a pashmina que foi dela e que trouxe comigo, buscando um rastro daquele cheiro. Vejo uma foto impressa como se não a tivesse marcada a fogo dentro da alma.
Entendo que esta é a ordem natural da vida, mas, como eu sempre disse, ela era um pedaço de mim fora do meu corpo. É muito difícil se recompor de uma perda assim.
Não tenho filhos/as, mas imagino que perder um deve ser desgarrador assim. Minha avó não saiu de meu corpo, mas era a parte favorita de mim mesma.
Talvez este humilde escrito ajude a colocar as coisas em ordem. Talvez não. Mas, se você está vivendo uma dor como a minha, te abraço e te acompanho no sentimento. Isso também passará.
(In memoriam: Elza Santana Andrade Santos 1925-2024)