Solve et coagula significa dissolver e coagular, em latim, uma expressão antiga que parece ter sido oriunda com antigos alquimistas. A tentativa de traduzir em latim, a palavra árabe para alquimia. Pensemos em termos de certo método de análise e síntese, para auxiliar o entendimento, por meio da separação das partes e a combinação das mesmas em um conjunto integrado.

A dissolução diz da separação das partes de um elemento sólido, quando misturamos soluto em solvente, já a coagulação aglutina diversas partículas até alterar seu estado anterior. Embora muitos pensem que a alquimia se resuma apenas em experimentos, seu lado oculto às superficialidades, é dedicado à filosofia ampla e à evolução dos seres humanos.

Na química, os elementos podem ser decompostos e recompostos. Na alquimia, não só os elementos podem ser compostos e recompostos, mas podem ser mudados, elevados, transmutados em outra coisa. Para os alquimistas, a busca do ouro acontece nos planos invisíveis, imateriais, naquilo que alimenta os poderes da alma. O grau de suprema perfeição que cada coisa pode atingir. Esse é o espírito do alquimista, isto é, ter a consciência desperta no nível espiritual.

Alquimistas modernos desenvolvem a capacidade de reinventar-se conscientemente, dentro do eterno processo de criar, destruir e recriar. Na arte de ser, esta correlação dissolver e coagular, vai então muito além da físico química. Toda materialidade e espiritualidade se dissolvem, para que suas partes então se reorganizem e formem novos e melhores padrões, de um e ou de outro ciclicamente.

Através da alquimia interna podemos reencontrar nossa pureza original.

O aspecto superior dessa alquimia; porque o aspecto inferior, é esse laboratório químico, que trata com as substâncias físicas. O aspecto superior disso, é o reconhecimento e a regeneração do ser, em seus níveis mais internos e profundos, podendo exercer transformações até em níveis espirituais. A purificação da mente, da vontade e o desenvolvimento da capacidade da alma, tudo isso é alquimia. Transformação profunda na essência.

Os alquimistas contemporâneos estão procurando esse dissolvente universal, que expele do corpo humano todos os parasitas energéticos, conservando e qualificando a vida humana. A alquimia que está presente em todos os planos da humanidade, com aspectos físicos de transformação em nossos veículos físicos, psíquicos e espirituais, chegando a máxima perfeição em suas etapas.

A profunda transformação no plano físico se faz a partir do Elemento Terra. A alquimia virá da perfeita harmonia com esse elemento. No plano psíquico a alquimia está relacionada com o elemento água, para a sua purificação e fluidez. No plano mental a alquimia está coligada com o elemento ar. O ar que não está sendo cuidado, isto vai em detrimento da alquimia mental. No espiritual relaciona-se com o fogo, atividade alquímica com a alma.

A capacidade de nos reinventarmos consciente e deliberadamente também traz consigo um profundo nível de autoconsciência. Essa é a base para aceitar que estamos em constante transformação.

Em tempo de grandes transformações planetárias, urge a necessidade de desenvolvimento dessa capacidade de reinvenção de si, de maneira consciente e diretiva. O momento existencial de busca, da forma mais pura de ser, onde somos ‘coágulos’ compostos pelas infinitas partes que se relacionam entre si para nos compor, sejam elas físicas, psíquicas ou espirituais, ancestrais ou contemporâneas, concretas ou abstratas, objetivas ou subjetivas. Disso nasce a capacidade de reinvenção.

O ciclo de solve et coagula, presente na história da humanidade é intrínseco à própria existência. Porém, seu protagonismo e destaque em nossas vidas nunca foram tão profundamente discutidos fora das rodas alquímicas e filosóficas. Isso é facilmente compreensível, já que por gerações e gerações seguimos comportamentos e padrões ditados pela família, igreja, governos, onde a solidez se instala e é reforçada por limites sociais, econômicos, culturais de cada época.

Claramente enquanto humanidade desenvolvemos uma sociedade obediente e moldada ao ambiente de um processo re-inventivo passivo, inconsciente, lento. Contudo, tudo vem mudando, tudo está mudado. Estamos fadados à modernidade líquida cada vez mais especializada em dissolver estruturas rígidas, solutas, arcaicas, de modus operandi passados e reconstruí-los totalmente diferentes. A velocidade é o ponteiro dessa mudança.

Poderíamos viver e morrer tendo uma única crença, curvando-se a um único governante, tendo um papel bem definido dentro e fora de casa, e isso ainda seria sinônimo de sucesso e felicidade.

Entre as eras ela se faz escandalosamente mais rápida nos dias de hoje. A revolução tecnológica rompe velozmente com as estruturas sólidas, mudando radicalmente a forma de viver, trabalhar e se relacionar dos seres humanos. Aqueles padrões comportamentais impostos pelo sistema outrora sólido, estão sendo reinventados individualmente, ainda mais através da tecnologia massiva, facilitando o processo re-inventivo coletivamente. Rápido e ativado, porém inconsciente, conflituoso e confuso.

Será aí que mora o perigo? Ou a virtuosidade? Num planeta onde os problemas entre seres humanos estão cada vez mais complexos, onde os reinos da natureza estão sendo dizimados, cenários são cada vez mais áridos, incertos e duais, instituições e profissionais espalhados no mundo inteiro, todos seres humanos, ainda se mantêm na solidez.

Dispersos, não enxergaram que a liquidez da era presente é dominante, e eles? Navios a deriva de encontro fadado com o rochedo, soluto como sua própria natureza. Chegará o tempo. Cedo ou tarde, ficarão para trás e serão dissolvidos pelo esquecimento, transformados e coagulados.

Modernidade é precisamente o novo grau de liquidez. Toda modernidade é especializada em derreter os sólidos, derreter as estruturas anteriores recebidas, os modos de vida passados, e reconstruí-los em um molde diferente.

Conscientes dessa arte de ser, é possível compreender em si, as partes falhas e obsoletas, dissolvendo-as para que novas e melhores partes se criem. Imparciais, busca-se promover transformações e melhorias contínuas em si e ao redor de si. Perceber as disfunções pessoais e alheias, aprender com os erros e refazê-las, melhores e eficazes, estimulando e valorizando novos conhecimentos, porque os problemas da modernidade líquida não podem ser resolvidos com o que já se sabe.