Enxergar quem realmente somos e aceitar nossos defeitos não significa nos conformarmos com eles. É preciso coragem e auto compaixão para mudar o que nos faz mal.
Se você chegou até aqui, é provável que, em algum momento, tenha se questionado sobre o que é amor próprio de verdade. Será que amor próprio significa aceitar tudo em nós mesmas, incluindo o que queremos mudar? Ou será que amar a si mesma exige uma mistura de aceitação e transformação? Essas perguntas são essenciais, pois o amor próprio não é algo que se aprende facilmente, ainda mais quando passamos tanto tempo ouvindo que deveríamos amar quem somos sem condições. Isso pode até soar bonito, mas será que é verdade?
Pense na maneira como você se enxerga. A forma como nos vemos não apenas reflete como nos sentimos, mas também define a maneira como agimos. Se você se vê como uma pessoa sem determinação, por exemplo, é mais provável que se comporte de maneira passiva, aceitando menos desafios e se acomodando onde está. Esse comportamento acaba reforçando sua visão de que "não consegue".
A mesma lógica se aplica a várias situações. Imagine uma mulher que se vê como alguém “fora de forma” e sem energia. Ao acreditar que é “assim mesmo”, pode acabar adotando hábitos que confirmam essa autoimagem, como evitar atividades físicas e se alimentar de maneira desleixada. Mas, e se essa pessoa começar a se ver de outra forma? Se ela, mesmo sem ter mudado nada ainda, começar a se imaginar mais ativa, saudável e cheia de energia? A imagem que ela projeta de si mesma transforma sua atitude. Visualizar-se em sua melhor versão é o primeiro passo para começar a adotar os hábitos que refletem essa imagem.
O amor próprio, no fundo, é uma prática de gentileza consigo mesma, mas nem por isso significa que você deve aceitar tudo que lhe faz mal. Afinal, se você está tentando cultivar uma vida mais saudável e uma relação amorosa consigo mesma, por que se manteria presa a comportamentos ou pessoas que te machucam? Amor próprio é como uma amiga sábia que te apoia e te incentiva a ser sua melhor versão, mas que também te dá um toque quando percebe que você está se afundando em algo prejudicial. Muitas de nós caímos na armadilha de achar que amar a si mesma é aceitar qualquer coisa, como se tudo que somos agora devesse ser fixo. No entanto, uma verdadeira amizade com você mesma envolve reconhecer o que está te sabotando e fazer ajustes, mesmo que isso signifique dizer adeus a certas práticas e até mesmo a algumas pessoas.
Reconheço que esse trabalho de se transformar enquanto se aceita não é nada fácil. Mudar é sempre desconfortável, e não existe um caminho simples para amar a si mesma. Aprender a enxergar suas qualidades, acolher suas dificuldades e manter-se firme nas mudanças é um exercício de coragem. Não espere que seja fácil; pelo contrário, é normal que em vários momentos você questione se é realmente possível. E é justamente nesses momentos que é importante lembrar que o amor próprio não é um ponto final, mas um processo. Como qualquer mudança significativa, ele requer paciência, consistência e, principalmente, autocompaixão.
Muitas vezes, desde pequenas, somos ensinadas a sermos gentis uns com os outros. Aprendemos a ceder, a compartilhar e a ser boas amigas, mas não somos ensinadas a sermos boas amigas de nós mesmas. A sociedade nos treina para sermos generosas com todos, menos conosco. Isso resulta em um padrão onde somos muito duras com nossas falhas e, ao mesmo tempo, temos dificuldade de ver nossos próprios valores. As mesmas mulheres que são super compreensivas com as falhas dos outros frequentemente são verdadeiras “carrascas” com suas próprias limitações. Queremos que tudo em nós funcione perfeitamente e, quando falhamos, nos punimos. Esse comportamento nos distancia de qualquer possibilidade de amor próprio saudável. Imagine como seria sua relação com uma amiga que te critica a cada erro. Pois é isso que fazemos conosco quando agimos de forma tão impiedosa.
O processo de se amar exige reaprender a olhar para si mesma com um olhar mais gentil. Nessa jornada, uma ajuda profissional pode fazer toda a diferença. Procurar uma psicóloga ou terapeuta é um passo que pode nos abrir para novas perspectivas, nos ajudando a enxergar os pontos cegos que carregamos. Muitas vezes, é difícil fazer esse trabalho sozinha, especialmente quando carregamos uma bagagem emocional que só conseguimos acessar com alguém de fora para nos guiar. Essa ajuda profissional pode ser a chave para um verdadeiro autoconhecimento e para uma prática de amor próprio mais profunda.
Então, se você deseja verdadeiramente transformar a relação que tem consigo mesma, permita-se explorar sua autoimagem e refletir sobre o que quer transformar. Seja uma boa amiga para você mesma, acolhendo o que não está bom e fazendo as mudanças necessárias para se sentir bem. Mudar a si mesma não significa se rejeitar, mas sim se amar o suficiente para querer se tornar sua melhor versão.