Alguma esperança precisa-se…
Portugal tem novo governo em funções…Independentemente de apreciações ainda extemporâneas, convém concluir que é tempo demais para aqui chegarmos.
Na verdade, convém referir que há que reformar, com a urgência possível, as leis eleitorais portuguesas, pois os tempos que correm não se compadecem com estas demoras. Quanto ao resto, o melhor é aguardarmos, pois trata-se de situação inédita, historicamente na nossa democracia e, por isso, o tradicional período de graça ou desgraça aí está…
Igualmente é bom relembrar que internacionalmente vivemos tempos por um lado bem conturbados, por outro bem desafiadores… Facto é que, apesar de fortemente atacadas, as democracias têm resistido e mesmo a velha Europa revela, a espaços, vontades de mudança que não devemos por de lado. Se bem que ora confrontados com ameaças fortes no campo da segurança, nós europeus temos conseguido manter sociedades abertas e socialmente avançadas, preocupadas com os direitos fundamentais e a sustentabilidade ambiental.
No entanto, o muito que progredimos em muitos destes aspectos, não conseguiu ainda ultrapassar radicalismos internos e, principalmente, falhou no vector solidário e de cooperação para o desenvolvimento no que toca a muitas regiões do planeta que continuam em situações de guerra e/ou pobreza extrema…
O drama das vagas de refugiados ou a barbárie terrorista têm na sua origem a falta de resposta atempada às tragédias que se vão desenrolando à nossa frente desde a Ucrânia ao Médio Oriente, a África…, também já no arco latino-americano, vão-se repetindo os erros que nos próprios países europeus também teimamos em não abordar e resolver… a desertificação de largos territórios interiores ou menos atractivos economicamente, a concentração urbana e litoralizante excessiva, o desleixo na harmonização regional são questões em que muito há a realizar, assim se combatendo assimetrias que cedo ou tarde se agudizam e explodem…Se já não estão explodindo ou implodindo…
Dito isto, registe-se que algo começa a mudar — as Cimeiras do Clima ou novas perspectivas de colaboração e solidariedade da Europa com África bem podem ser exemplos para o que aqui, nos países, nas nossas regiões e comunidades também tenhamos de projectar e fazer — fixar população, sobretudo jovem, que permita níveis de inovação e geração de riqueza que consolidem processos de desenvolvimento mais integrados, inclusivos e, daí, com futuro.
Num sul da Europa crescentemente em inverno demográfico, os sinais são claros ou rejuvenescemos ou perecemos perante os imbróglios geo-estratégicos que continuamente empobrecem as sociedades em que ainda vivemos, reacendem radicalismos e ostracizam os que cá chegam. Triste Europa entregue aos idos de Março weimarianos que forjaram o nazismo e o estalinismo, ora em novas roupagens, mas sempre autocráticas no seu imperialismo selvagem e colonizador, sem dó nem piedade na promoção de ódios e vinganças de tristes passados de trevas feitos.
Provável é precisarmos de menos mediatismos e de mais acções concretas… De menos comentários narcísicos, para a fama ilusória dos 15 segundos na pantalha agora já digital, mas abrupta e voraz dos tempos, todos precisamos que venham mais concretizações práticas…
Com a avalanche tecnológica que revoluciona tudo, em todos os lugares e em simultâneo, trazendo de novo à baila as lógicas aleatórias, os modelos neuronais e quânticos, talvez faça falta mais algum cheirinho a mar e alecrim que ponha algum silente sentido que promova paz e esperança a esta carência de propósitos do anestesiante presente que nos trai o sonho de projectar futuros.
Talvez se precise de projecto, talvez a humildade seja bom porto de abrigo para se continuar… Em tempos tão estranhos e volúveis, de desatinos tantos, que mesmo a volúpia de Cronos possa ser também necessidade de alguma esperança, ingénua ou não, mas construtora de soluções partilhadas, solidárias e plenas de liberdade.