I've sincerely felt that my job was to entertain you the reader in such a manner that when you reached the end of the book you felt that you had got your money's worth. There can be no finer thought then passing on books, like skipping rocks on a pond. I use a basic concept: I ask myself, 'What if?' For instance, What if they raised the Titanic? Why did it sink? Was something on board that was one of the reasons the ship sank? That's the way I start a book and it spreads out from there. I have the beginning and end of the book in mind, but I rarely have the middle.

[Sempre senti sinceramente que o meu trabalho era entreter o leitor de tal maneira que, ao chegar ao fim do livro, ele sentisse que valeu a pena o dinheiro gasto. Não há pensamento mais nobre do que passar livros adiante, como pular pedras em um lago. Uso um conceito básico: pergunto a mim mesmo, 'E se?'. Por exemplo, E se eles levantassem o Titanic? Por que ele afundou? Havia algo a bordo que foi uma das razões para o naufrágio? É assim que começo um livro e a história se desenvolve a partir daí. Tenho o início e o fim do livro em mente, mas raramente tenho o meio.]

(Clive Cussler)

Un maestro del romanzo d’avventura. Amato e prolifico autore, pubblicato in tutto il mondo e tradotto in oltre 40 lingue […]
Si tratta di romanzi che ricordano un mix tra le avventure archeologiche di Indiana Jones e quelle legate agli intrighi internazionali di James Bond.

[Um mestre do romance de aventura. Autor amado e prolífico, publicado em todo o mundo e traduzido para mais de 40 idiomas [...] Trata-se de romances que lembram uma mistura entre as aventuras arqueológicas de Indiana Jones e os intrigas internacionais de James Bond.]

(Redazione Il Libraio)

Clive Eric Cussler (1931-2020) , “the great master of the adventure”, admirador de Hemingway, colaborador do Clube de Exploradores de Nova Iorque, da Real Sociedade Geográfica em Londres e da Sociedade Americana de Oceanógrafos, fundador da National Underwater & Marine Agency (NUMA), “A Non-Profit Foundation Dedicated to Preserving Our Maritime Heritage” criada em 1979 e nomeada na sequência da sua criação ficcional 1, que alia um poderia tecnológico, científico e institucional e que descobriu mais de 60 navios afundados. Surge como uma espécie de verdadeiro Indiana Jones dos mares multiplamente distinguido pelos seus feitos.

Com uma vida aventurosa que passou pela Força Aérea durante a Guerra da Coreia, direcção criativa duas agências de publicidade multinacionais, onde conquistou diversos prémios (um dos quais do Cannes Film Festival), pelo coleccionismo e pela criação do Museu Cussler, com mais de 60 carros antigos (desde um Stanley Steamer 1906 a um Corvette Stingray 1965), tendo obtido um doutoramento em Letras (1997) com o seu The Sea Hunters (1996) pela State University of New York Maritime College. Em 2023, a Doxa dedicou-lhe uma nova edição especial SUB 300T, icónico relógio de mergulho (usado por Dirk Pitt), homenageando-o e oferecendo uma percentagem das vendas à NUMA.

Escreveu mais de 50 livros, organizados em séries: Dirk Pitt Adventures, 27 romances com a personagem Dirk Pitt (1976 to 2021), seu alter-ego confessado, uma espécie de James Bond, Diretor de Projetos Especiais da NUMA, com verbete na Wikipedia; The NUMA Files, 20 livros com a personagem Kurt Austin, líder da divisão de atribuições especiais da NUMA; The Oregon Files, 9 livros centrados no barco Oregon; Isaac Bell Adventures, com 14 obras reportadas ao início do séc. XX; Fargo Adventures, 13 livros centrados em Sam e Remi Fargo, casal de caçadores de tesouros; 5 de não-ficção e 2 infantis. Escreveu em co-autoria com Paul Kemprecos, Graham Brown, Craig Dirgo, Jack Du Brul, Justin Scott, Grant Blackwood, Thomas Perry, Russell Blake, Boyd Morrison, Robin Burcell, Mike Maden e Dirk Cussler (seu filho), mas também com algumas das suas personagens, com especial destaque para Dirk Pitt.

Multiplicam-se os “Fan Sites” a ele dedicados, sociedades, convenções, clubes de coleccionadores, etc…, está traduzido em mais de 40 línguas, editado em cerca de 100 países e teria vendido 100 milhões de cópias dos seus livros quando faleceu [https://www.biblio.com/blog/2020/02/clive-cussler-american-author-and-explorer/]. E está registado na Internet Speculative Fiction Database (ISFDB), base de dados sobre ficção especulativa, além de ficção científica, fantasia e terror, na 1997 Encyclopedia of Fantasy, de John Clute e John Grant , na Encyclopedia of Science Fiction (2024) e na Encyclopedia Titanica, entre outras databases.

O cinema não lhe resistiu, adaptando dois dos seus romances: Raise the Titanic! (1976), filmado em 1980 por Jerry Jameson, com Richard Jordan como Dirk Pitt, e Sahaara (2005), de Breck Einser, com Matthew McConaughey, Penelope Cruz e Steve Zahn.

Apresentando uma das suas ficções, enuncia os objectivos.

Que esta obra seja vista como o motivo de algumas horas de entretenimento e, quiçá, como uma espécie de artefacto histórico. 2

A sua série “NUMA” (“The NUMA Files”), inscreve a ficção nos enigmas da nossa realidade, evocando ainda a equação entre a democracia ocidental e o socialismo soviético ou chinês, deixando a insinuação de que cada obra decorre de uma “ficha” do arquivo institucional, um caso, quiçá revelando a verdade do que nela não consta…

Na Worldcat Identities, com 16 entradas, regista 1350 obras em 8585 publicações em 23 línguas com presença em 353541 bibliotecas. Dirk Pitt tem 159 obras dedicadas a ele em 1151 publicações em 14 línguas e representação em 101893 bibliotecas.

A equipa central, de investigadores-cientistas, é formada por Joe Zavala, Kurt Austin, o casal Paul Trout e Gamay Trout, Rudi Gunn, Almirante James Sandecker, Hiram Yeager, Priya Kashmir, etc... A geografia percorrida passa por Washington, Mar da China Oriental, Pequim, Groenlândia, Tóquio, Nagasaki, Xangai, Golfo do México, Pensacola (Flórida, EUA), Hamilton (Bermudas), Georgetown, Telavive, Cazaquistão, Golfo de Sidra, para apenas mencionar os locais que me ocorrem.

A sua ficção, em geral, desenvolve-se a partir de 3 localizações, 2 tempos e respectivas ocorrências diferentes convergindo progressivamente uma mesma suspeita que faz unir esforços para a investigação e a resolução do caso. E é uma personagem sua que melhor caracteriza a sua obra:

As coisas nunca são o que parecem, pois não? Estamos metidos num ramo estranho e enigmático se pensarmos que cada vírgula, cada ponto final num pedaço de papel pode incluir um ponto de partida vital para um extraordinário segredo. É a direcção menos óbvia que leva às respostas. 3

Cussler especula a partir de matéria esquecida ou ocultada (casos, materiais, figuras, locais) que a arqueologia marítima vai desvelando, especulação que combina a política das grandes potências (EUA, China, Rússia) relativamente a essa matéria e à investigação científica (os perigos de catástrofes ecológicas tendem a ser vigiados e combatidos pelos EUA contra tudo e todos), os seus serviços secretos, o consenso científico a respeito dos tópicos abordados (ou a controvérsia abafada), as iniciativas megalómanas de alguns criminosos de grande poder, o terrorismo internacional e a vulnerabilidade de países/comunidades pobres. E a especulação segue por vias alternativas à da história e à da ciência oficiais, entre um olhar para o passado sombreado pelo tempo (dos antigos Maias, Incas, Espartanos e Egípcios aos míticos Poseidon, Atlantis e afins) e o futuro potencial, multiplicando as hipóteses em diversos “E se…?” que os diálogos entre as personagens desenvolvem.

Assim, por exemplo, Raise the Titanic! (1976) traz-nos uma arma defensiva sem precedentes que se baseia em um elemento radioativo extremamente raro, Flood Tipe & Ciclops (1976), uma conspiração relativa a uma base lunar secreta (Colónia de Jersey) construída por um pacto entre o presidente americano e Fidel Castro, Vixen 03 (1978), um "vírus do Juízo Final", Pacific Vortex! (1983), mergulhadores humanos com guelras artificiais, Ciclope (1986), uma colónia secreta da Lua, Tesouro (1988), manobras políticas num futuro próximo, Shock Wave (1996), uma tecnologia de mineração de diamantes com efeitos fatais para animais e humanos, etc...

Tempestades, terramotos, ondas gigantes, águas perigosas, infernos de chamas, cataclismos e outras ocorrências excepcionais exigem a investigação das causas, percurso sempre entre um passado remoto e um projecto suspeito e marcado pela urgência de uma previsível ocorrência irremediável para a existência humana que nos arrasta em crescendo de suspense que constituem o thriller dominado por conspirações diabólicas. Enfim, a ficção de Cussler traz-nos um mundo aparentemente tranquilo que é abalado por uma ocorrência estranha e rapidamente beira o caos e o fim, cenário de que a equipa da NUMA nos salva no último instante.

Apesar da valorização da instituição e do trabalho de equipa, Cussler não resiste ao herói individual, como é o caso, em especial, de Kurt Austin e, em especial, de Dirk Pitt (nome convocando o do seu próprio filho, co-autor de diversas obras).

Kurt Austin, membro da NUMA, é um quase super-herói. Em Lost City (2004), por exemplo, enfrenta uma família de traficantes de armas com vários milhares de anos de idade, cujos membros buscam a imortalidade, com referência a um mundo perdido semelhante à Atlântida, no fundo do Atlântico, onde uma enzima que prolonga a vida é descoberta e de esboça o perigo de um desastre ambiental.

Dirk Pitt, com série própria (“The Dirk Pitt Adventures”), já com vinte e quatro obras. No prefácio da primeira delas, Pacífico (1983), Cussler partilha connosco a génese de Dirk Pitt a partir “d[a] fantasia” de “uma personagem que não fosse um agente secreto, um inspector da polícia ou um detective privado […], algo indefinida, proém com algum estilo […], agradável, com uma ponta de mistério”, tendo por território o mar e por desafio o desconhecido. E confessa numa das suas mais famosas citações:

I had studied most of the other series heroes and I figured it would be fun for mine to be different and put him in and around water. So I dreamed up Dirk Pitt. 4

E Dirk Pitt adensa-se 5 até se autonomizar, apresentando aventuras e companheiros numa irónica “Apresentação de um amigo” que abre o volume Serpente (1999), afirmando a verdade das “façanhas” de Kurt, Joe e do Almirante James Sandecker como “divulgação” dos Ficheiros da NUMA 14. A ficção “acreditando” a ficção… ou antecipando-a (caso do Titanic) ou vertendo o real no seu contrário, como quando Clive Cussler surge como personagem a dialogar com outras (Dragon, Lost Empire e Spartan Gold, p. ex.).

Será esse um dos motivos da sedução e da atracção das aventuras de Cussler: a profunda imbrincação entre real e ficção que torna indecidíveis as fronteiras entre ambos. Uma estratégia que bebe na lição do Romantismo e que, neste contexto, nos arrasta pela noite dentro…ou nos tenta a apresentar a candidatura ao voluntariado da NUMA…

After awhile, I thought I’d write a book. I didn’t have the Great American Novel burning inside me. I just wanted to write a little paperback series. It was kind of a lark actually. I studied a bunch of authors and their fictional heroes—Edgar Allen Poe’s Inspector Dupont, Sherlock Holmes, James Bond, Travis McGee, Mike Hammer. I knew I had to do something that was a little different so I put my hero in and around water. He kind of resembled me. He was 6’3” and 185 pounds with eyes greener than mine. He made out with the girls better than I did though.

[Depois de um tempo, pensei em escrever um livro. Eu não tinha o Grande Romance Americano ardendo dentro de mim. Só queria escrever uma pequena série em formato de bolso. Na verdade, foi meio que uma brincadeira. Estudei vários autores e seus heróis fictícios — o Inspetor Dupont de Edgar Allan Poe, Sherlock Holmes, James Bond, Travis McGee, Mike Hammer. Sabia que precisava fazer algo um pouco diferente, então coloquei meu herói dentro e ao redor da água. Ele se parecia um pouco comigo. Ele tinha 1,90m e 84kg, com olhos mais verdes que os meus. Ele se dava melhor com as garotas do que eu, no entanto.]

(Clive Cussler)

Dirk Pitt [is] oceanography’s answer to Indiana Jones.

(Amazon Reviewer)

Dirk Pitt is a combination James Bond and Jacques Cousteau.

(New York Daily News)

Interviewer Marianne Dougherty, Editor of SBWC's Write On: What would you like it to say on your tombstone? [O que gostaria que estivesse escrito na sua lápide?]

It was a great party while it lasted. I trust it will continue elsewhere.

[Foi uma grande festa enquanto durou. Confio que continuará em outro lugar.]

(A Life in Full: A Q&A with Clive Cussler)

Notas

1 [Alegadamente, as equipas da NUMA terão descoberto mais de sessenta lugares de naufrágios famosos](Cf. https://numa.net/clive-cussler-2/)(https://www.cusslerbooks.com/clive-cussler.php).
2 Clive Cussler. Pacífico, Lisboa, Edições Saída de Emergência, 2010, p. 7. Itálicos meus.
3 Clive Cussler. O Resgate do Titanic, Lisboa, Saída de Emergência, 2024, p. 169.
Dirk Pitt is the ultimate man of action: always ready for any challenge, always prepared to pit quick wits and brawn against an intractable problem.
Ex-US Air force, he is cool, courageous and resourceful, which is why he works for the US National Underwater and Marine Agency (NUMA) – the undersea counterpart to NASA. In service of NUMA Pitt travels across the globe – and wherever he goes, action and adventure are sure to follow…”.
4 “Em certa medida, Pitt tinha duas personalidades diferentes,em nada parecidas. Havia o encantador Dirk Pitt, que raramente se desviava do caminho, e que era engraçado, despretensioso e irradiava uma simpatia descontraída com todos aqueles que se cruzavam com ele. Depois havia o outro Dirk Pitt, a máquina impassível e eficiente, que raramente cometia um erro e que muitas vezes era fechado sobre si mesmo, distante e reservado. Se havia uma chave que pudesse abrir uma porta entre os dois, Giordino ainda não a descobrira.” (Clive Cussler. O Resgate do Titanic, Lisboa, Saída de Emergência, 2024, p. 181.
5 Clive Cussler & Paul Kemprecos. Serpente, Lisboa, Edições Saída de Emergência, 2015, p. 7.