Tenho observado como nós humanos temos uma constante busca pela longevidade e bem-estar. A preocupação com temas universais como patologias e todas as novidades que possam contribuir para alcançar uma melhor função cognitiva e qualidade de vida são adotadas pelos menos preguiçosos e também mais vaidosos ou medrosos.
É louco, mas ao se tornar conscientes dos nossos pensamentos, constatamos que, o que realmente temos é uma lúdica apologia grupal e comportamentos esperados esculpidos em moldes para atender uma expectativa externa. A nossa referência é sempre algo anteriormente vivido por nós, sob uma determinada circunstância ou por alguém que nos rodeia ou veio antes.
Nada é o presente quando trabalhamos com referências. Deste ponto de vista, a história é uma vilã. Ela está cheia de pressupostos e com finais definidos. Adotamos pensamentos, forma de portar-se, vestir-se, gostos e não gostos a partir de referências.
Somos imitadores de plantão e refletimos as raízes dos programas pré-concebidos. E como não sucumbir? Como esvaziar-se de tais padrões e autorizar outra experiência? Expelir o programa já definido como o mais assertivo e favorável?
É trabalhoso e requer um tempo que as estruturas modernas não permitem. O frenético ritmo social empedra novas conceções. O tempo necessário para descansar o gelo das convicções e alcançar a fluidez do estado líquido que podem assumir outras formas, neste contexto, é demasiadamente longo.
Por mais liberal que tenha sido seu sistema de ensino, esta foi uma ferramenta de reprodução deliberada. A nossa dita liberdade sempre foi confiscada em função de padrões definidos e quero ser ingénua ao não pensar na intencionalidade desta ação.
A autogestão é o último dos caminhos. Ela baseia-se na prática da contestação e para debater é necessário visitar todas as instâncias pré-estabelecidas e questionar com solidez, as rotas demarcadas.
Ser solo é um ato de coragem, fazer um esvaziamento de tudo que foi imposto goela abaixo e atestado pelas autoridades e de posse deste vazio, adquirir aquilo que nos faz sentido.
Não faço aqui a apologia de ser ermitão, mas galgar uma solitude no intuito do encontro com o nosso diálogo interior com o intuito de diagnosticar crenças e desejos imputados por outrem ou pelo “modus operandi” da sociedade a sua volta e não para por aqui.
Ao identificarmos os credos, percebemos que construímos crenças sobre crenças ou crenças sobre desejos, depois sincronizamos com a nossa compaixão natural e ligamos um piloto automático que opera de forma cíclica e infinita.
Para adentrar na malha do nosso ponto zero, o estado neutro e construir as nossas verdades, faz-se necessário abolir os julgamentos. O eufemismo dos comportamentos compulsivos é um reflexo do nosso contrato social que por ano, matam milhões em nome de uma nutrição física baseada em imagens de “outdoor” e os suculentos alimentos emocionais promulgados nas redes sociais.
Códigos civis e religiosos moldam as atitudes comportamentais humanas, bem como os cuidados parentais que determinam vidas de forma involuntária e descabida a ponto de mutilar física e psicologicamente vidas, sem sequer a instituição dúvida ser arrolada.
A evolução cultural trouxe a tábua dos códigos morais, a exemplo a monogamia. Volto a reforçar, leia sem julgamentos, não estou aqui na defesa de um ou outro ponto de vista, mas este exemplo é um grande contestador. Se somos monogâmicos, por que há tantos casos fora dos casamentos?
A capacidade ética de validação de comportamentos alheios veio embutida ou forjamos na tentativa insana de pertencer ao clã? A vida não é cartesiana, onde meia dúzia de fatores interagem e temos um resultado alquímico com coeficientes estequiométricos bem definidos e ajustados.
Por mais que tenhamos certezas, somos surpreendidos com as reviravoltas dos acontecimentos incertos da existência terrena e sobrecarregamos a cinzenta massa de um quilo e meio, tão formatada nos nossos ditos “valores naturais” arraigados de tempos geracionais com as comparações do tipo: “na nossa família, não se divorcia” e não demora a se ouvir: “…essa doença é uma praga das nossas parentes” e ainda corroboram com o aval da ciência a sentença já valida: “Começa a fazer exame preventivo, pois isso é genético.”
A cultura não deveria ser norma, e sim um ente a parte, como um estado laico se propõe a ser. Uma entidade de consultoria onde o que fizesse sentido, desde que não ferisse o direito de outro ser, fosse acoplado na rotina diária das convicções a escolha.
Essa simples ação desopilaria as clínicas de psiquiatria, os eventos de autoconhecimento, onde xamãs que não conseguem gerir as suas próprias vidas, mas arregimentam milhares de seguidores com as suas técnicas inovadoras, e as ditas religiões que em nome do medo acorrentam milhões na culpa e na subserviência.
A interação social é um caminho para o aporte de uma rede emocional sólida, mas deve ser vivida depois do compromisso da investigação de si, implementação de hábitos, que estejam alinhados com as suas aptidões e desconstrução de autoimagem cunhados por terceiros.
É preciso coragem de enfrenta-se diante do esboço da “persona” de estados emocionais profundos que dá sentido a nossa existência. Esse é o primeiro passo para ascender na espiral dos valores e promover um salto multidimensional alinhado com as suas virtudes e funções cognitivas.