Costuma-se dizer que os avós são os segundos pais, aqueles que deixam fazer todas as traquinices aos netos, que os pais não deixam, porque têm de os manter na linha. Avós são sinónimo de meiguice e de brincadeiras. Os avós são aquele casal idoso que vemos constantemente a ralhar um com o outro, mas lá no fundo têm um coração de manteiga e não aguentam mais do que um dia zangados um com o outro.

Os avós são o nosso refúgio quando as coisas azedam com os nossos pais e onde procuramos algum consolo. No entanto, também nos chamam à razão quando é preciso. Mesmo que naquele momento façamos ouvidos moucos para o que nos dizem, mas por mais teimosos que sejamos sabemos que têm razão. Porque ao contrário de nós, meros jovens a tentar sair das cascas, os avós são pessoas enriquecidas pela vivência. Já viram muito, o bom e o mau.

Em virtude disso, são as melhores pessoas com as quais podemos aprender um pouco de tudo. Os avós são as melhores pessoas para contar histórias, em especial, sobre a sua vida que já lá vai, sobre as dificuldades por que tiveram de passar até encontrarem o seu lugar ao sol. Essas são melhores histórias porque estão carregadas de tradição e experiência de vida.

Infelizmente, eu, não tive a oportunidade de poder beber da sabedoria e ensinamentos dos meus avós, mas deixo aqui o lembrete para os que ainda os têm consigo aproveitarem o maior tempo possível com os seus. Não há coisa pior do que nos arrependermos de não termos aproveitado o tempo com as nossas pessoas enquanto podíamos.

A pensar sobre este tema, dei-me conta de que avós também são sinónimo de tradição, que significa os usos e costumes de uma determinada cultura, que foram passados de geração em geração. Qual é a família que não tem um prato especial que foi a matriarca da família a criar e que dela foi passando por toda a família? Quase todas, imagino eu. Ainda bem, porque as tradições são importantes e é ainda mais importante mantê-las vivas. Nem que seja para nos recordarmos de quem já não se encontra entre nós.

Hoje, não há tempo para nada, sobretudo no que toca a passar tempo com quem nos é próximo. Não havendo tempo, as histórias e os ensinamentos vão acabar por ficar aprisionados, não sendo transmitidos pelas gerações. Dessa feita, as novas gerações além de nunca saberem quem foram os seus antepassados, também nunca vão saber fazer certas coisas que só os avós sabem fazer, por exemplo, dar um ponto numa meia, cozer o pão com se fazia antigamente nos fornos de pedra, bem como os jogos tradicionais como a sueca e o jogo da malha. São coisas que parece irrelevantes aos nossos olhos, mas que fizeram parte da vida dos mais velhos, dos nossos avós, e que eles gostavam de partilhar connosco para um dia nós partilharmos com os nossos netos, tal como eles fizeram connosco.

Em determinadas alturas, ao olhar em meu redor, dou-me conta de que as pessoas não dão devido valor ao que têm no momento e às pessoas que têm ao seu lado, neste caso, aos seus avós. Para uma pessoa que, não teve a felicidade de compartilhar ensinamentos e beber da sabedoria dos mais velhos, é um tanto entristecedor. Sim, tenho os meus pais e irmãos, mas acaba por não ser a mesma coisa. Os pais têm a obrigação de nos criar e educar, ensinar-nos a ser pessoas com os valores corretos e dar-nos as bases, para no futuro podermos ser alguém, seja lá o que isso signifique. A relação entre um neto e um avô ou avó é diferente, pois não tendo a obrigação de nos criar e dar bases para o futuro são incapazes de descartar essa responsabilidade. Para não falar que muitos dos bons ensinamentos vêm dos mais velhos e dá-me a sensação de que os mais novos não têm interesse nem paciência para ouvir os mais velhos.

Mas desenganem-se os enganados: é dos mais velhos que provêm as melhores coisas — eles já viveram tanto, já viram de tudo, sabem o que são tempos bons e tempos ruins. Que mal pode vir ao mundo por pararmos um instante da nossa vida tão agitada e ouvi-los cinco minutos que seja? Não sou experiente na matéria, mas acredito que o melhor que se poderá dar a um avô ou a uma avó é um pouco de atenção, afinal de contas eles já nos deram tanto e nunca pediram nada em troca.