Quem disse que não há discussão?

A definição de discussão pode ser mal interpretada se não apresentarmos uma explicação. Há muitas vezes a ideia de exaltação e grosseria. Já adianto que não é.

De acordo com o dicionário de verbetes Oxford, uma das definições é "exame minucioso. Levantando-se os prós e contras". De pronto, já apresentamos que não há julgamento de valor, se é bom ou ruim.

Assim, começo afirmando que esse espaço será dedicado a isso, levantar questões de interesse, desse professor, e pontuar questões que consideramos relevantes para a vida em sociedade, como afirmou o escritor inglês John Donne (1572-1631), "nenhum homem é uma ilha". E, partindo dessa afirmação, podemos apresentar uma visão particular que, inserida em contexto de efetiva participação, podemos aprimorar, desenvolver o conhecimento diverso, de realidades desconhecidas.

O fato de vivermos em bolhas, ainda mais no mundo em que podemos escolher quem escutar, pode nos fazer desconhecer completamente uma realidade que se apresenta poucos metros à frente de onde circulamos e vivemos.

A capacidade de decidirmos quem vamos escutar, o seguir e silenciar nas redes sociais, pode ser boa para nossa sanidade, mas pode ser ruim para nossa civilidade e a compreensão de quem somos, assim como a visão que os outros têm de nós.

Como professor do curso de graduação, sinto-me compelido a permitir o desenvolvimento argumentativo dos alunos, como uma cultura de acolhimento e liberdade.

Contudo, o limite da discussão deve ser respeitado. Vejamos a seguinte hipótese, que, infelizmente, não fica apenas no campo filosófico, onde um aluno compreende os Direitos Humanos como barreira para se realizar coisas boas, por mais violento que isso seja. A violação do Direito constituído, da titularidade universal desses Direitos Humanos, é uma barreira intransponível.

Mas o que leva à conclusão do perverso clichê "Direitos Humanos são para humanos direitos" é justamente a escolha por ouvir uma série de pessoas que pensam de forma igual, que não aceitam o debate, a discussão de ideias que tem por objetivos o fim do senso comum como argumento de verdade.

O senso comum se reproduz como pós-verdade, por não haver debate.

Cabe apontar a gravidade do clichê apresentado, pois rompe com a lógica universal dos Direitos Humanos, a qual nos protege todos, independentemente de qualquer diferença sociológica que se possa levantar. Pois a lei não olha, em seu contexto de igualdade formal, a distinção entre pessoas.

É importante reafirmar, sempre que possível, que o direito constituído não pode ser subjetivado, pois é contrário a toda sua lógica de existência.

E a ferramenta para a superação de incompreensões ilógicas em relação ao que é posto é a discussão, o debate, a apresentação de divergências baseadas e embasadas pela lógica construída e não da crença na pós-verdade, que é considerar verdade aquilo que você acredita. A verdade se apresenta numa construção factual e não na opinião e no achismo.

Os achismos são responsáveis pelo senso comum e pelo enriquecimento de coaches e tudólogos (nome dado a quem comenta sobre tudo como se fosse um perito) de plantão, aqueles que acreditam serem capazes de fazer qualquer trabalho melhor que o profissional especialista no assunto.

O que nos leva à complexa discussão daqueles que utilizam de um pretenso argumento de autoridade, baseando sua "autoridade" no número de seguidores, truculência das tiradas e não na especialização formal ou profissional de pessoas que se dedicam ao tema, em alguns casos por décadas, o que as transformam em verdadeiras autoridades no assunto.

Valorizemos o conteúdo e não a pessoa, não as transformemos em fim, mas sim em ferramenta na construção do seu próprio conhecimento, não reproduzamos nossas opiniões como informação e sim como análise e como opinião.