Vivemos em uma sociedade que coloca relacionamentos amorosos no pedestal mais alto de realização pessoal. Para muitos, especialmente as mulheres, a pressão para encontrar um parceiro parece ser uma constante. Desde cedo, meninas são expostas à narrativa de que a felicidade plena é encontrada no casamento, no relacionamento amoroso ou em uma família.

Enquanto isso, o autoconhecimento — a jornada de olhar para dentro, de entender quem somos fora das expectativas externas — raramente é incentivado com a mesma intensidade. Mas o que ocorre quando buscamos a validação no outro antes de nos conhecermos profundamente?

Ao longo da vida, é comum ouvir frases como "Quando você vai arranjar um namorado?" ou "Você ainda está solteira?". Essas perguntas, muitas vezes feitas sem malícia, refletem o quanto a sociedade enxerga relacionamentos como um ponto de sucesso ou até mesmo um requisito para o valor pessoal.

No entanto, para muitas pessoas, essa busca por alguém pode ser um reflexo de algo muito mais profundo: uma tentativa de preencher uma lacuna interna. É como se a incapacidade de amar a si mesmo fosse compensada pelo amor que oferecemos ao outro. Aqui, a solteirice, longe de ser uma condição de fracasso, pode ser uma oportunidade de ouro para se conhecer melhor.

Não há nada de errado em querer um relacionamento amoroso; o erro reside em buscá-lo para preencher vazios internos que só o autoconhecimento pode curar. Se amar é entender que o outro não pode ser responsável por nosso bem-estar emocional. Quando fazemos isso, atribuímos a outra pessoa o poder de nos definir, e isso pode ser perigoso, pois relacionamentos, como qualquer outra coisa na vida, são voláteis e instáveis.

A sociedade parece ignorar o fato de que conhecer a si mesmo é essencial antes de mergulhar em qualquer compromisso amoroso. As mulheres, historicamente, sempre foram as maiores vítimas dessa pressão social. Antigamente, casar não era uma escolha, mas uma obrigação.

Em muitas culturas, o casamento era a única forma de sobrevivência social e econômica para uma mulher, que muitas vezes perdia sua identidade no processo. O conceito de “esposa troféu” ainda hoje persiste, onde a mulher se molda para agradar e satisfazer as expectativas do parceiro, tornando-se um acessório de status em vez de uma pessoa com sonhos, objetivos e autoconhecimento próprios.

Essas "esposas troféu" representam o extremo da anulação pessoal. A ideia de que a mulher deve se encaixar em um ideal de beleza, comportamento ou mesmo propósito, apenas para agradar o parceiro, anula sua essência e seu direito de se desenvolver como indivíduo.

Nos tempos antigos, as mulheres eram obrigadas a casar e, dentro do matrimônio, não tinham voz. Suas identidades eram submersas sob as necessidades e expectativas de seus maridos, e seu papel se resumia à manutenção da casa e à criação dos filhos. A mulher era vista como uma extensão do homem, e não como um ser autônomo.

Embora os tempos tenham mudado, muitas mulheres ainda carregam, de forma mais sutil, essa herança de anulação pessoal dentro dos relacionamentos. A busca por um parceiro, quando motivada pelo medo da solidão ou pela pressão externa, pode ser uma armadilha para quem ainda não encontrou o equilíbrio interno necessário. Acreditar que o outro vai trazer felicidade e completude sem antes ter estabelecido um forte senso de si mesma é uma ilusão perigosa.

A solteirice, por outro lado, oferece uma rara e valiosa oportunidade de introspecção. Muitas pessoas encaram a solidão como algo a ser temido, mas é na solitude que muitas vezes encontramos as respostas para as perguntas que temos medo de fazer. Quem somos? O que realmente queremos? Quais são nossos valores, nossos sonhos e nossos limites?

Essas são questões que, quando ignoradas, podem nos levar a entrar em relacionamentos onde nos anulamos, aceitando menos do que merecemos, simplesmente para preencher o vazio.

A sociedade precisa repensar a forma como encara a solteirice, especialmente a feminina. Estar solteira não é um defeito, uma falha ou um estágio transitório entre relacionamentos. É um estado de ser tão válido quanto estar em um relacionamento, e deveria ser visto como uma oportunidade de ouro para o autoconhecimento e para o fortalecimento do amor-próprio.

É claro que não há nada de errado em querer estar com alguém, mas é essencial que isso não se torne uma busca desenfreada por validação externa. O autoconhecimento é o alicerce de qualquer relacionamento saudável. Sem ele, corremos o risco de perder nossa essência, moldando-nos às expectativas do outro e esquecendo quem realmente somos.

Os tempos mudaram, e as mulheres de hoje têm muito mais liberdade do que as de gerações passadas para escolherem seus caminhos. Mas essa liberdade também vem com desafios. Enquanto os antigos padrões de casamento por obrigação social foram quebrados, novas formas de pressão surgiram, muitas vezes disfarçadas de expectativas modernas de sucesso e realização.

A verdadeira revolução começa quando entendemos que não precisamos de ninguém para nos completar, e que o autoconhecimento é a base para qualquer escolha que façamos, seja ela por estar solteira ou em um relacionamento.

Por isso afirmo que a solteirice nos desafia a olhar para dentro, a encarar nossas vulnerabilidades e a desenvolver um relacionamento saudável conosco. Sim, pode ser desconfortável, estranho e até solitário em alguns momentos, mas é nesse processo que encontramos uma força inabalável: o amor-próprio. E esse é o tipo de amor que, uma vez estabelecido, não pode ser abalado por nenhuma circunstância externa, muito menos pela presença ou ausência de um parceiro.

Conhecer a si mesma é, muitas vezes, o caminho mais difícil, mas também é o mais recompensador. Não há garantias de que os outros permanecerão em nossas vidas, mas a relação que temos conosco é a única que durará para sempre.

Portanto, vale a pena investir tempo e energia nela. Estar solteira, ao contrário do que a sociedade muitas vezes sugere, é uma oportunidade de ouro para o autoconhecimento. E é esse conhecimento profundo de quem somos que nos permite entrar em qualquer relacionamento, se assim escolhermos, de uma forma equilibrada, saudável e verdadeiramente gratificante.