O que significa ser mulher nos nossos dias? Muita coisa mudou desde o tempo das nossas mães e avós, mas ainda existem muitas outras que necessitam ser mudadas. Talvez daí advenha a necessidade de celebrar dias como o 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, para nos lembrar disso mesmo que, apesar dos progressos, ainda há muito por fazer.
O Dia da Mulher foi comemorado pela primeira vez em 1911. Anos mais tarde, já em 1917, este dia passou a ser celebrado a 8 de março. A Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, consagrou a data como o Dia Internacional da Mulher e, desde então, é comemorado anualmente.
No entanto, o que é que se pretende de facto com este dia? O propósito desde dia é celebrar os direitos das mulheres, que durante muito tempo lhes foram negados e, em alguns lugares, continuam a não ser praticados. Além de presentear as mulheres com flores, jantares ou uma prenda um tanto mais cara… Não nos foquemos nos presentes e sim, no facto de que às mulheres nada lhes é dado como garantido, nem os seus direitos! Se hoje uma mulher pode exercer o seu direito de voto, ter uma palavra a dizer na sociedade, “ter as mesmas oportunidades” que um homem, foi fruto da mudança dos tempos, mas sobretudo da longa luta que travaram em prol de garantir os seus direitos, bem como da igualdade de género.
Também o Feminismo nos lembra disso mesmo, é um movimento que tem como principal objetivo reclamar a igualdade de género entre homens e mulheres e, não como se diz por aí, que o feminismo o que pretende é colocar a mulher num pedestal, levando-a ao seu máximo de superioridade. Desenganem-se os enganados.
As mulheres anseiam por um tratamento de igual para igual no seu local de trabalho, desejam que as suas opiniões sejam tidas em conta, numa sociedade que se fecha em copas quando vê uma mulher com pulso firme e ideias concretas e reais. As mulheres desejam um local de trabalho livre de sexismo. As mulheres querem ter oportunidades iguais àquelas que são dadas aos homens, como poderem ascender a um cargo de chefia sem que lhes digam que só o conseguiu porque dormiu com o chefe e, não pelo seu trabalho e empenho. As mulheres esperam que, um dia, os seus salários sejam maiores, independentemente da função que exerçam. As mulheres sonham com o dia em que as queixas por violência doméstica sejam levadas a sério e as penas de prisão por esse crime sejam cumpridas até ao fim. As mulheres almejam com o dia em que não tiverem de repensar a sua forma de vestir com receio de ouvirem piropos ou por medo de serem apalpadas em plena rua ou pior dizerem-lhes “Vestida daquela forma, estava a pedi-las”. Por todos estes desejos alteremos a nossa forma de pensar e de agir.
No tempo do outro senhor, em que Salazar mandava, as mulheres viviam numa sociedade aprisionada nas suas próprias ideias e vontades, pois o regime não permitia ideias contrárias à ideologia. Além disso, as mulheres da sociedade portuguesa do século XX, não tinham quaisquer direitos, a não ser a obrigação de serem esposas dedicadas e extremosas aos seus maridos e filhos. O seu único trabalho era cuidar da casa e da família. Não podiam exprimir a sua opinião sobre o quer que fosse, pois naquele tempo subentendia-se que todos os assuntos, à exceção da vida doméstica e familiar, estavam reservados aos homens.
Este ano, celebram-se 50 anos do 25 de Abril, também conhecido como a Revolução dos Cravos que, depôs quatro décadas de opressão, medo e ausência das liberdades individuais. Com a Revolução dos Cravos a sociedade ganhou liberdade em todos os aspetos da sua vida, mas a vida das mulheres, em particular, sofreu um relativo avanço devido à cedência de direitos que antes eram impensáveis. Depois da revolução, as mulheres passaram a ter direitos e com isto, automaticamente, deixaram de ser submissas a um regime e a um marido que as reprimia, para se tornarem independentes e se livrarem de todas as regras de como deveriam viver.
Com o 25 de Abril, as mulheres tornaram-se independentes dos maridos, no sentido em que, puderam começar a tomar decisões, o marido deixou de ser o “chefe de família”, cuidar da casa e da família deixou de ser uma tarefa exclusiva da mulher. No entanto, apesar destas e outras conquistas, ainda há muito caminho a percorrer. Desde logo, o facto de em pleno século XXI os homens continuarem a ter um salário maior do que as mulheres, acrescentar o facto de as mulheres terem pouca oportunidade de ascender a cargos de chefia, para não falar dos elevados índices de violência doméstica, ano após ano.
A Revolução de Abril pode ter rompido com a opressão, ter dado às mulheres um novo laivo de esperança ao conceder-lhes novas conquistas, que decerto mudaram a sua vida, mas há uma coisa que continua igual: a mentalidade da sociedade portuguesa, sobretudo no que toca ao sexo feminino. A sociedade portuguesa sempre teve uma certa dificuldade em aceitar o novo e em pleno seculo XXI isso não mudou. Sim, as mulheres são independentes, têm um ordenado e são livres para tomar as suas próprias decisões, mas julgo que, para a sociedade em geral, a mulher nunca deixou a esposa, a mãe e a cuidadora do lar.
Apesar do lugar que tem na sociedade, a mulher vive constantemente assoberbada pela quantidade de coisas que tem para fazer e nunca tem tempo para si. Dá a impressão de que a mulher do século XXI é a mulher do século XX, pois continua a ser a cuidadora da família e do lar, mas com mais responsabilidades às costas e com os velhos ideais ainda mais enraizados: casar, ter filhos, viver para a família e trabalhar.
O que é que acontece se uma mulher quiser viver, exclusivamente, para si? Certamente será julgada, porque no entender da sociedade, a mulher foi “feita” para casar, ter filhos e ser a fada do lar, mas será verdadeiramente isso que a mulher quer? O “engraçado” é que ninguém pergunta às mulheres o que é querem na realidade, mas a mulher também tem o direito de escolher o que quer e o que não quer para a sua vida, daí se tratar de uma escolha pessoal e que ninguém tem o direito de questionar.
O pior é que questionam… Se fosse ao contrário, se um homem afirmasse que não tem em vista ser pai ou casar-se, ninguém o questionaria, até lhe dariam os parabéns, porque ter filhos é caro e aturar mulheres é complicado. Então porque é que não felicitamos as mulheres que decidem viver para si? Tal como os homens, as mulheres não podem ser todas iguais nem querer todas as mesmas coisas.