Hoje já é quinta-feira e a contagem regressiva para os trinta anos se acelera dentro de mim. Parece que foi ontem que eu tinha quase vinte, cheia de planos e a ilusão de que a vida se estenderia por décadas infindáveis. Mas agora, aqui estou eu, sentindo a pressa crescer, a urgência de realizar tudo o que imaginei.
Recordo-me dos sonhos adolescentes que alimentavam minha alma como fogueiras em noites de verão. Queria tanto, planejava tanto. Mas os anos não foram gentis apenas com minhas esperanças; minhas costas doem com o peso dos anos que carrego, enquanto ainda me sinto jovem demais para ser velha e velha demais para ser jovem.
Tenho discos que atravessam décadas, de 80 a 2024, cada um contando uma história que ecoa com as mudanças que vivi. São trilhas sonoras de tempos diferentes, assim como eu, que sou um amálgama de passado e presente, tentando equilibrar o que fui com o que pretendo ser.
Nasci em uma pequena cidade onde o tempo parecia passar mais devagar. A infância foi uma era de descobertas, cercada por campos verdes e céus infinitos. Lembro-me das tardes passadas ao lado do riacho, sonhando com aventuras distantes enquanto o sol se punha lentamente no horizonte. Naquela época, as horas pareciam esticar-se como elásticos, cada dia uma eternidade de possibilidades.
Mas então vieram os anos de adolescência, rápidos como foguetes, e eu me vi mergulhada em livros empoeirados e músicas que ecoavam nos corredores da escola. Eu tinha o mundo pela frente, um oceano de oportunidades à espera. Cada página virada era um passo em direção ao futuro que eu imaginava tão claramente, tão vividamente, como se pudesse tocá-lo com as pontas dos dedos.
Aos vinte anos, eu era uma mistura de determinação e ansiedade, lutando para encontrar meu caminho em meio às expectativas que eu mesma havia criado. Queria ser tudo: exploradora, artista, pioneira. Mas a vida, como descobri, é mais complexa do que os sonhos de uma jovem idealista. As decisões que pareciam simples se revelaram encruzilhadas onde cada escolha moldava não apenas meu destino, mas também quem eu me tornaria.
O tempo, implacável, avançava sem piedade. As rugas começaram a se formar no canto dos meus olhos, cada uma contando uma história que eu ainda não estava pronta para ouvir. As noites se tornaram menos sobre festas intermináveis e mais sobre reflexões silenciosas, enquanto eu contemplava os desvios e os desatinos que me trouxeram até aqui.
Hoje, olho para trás e para frente ao mesmo tempo. A vida que eu pensei que teria, onde realizaria tanto mais do que fiz até agora, parece distante como uma miragem no deserto. O tempo falta e me faz tanta falta, enquanto eu procuro desesperadamente um tempo maior, um espaço mais amplo para viver tudo o que minha alma anseia.
Cada ruga no meu rosto é uma linha que marca não apenas o passar dos anos, mas as histórias que vivi e os desafios que enfrentei. Já curti tantas bandas como Bon Jovi, cada acorde uma lembrança vívida de momentos que não voltam mais. Mas ainda assim, sinto que há tanto por fazer, tanto por experimentar.
Numa noite como esta, em meio às horas que escapam como areia entre os dedos, percebo que o que mais importa não é apenas o que conquistei, mas como vivi cada instante. A pressa não é mais sobre alcançar metas tangíveis, mas sobre valorizar o que a alma sente, mesmo que o tempo continue seu curso implacável.
Naquele verão quente de 1997, o aroma das flores silvestres misturava-se ao som dos grilos à noite. Era como se o tempo se detivesse para nós, crianças descalças correndo pelos campos, nossas risadas ecoando pela pequena cidade adormecida. Cada pedra virada, cada segredo compartilhado nos tornava invencíveis, imortais. Mas a inocência logo cedeu lugar aos primeiros amores, às paixões juvenis que queimavam tão intensamente quanto o sol do meio-dia.
Com o passar dos anos, os caminhos se bifurcaram como rios seguindo para o mar. Parti daquela cidadezinha com uma mala cheia de sonhos e um coração cheio de despedidas. As estradas que percorri me levaram a lugares distantes, onde o desconhecido sussurrava promessas de novos começos e desafios inexplorados. Cada cidade, cada cultura que absorvi, deixou uma marca indelével em minha alma, uma tapeçaria de experiências que agora se desdobra diante de mim como um mapa de vida.
E então, nas noites em que a lua se ergue majestosa sobre os telhados da cidade, eu me pego pensando na linha tênue entre o que foi e o que poderia ter sido. As estrelas testemunham minhas reflexões silenciosas enquanto eu me pergunto se o destino é uma estrada já traçada ou se somos nós que moldamos nosso próprio curso nas águas turbulentas do tempo.
Assim, enquanto os minutos se transformam em horas e as horas em dias, aceito que ser jovem para ser velha e velha para ser jovem é apenas uma parte do ciclo da vida. E, mesmo com todas as dores nas costas e os sonhos adolescentes ainda pulsando dentro de mim, abraço a incerteza do futuro com a certeza de que cada passo dado foi um passo na direção de quem eu sou.