Algumas vezes na vida somos surpreendidos por situações desafiadoras que podem tirar a nossa paz por um tempo. A perda de um emprego, o fim de um relacionamento, a extinção de uma sociedade entre outros momentos tendem a nos ensinar algumas lições ou nos fazer realmente “mexer o doce” para sairmos da nossa zona de conforto. Recentemente, conheci duas histórias muito interessantes sobre isso que gostaria de compartilhar com meu público: a parábola do monge e da vaca e a estratégia de guerra dos vikings para conquistar territórios inimigos.

A parábola do monge e da vaca conta a história de um monge e seu discípulo que caminhavam por uma estrada quando avistaram uma casa muito pobre. Descobriram então que lá vivia uma família muito simples cujo único sustento vinha de uma vaca. Sabendo disso, o monge empurrou o animal por um precipício.

Observando aquilo, o discípulo não entendeu por que o monge havia tirado o único sustento daquela família, mas seguiu pela estrada acompanhando seu mestre. Um bom tempo depois, o discípulo voltou aquele mesmo lugar e a casa pobre que ele havia conhecido já não existia mais. Curioso, ele então perguntou aos moradores que ali estavam o que tinha acontecido com a família pobre que vivia ali e, para sua surpresa, eles disseram que eram as mesmas pessoas, mas agora com uma condição de vida diferente. Eles disseram que após a vaca ter morrido tragicamente, foram obrigados a encontrar novas formas de sobreviver e então começaram a plantar frutas e hortaliças e, com isso, melhoraram de vida.

A segunda história trata-se de uma estratégia de guerra. Diz a lenda que os vikings, antigos guerreiros, quando atracavam em solo inimigo, queimavam seus barcos para que não houvesse a eles outra possibilidade a não ser conquistar aquele território. É dessa narrativa que surgiram as expressões “Queime a ponte”, “Queime as naus” ou “Queime seus navios”, ensinamentos estoicos que nos fazem olhar para dentro de nós mesmos, controlar nossas emoções perante os desafios e eliminar todas as outras opções que temos a não ser àquela que nos levará ao sucesso, ou seja, vencer ou vencer e entender que desistir não é uma opção.

Pois bem, sabendo disso, agora venho compartilhar com vocês um pouco sobre a minha história de vida. Já contei em outros textos que no ano de 2023 passei por muitas dificuldades. Em 2024, no entanto, a vida pareceu voltar aos eixos: consegui um emprego, voltei para Londrina e tinha planos de em breve, poder comprar minha casinha. Por volta de seis meses depois que eu estava na empresa em que eu trabalhava como garçonete, recebi uma proposta de trabalho de um dos clientes: cuidar do atendimento em uma loja. O salário, embora menor, não foi um empecilho, pois me prometeram uma comissão bastante atrativa. Sem nem pensar muito, pedi demissão do meu antigo trabalho na hamburgueria e algum tempo depois, iniciei na loja de móveis.

O tempo foi passando e, com o passar dele, fui percebendo que ali eu não teria futuro algum. A empresa, embora visualmente muito bonita, escondia várias pequenas imperfeições em seu interior: falta de orientação adequada, péssima gestão, falta de treinamento e até falta de equipamentos básicos para o trabalho. Um completo caos e um desastre aos olhos de quem vinha de um lugar onde tudo tinha um padrão a ser seguido e nenhuma decisão deveria ser tomada antes da autorização do responsável.

Ao fim de tudo isso, me frustrei com o trabalho e ia para ele quase arrastada, pois ao chegar lá, o tempo parecia não passar. Eu recebia um ou dois clientes no dia (e olhe lá) e, às vezes, não respondia nem três clientes no WhatsApp. Percebi que não foi uma boa escolha ter trocado de trabalho e, sabendo que eu tinha errado, a culpa me consumia por dentro. Mas, sempre tendo fé de que tudo era passageiro e uma hora iria melhorar, uma hora teria mais clientes, uma hora teria mais serviço, uma hora... essa hora nunca chegou.

Por fim, percebendo que eu não tinha tanta utilidade assim na empresa, o dono da loja me demitiu de maneira covarde e sem profissionalismo. Quem me demitiu apenas disse que a empresa não via assim tanta utilidade em ter uma pessoa responsável apenas pelos atendimentos e que, pasmem, meu contrato havia sido um teste e que eles não perceberam a necessidade de renovar por isso eu estava sendo dispensada.

Enfim, após esse intenso período da minha vida, pude entender que a perda do meu emprego na realidade era uma benção ou um livramento já que a empresa estava bem longe de ser um lugar onde eu queria trabalhar. Entendi que, naquele momento, Deus estava, na verdade, me abrindo portas para viver o que eu sempre quis: ser a dona da minha jornada. E assim nasceu a minha empresa. Não por acaso, mas por muitas bençãos e também porque eu “queimei meu barco”.

A vida muitas vezes não é um caminho linear; ela é uma soma de processos, esforços e escolhas que fazemos todos os dias e, naquele momento da minha vida, eu pude escolher que “forçadamente”, mas com muita fé e determinação, eu tinha queimado o meu barco para que a única escolha que eu tivesse fosse literalmente abrir a minha empresa e prosperar, mesmo sem saber o que estaria por vir na próxima temporada da minha vida. E você, já queimou o seu barco alguma vez na vida?