Quando era criança, tinha pressa em crescer, queria estar apta a fazer coisas que a pouca idade (e a falta de maturidade) ainda não me permitiam. Queria poder fazer coisas que os adultos podiam, sem ter quem os controlasse ou ditasse o que era ou não permitido. Coisas simples, como ver televisão até tarde e não ter que acordar cedo para ir à escola.
Quando era criança, também achava que a maioria dos adultos que me rodeavam eram pessoas literalmente velhas; afinal, no auge dos seus trinta e poucos anos, já tinham família formada, casa própria, carro e trabalho. O que mais poderiam querer? Era como se já tivessem vivido muito, muito tempo, visto que já tinham “tudo” em suas vidas.
Naquela época, o tempo parecia passar devagar. Muitas vezes, tinha a impressão de que as horas se arrastavam. Precisava esperar horas para assistir ao meu desenho preferido na televisão e, quando queria encontrar um amigo, precisava ir até a porta de sua casa e gritar seu nome para que aparecesse. Caminhava sozinha pelas ruas, não tinha alguém me vigiando ou à minha disposição vinte e quatro horas por dia. A regra era estar em casa na hora do jantar; somente quando isso não acontecia, o sinal de alerta soava em minha casa.
Hoje, no entanto, parece que tudo mudou. Aquela liberdade que fez de mim o que sou hoje já não é a realidade dos meus próprios filhos. Agora, no auge dos meus quarenta anos, também já conquistei tudo aquilo que antes parecia ser o ápice da vida adulta, mas muitas vezes me pego pensando: se hoje sou o que ontem imaginei ser o reflexo da velhice, onde está a velha que imaginava que seria nesta idade? Claro que tenho noção das minhas atuais limitações e dos sinais de envelhecimento que insistem em bater na minha porta: dores nas costas que me acompanham incessantemente, lapsos de memória, joelhos que estalam a cada degrau, fios e mais fios de cabelo branco que teimam em brotar do alto da minha cabeça. Mas esta “velha” que começa a dar sinais em meu corpo ainda não se apresentou formalmente em minha mente.
Ainda quero muitas coisas e faço planos sobre dezenas delas: coisas a aprender, os livros que irei ler, lugares que gostaria de conhecer. Quero ver meus filhos crescerem, seguirem seus próprios caminhos e, quem sabe, terem seus próprios filhos.
E lembra daquela liberdade que eu tanto almejava? Ela de fato chegou, mas carregando coisas das quais eu não imaginava: hoje posso, sim, ficar acordada até tarde para ver televisão, mas no dia seguinte irei me arrepender miseravelmente por ter ido dormir de madrugada e ter perdido horas sagradas de sono. Não preciso mais levantar cedo para ir à escola, mas preciso levantar ainda mais cedo para preparar e levar os meus próprios filhos à escola. Nem sempre as coisas acontecem como planejamos. Os cenários que criamos em nossas mentes, regados dos prós que tanto almejamos, muitas vezes se apresentam com outras nuances. Não que isto seja algo negativo; muitas vezes, apesar de diferentes, também têm suas belezas. E mesmo que não, são igualmente importantes para nosso crescimento e amadurecimento e podem ser ótimos professores no quesito resiliência e transformação.
O passar do tempo, antes tão desejado, agora faz convite à reflexão. Quando era criança, não tinha ainda consciência de que a idade não era um limitador, assim como também não é a vilã que às vezes me pego a imaginar. É apenas parte de um processo, e cabe a nós, dentro das nossas capacidades, aproveitá-la em seu momento e da melhor forma.