O que te faz levantar todos os dias mesmo que o improvável aconteça, sem garantia de vida ou sobrevivência, saltamos da cama como se a alma nos impelisse a viver, ir em frente, em busca, tomados de um desejo insano e uma vontade absurda de se agarrar a própria essência da vida.
A coragem sobrehumana nos assola, bem como em muitos momentos ela se distrai, esquece de nos acordar e ficamos ali por horas, só querendo ficar.
É dessa conjugação que vive o ser humano, frágil e forte ao mesmo tempo. Capaz de arrebatadoras medidas, impulsivas resoluções, infindáveis compromissos, brava persistência com os movimentos diários da vida, até que por si ela se evada. Ao mesmo tempo também somos capazes da apatia, abatimento profundo e prostração.
Queremos vencer o dia, suas provocações, desafios e nuances, mesmo quando a hora nos escapa sem que possamos dar conta daquilo que nos é devido, mas também sabemos que, por vezes, o tempo se arrasta lentamente fica preguiçoso e cheio de nadas. Contradições pertencentes ao ato de viver, mas que nos faz dançar o ritmo dessa fronteira do tempo e encontrar o passo que mais se afina a essa surda discussão.
Viver todos os dias é uma honra e para tal precisamos nos convencer a ficar, lutar, gritar, correr, caminhar, comer, dançar, pular, brigar, e sobretudo encontrar motivos para fazer aquilo que nos cabe, decidindo passo a passo. Honrar a incomensurável possibilidade de experimentação de aventuras lindas e outras nem tanto, mas igualmente fortes.
As conquistas acontecem pelo comprometimento com alguma causa, sonho ou desejo. As guerras se fazem pelas crenças, valores e poder, bem como a paz se faz pela fraternidade, compaixão e amor, e para que cada situação aconteça há de se ter a necessidade do implicar-se, levantar-se e comprometer-se. Afinal devemos fazer isso por nós mesmos, pois há perguntas que não querem calar, como se estamos bem e felizes com o que somos e para onde queremos ir. A vida que atraímos para ir adiante tem sido efetivamente priorizada em nossos pensamentos e ações, caso não, é porque ainda há muito trabalho a ser feito.
Assim acontece com grandes e pequenas situações. Cada ação da vida diária chama ao compromisso e nessa variação vamos equilibrando os percentuais do quanto nos cabe tal implicação. O quanto somos solicitados em cada atitude, cada chamamento. É por termos motivos que não nos abandonamos em ações retardadas ou adiamentos intermináveis, porque só caminhando e escolhendo uma conduta podemos entender, processar e dar destinação aos propósitos pelos quais somos atravessados. Somos trabalhadores permanentes de nossa própria condição.
Comprometimento tem a ver com pulsão de vida, de ação de vida. Alguém já escreveu “O pulso ainda pulsa”. Lindo isso, não! Forte e arrebatador. Aquele tipo de frase que esquenta a alma e nos lembra que o sangue é quente e que viver é parte de comprometermo-nos a cada instante com o que estamos propondo ou sendo demandados. Ainda que sejamos irresponsáveis ou toscos diante da imensidão tênue da vida, a vida ainda está ali, e posso apostar que acreditando em cada um de nós.
E por que ou para que devemos nos comprometer perguntaria um cético, ao que eu responderia e por que não? Mas o que independe de qualquer um dos dois questionamentos é que na impossibilidade de se decretar a morte antes do tempo determinado, posto está e desde sempre o comprometimento com a vida.
Comprometer-se já ecoa um duplo sentido e se não bem utilizada pode gerar desconfiança. A ação é em prol ou derivada de algum acontecimento, enfim distorções da língua, da vida ou do comportamento.
A pulsão de vida nos chama a abraçar causas, emanar intenções e conquistas, e o resultado dessas conquistas realimenta o sentido de continuar pulsando. Sem isso estamos dormentes, a vida nos varre para as margens, inquieta o coração pela falta e um estranho e inominável sofrimento se instala.
Sempre acreditei que são os ventos do norte que trazem a magia e reacendem o desejo, e mesmo que não movam moinhos, nos impulsionam ao comprometimento de alguma forma, mas independente da minha crença ancestral estamos sempre nos entrelaçando com algo ou alguém, e no final das contas o comprometimento é determinado pelo que está além de você.