Diante das atrocidades que uma guerra provoca, da insensibilidade de autoridades que poderiam impedir a truculência dos combates que vitimam milhares de vidas humanas, é urgente defender a importância de uma educação para a humanização. Educar para humanizar na esfera contextual do que afirma o filósofo Habermas, na obra Discurso Filosófico da Modernidade, que defende que os ideais de racionalidade da modernidade ainda não se concretizaram e que, efetivamente, assistimos ao predomínio da irracionalidade, da violência, da selvageria e da insensibilidade diante do sofrimento e da dor alheia.

Somos convidados a pensar em uma educação humanizadora porque, como afirmou recentemente Antônio Nóvoa, educar é sempre um ato humano para com outros humanos. Nesse contexto, nada melhor do que dizer que educar é para humanizar e não apenas para transmitir informações. Transmitir intelectualidade ou dar as condições de produzi-las, como dirá Paulo Freire, é uma das dimensões do processo de aprender, mas, efetivamente, educar sempre será um desafio para outras perspectivas. O professor César Nunes, da UNICAMP, tem uma obra sobre o educar para a afetividade, fundamental para aprendermos a avaliar e praticar outras perspectivas que não apenas a racional. Afinal, parafraseando Chaplin, mais do que máquinas, precisamos de afeto, de doçura.

Educação humanizadora consiste em pensar que, em um mundo com diversos olhares, crenças e dogmas, é fundamental que saibamos respeitar a visão de mundo de outrem, conviver e somar potenciais em prol da dignidade do ser humano. Não é porque penso diferente de outra pessoa que preciso entrar em atrito com ela. A vivência cidadã e democrática pressupõe que saibamos conviver com o diferente. Ao mesmo tempo, necessariamente, não precisamos concordar com Protágoras que dizia que tudo é relativo. Podemos crer na objetividade da verdade, mas sem que, com isso, tenhamos que agredir aqueles que não têm ou não vivem conforme determinada verdade que nos guia.

Precisamos educar, sim, para que as futuras gerações absorvam as tecnologias, que disponham de informações para poderem sobreviver neste mundo tecnológico, mas não podemos privar as futuras gerações da humanização. Atualmente, valoriza-se mais uma educação para a intelectualidade do que uma educação para a gestão das emoções. O resultado é que pessoas preparadíssimas em uma área do saber ignoram atividades simples do seu ofício. Isso ocorre porque a atuação profissional envolve o conhecimento teórico, mas também a gestão emocional de conflitos, a superação da própria insegurança pessoal.

Enfim, educação humanizadora evidencia um projeto de sociedade em perspectiva da emancipação humana. É um olhar para o ser humano de modo integral e não apenas considerando a intelectualidade. É preciso educar para se pensar no ser humano em suas diversas dimensões, além da valorizada racionalidade. Precisamos também de afeto, de respeito e de ternura. Precisamos reaprender que “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite” não são futilidades, e que um sorriso pode modificar a vida de alguém, e que “por favor”, “com licença” e “muito obrigado” são atos gentis que modificam o clima quando pessoas valorizam tais comportamentos. Precisamos, sim, das tecnologias e elas contribuem muito para a melhoria da vida humana, mas precisamos também nos libertar da dependência das telas.

O mundo virtual é muito importante, mas precisamos trocar abraços, afetos com o nosso semelhante. Enfim, educar para a humanização é um caminho longo a ser percorrido, quase uma utopia, numa busca pela valorização daquilo que é essencial: o amor, a atenção. Que o ser humano seja cultivado em suas diversas perspectivas, visando recuperar a integridade daquilo que representa a própria essência. Que a empatia seja cultivada como a arte de sensibilizar-se diante da dor alheia. Enfim, por uma educação mais humanizadora e um ser menos violento e mais sensível ao sofrimento de tantos pelo mundo afora.