Há certos momentos da nossa vida que, por mais tempo que passe, não os esquecemos e ainda bem, as boas memórias devem prevalecer sempre. Um momento que ainda permanece na minha memória, três anos depois, é o dia 14 de julho de 2021. Foi um dia agridoce, por um lado, feliz porque o objetivo estava a uma apresentação de ser concretizado, mas por outro lado, triste porque era um finalizar de um ciclo — a Licenciatura. Por mais insignificante que pareça, comparativamente com outros momentos, eu considero-o como um marco da minha vida, pois foi este dia que me permite, hoje, dizer que sou licenciada em Comunicação Social. Tenho o meu canudo!

Lembro-me como se hoje. Era quinta-feira, dia 14 de julho, estava uma manhã ventosa e céu limpo. Às 9h50 da manhã seria a minha Defesa do Relatório de Estágio, como aluna finalista da Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV). O orgulho era imenso, mas os nervos também eram alguns. Nada naquele dia podia falhar, não quando o objetivo estava tão perto de ser alcançado. Para nossa infelicidade, as defesas decorreram em regime online por conta da pandemia provocada pela Covid-19, que nos fechou em casa por certa de dois (longos) anos. Pormenores.

Lembro-me de ter acordado por volta das 8h00 da manhã com o auxílio do despertador do telemóvel. Deixei-me ficar mais 5 minutos na cama para me livrar da preguicite aguda que se apodera de mim todas a manhãs e, findo esse tempo, arrasto-me para a casa de banho para um duche rápido. Seco o corpo e visto a roupa que deixei previamente escolhida na noite anterior e passo ao cabelo, secando-o e arrumando-o em duas tranças francesas, ou algo parecido. O que conta é a intenção. Por último, mas não mesmo importante, passei um pouco de corretor na zona das olheiras e rímel, numa tentativa de disfarçar a cara de sono e para ficar mais bonita. Afinal de contas, não é todos os dias que recebemos um grau académico. Já devidamente arranjada, fiz a cama e prossegui caminho até à cozinha onde preparei café e uns ovos mexidos, os quais comi com as torradas que a minha mãe havia deixado preparadas.

Terminado o pequeno-almoço arrumei a cozinha e segui de novo para a casa de banho para lavar dos dentes. Concluída a tarefa, vi as horas no relógio de última geração, que marcava as 9h40. Faltavam cerca de 15 minutos para a minha apresentação começar.

Sentei-me à secretária e liguei o portátil. Instantes depois deste se ligar, procurei no ambiente de trabalho do computador o documento referente aos links das defesas, nomeadamente a minha e copei-o. Cliquei no ícone do Google Chrome e colei link na barra de pesquisa. Fui fazendo o que tinha a fazer com calma, se há coisa que não gosto é fazer as coisas em cima do joelho. Ainda com o Google Chrome aberto fui ao atalho denominado Canva e cliquei para procurar a minha apresentação. Abri a mesma e aguardei pelas 9h50.

Enquanto esperava pela minha vez, vi as horas pelo canto do olho, pois queria ter a certeza de que chegava a horas. Detesto chegar atrasada a compromissos ou que esperem por mim. Pode cair o mundo, mas esta defesa tem de ser feita hoje, pensei para comigo.

— E vai correr bem! — afirmei.

Vi, mais uma vez, as horas. 9h45. Faltavam cinco minutos.

Verifiquei, uma vez mais, se tinha tudo apostos para defesa e às 9h50 entrei na reunião por Zoom. Do outro lado do ecrã encontravam-se os meus professores e elementos do júri das defesas daquele dia. Dali a 20 minutos acabava tudo. Não acredito que 3 anos passaram a voar. Literalmente. Foi realmente um dia agridoce e com um nervosinho à mistura. Comprimentei os presentes e, instantes depois, a Presidente do Júri deu-me permissão para começar.

Comecei, falei e nunca mais me calei, de tal modo que excedi um pouco o meu tempo. Juro que não me lembro de alguma vez 20 minutos terem passado num ápice, porque estes passaram e eu nem dei conta. Se havia coisa que sempre me aterrorizou foi falar em público e, durante o curso, as apresentações eram um momento tenso para mim. Falar em público não é a minha praia, sou o tipo de pessoa mais reservada, metida na sua bolha, mas encontrei na escrita a minha forma de comunicar com o mundo.

Acho que os astros se alinharam naquele dia, para eu fazer um brilharete na defesa. Correu deveras bem! Falei pelos cotovelos e ainda tive direito a uma interrupção por parte da Presidente do Júri por exceder o meu tempo. Também achei que os restantes membros do júri, incluindo o meu orientador, ficaram bastante surpreendidos, pois por conta da minha timidez nas aulas sempre que me perguntavam algo limitava-me a dizer o essencial e pouco mais. Será também uma questão de confiança, que vamos ganhando em nós com o tempo, e nas pessoas que temos ao nosso lado, como se viria revelar.

Finda a apresentação seguiram-se algumas perguntas por parte da professora arguente e, por conseguinte, um comentário do meu orientador de estágio. A esta parte mais séria e formal, seguiu-se a sentimental recheada de conselhos para o futuro.

— A Ana sabe e tem potencial, mas precisa de acreditar mais em si! — disse, a professora arguente.

Ao ouvir isto, o meu coração começou a bater mais depressa. E a primeira lágrima, de muitas daquele dia, surgiu no canto do olho.

Ainda hoje, três anos depois, sempre que me sinto mais desmotivada, estas palavras afloram-me a mente e são como um renovar de energia. Afinal de contas, o sonho era possível desde que nos esforcemos e estivermos dispostos a lutar por eles. É cliché dizer isto, mas são os sonhos que comandam a nossa vida. Quando isso deixar de acontecer significa que tudo o resto deixou de fazer sentido…

Lembro-me, vagamente, de ter encerrado a reunião via Zoom e só instantes depois quando as lágrimas começaram a cair em catadupa é que me caiu a ficha. Acabou, mas valeu a pena. Apesar de todos os momentos menos bons, este havia sido um dos capítulos mais bonitos — aprendi coisas novas sobre uma área e a profissão, que espero vir a exercer e fiz amizades que são para a vida.

Entretanto, três anos se passaram e muita coisa mudou. Deixei a cidade de Viriato (Viseu) e rumei à Cidade Neve (Covilhã) com propósito de me especializar em Jornalismo. Apesar das dúvidas e dos anseios, próprios da idade, o sonho permanece vivo, ao qual outros se juntaram.