No desenvolvimento da sociedade contemporânea encontramos o fenômeno do individualismo, muito presente na valoração e nas práticas pessoais da população. O individualismo caracteriza-se como uma postura de pensar em si próprio, enxergar o mundo a partir de uma visão narcisista e de não abertura para pensar no ele e na alteridade. Nesse sentido, é muito importante que, de diversas formas, possamos pensar a partir de outra lógica superando a competição pela colaboração.
A lógica do levar vantagem em tudo no longo prazo faz que o indivíduo se feche em si mesmo e perca a sensibilidade de pensar no bem que pode fazer para o outro, sendo assim, no lugar do pensar apenas em si mesmos, somos convidados a pensar também no comunitário, no coletivo e não apenas no individual. Ninguém pode amar o outro se não amar a si mesmo, mas o amor próprio não é o único amor na vida de uma pessoa, é necessário abrir-se para amar os outros. Quando há uma abertura para preocupar-se também com o outro, temos a lógica da fraternidade, da solidariedade e da partilha.
O egoísmo em si não pode ser descartado, ele é uma força interior que impele à sobrevivência e amar-se a si próprio é fundamental para a própria autodefesa, mas corre-se o risco de diminuir em muito os laços pessoais e viver em um mundo perpassado pelo individualismo e pelo fechamento em si mesmo, sem abertura para o outro. Pensar na ética da alteridade é pensar em uma ética em que o ser se abre para se relacionar com o outro, sabendo que é outro, com pensamentos, ideias e visões diferentes; é muito rico quando a pessoa se propõe a dialogar com o outro, a sair da sua estreita visão de mundo, partilhar vivências e aprender com as vivências do outro.
A ética da alteridade é acompanhada da ética do respeito, esta, por sua vez, contribui para que as pessoas, mesmo tendo olhares diferentes sobre o mundo, possam conviver, debater e trabalhar em equipe com objetivos comuns. Os esportes ensinam muito sobre o sair do egoísmo e partir para uma visão de equipe, valorizando mais o coletivo do que o individual. Faz-se mister ao menos refletir sobre o fenômeno do individualismo na sociedade contemporânea, com vistas a um olhar crítico e do quanto isso pode ser ressignificado por uma visão mais de coletivo, do pensamento na comunidade do que em uma valoração apenas do individual.
A vivência comunitária é fundamental para a realização da vocação do ser humano a ser um ser social, conforme nos assegura Aristóteles na obra: “Ética à Nicômaco”. Somos seres sociais e é na sociedade que se unem forças em prol principalmente dos mais desfavorecidos. É preciso despertar as novas gerações para um “sentir com”, para não serem insensíveis à dor do outro. Evidentemente que não podemos resolver o problema do mundo e de todos, mas cada um pode fazer alguma ação visando tornar o mundo um pouco melhor.
Não temos a missão de resolver os problemas do mundo, mas podemos ser luz onde estivermos ajudando e contribuindo para um mundo mais solidário, fraterno e pacífico e menos individualista. Pensar no coletivo é fundamental para que possamos vivenciar a ética da alteridade em que as pessoas não sejam apenas números e estatísticas, mas, sim, humanos, com sentimentos e tudo aquilo que é próprio da humanidade.
É, sem dúvida, um grande desafio a proposta de pensar na ética de alteridade, porque o próprio sistema capitalista alimenta-se da ganância e do poder de ter mais e da exploração daqueles que são excluídos do sistema. Ainda assim, humanizar a sociedade abre espaço para se pensar no coletivo, naquilo que é fundamental para que o ser humano se humanize nas relações com outros seres humanos.