O processo de transição energética tem incluído o modelo de economia circular, ou seja, pretende-se acabar com o modelo tradicional de economia, a economia linear. Antes de mais, é necessário primeiro conceituar os modelos existentes antes de formar e afirmar qual dos modelos deve ser aplicado numa dimensão micro e macro de um país.
Ao contrário da economia circular, a economia linear é o modelo tradicional ainda vigente e aplicado na maior parte dos países, consistindo na típica economia materialista. O procedimento levado a cabo por este modelo é feito através da extração direta da matéria-prima (setor primário) de forma desenfreada e incoerente, depois de extraída, é manufaturada nas grandes indústrias (setor secundário) e de seguida comercializada para as grandes cadeias de serviço (setor terciário). Após a sua venda, a duração destes produtos, na maioria das vezes, é efêmera e o seu consumo é de curta duração, ou seja, depois do seu prazo de vida, o produto não é reciclado, não há reaproveitamento do mesmo e os materiais que o compõem vão se decompondo em reservas a céu aberto ou nos solos, por exemplo.
As grandes multinacionais procuram obter lucro instantaneamente e não medem esforços para o conseguir e para tal, o consumo e a exploração de matérias-primas tornam-se no interesse máximo para conseguirem o lucro que tanto ambicionam, e para estes não importa como o fazem mas quanto lucro conseguem obter num ano ou num mês. O desenvolvimento destas multinacionais, a sua expansão, deve-se a isto mesmo, esta é a premissa que utilizam para competirem umas com as outras, mal sabendo eles que só existe um planeta para tanta concorrência.
O modelo econômico que protagonizam, a economia linear, não é de longe sustentável, pois a extração desenfreada e a forte dependência dos recursos levarão a grandes instabilidades ambientais, tais como, a poluição dos solos, do ar e das águas, a deterioração de espaços verdes e dos solos agrícolas para a construção de fábricas poluentes, a desflorestação e a destruição de reservas naturais e em alguns casos até em áreas que seriam protegidas.
Os nossos antepassados já nos mostraram que faz parte do ser humano a evolução, o progresso, a expansão, a procura intensa de ter mais e melhor do que os nossos vizinhos, a ambição desmedida e para que tal aconteça, não importa o espaço onde se encontra desde que o possa explorar de modo a criar a sua vida e responder às suas necessidades supérfluas. É então nítido que o ser humano procura alcançar os padrões de segurança, estabilidade e conforto que o satisfaçam, de realçar que esta é uma procura legítima. O que não é legítimo é que se continue a utilizar os recursos do nosso planeta, finito, sem pensar nas graves e profundas consequências que isso traz consigo, seja para as gerações presentes, seja para as gerações vindouras.
De acordo com as instituições europeias, metade das emissões de GEE a nível global são resultado da procura desenfreada e da produção em grande escala de materiais básicos e 70% dos componentes que constituem um produto são formados antes mesmo de o produto ser comercializado e consumido. A tendência é para que esta procura cresça e a finitude do nosso planeta se torne cada vez mais óbvia e mais perto do fim. A nível europeu, persiste a forte dependência de matérias que não consegue produzir internamente, as leis do mercado cada vez mais intensas, isto é, a procura ser maior do que a oferta, faz com que se (re)pense na estratégia e no modelo a adotar e sem dúvida que o modelo de economia linear não será uma estratégia a seguir.
No caso de Portugal, a economia é baseada mais na extração e importação de matérias-primas do que na exportação de produtos acabados, ou seja, gasta mais do que aquilo que produz. Em tempos de crise, o PIB português estagnou e o consumo interno sofreu uma forte quebra, o que levou à implementação de políticas de incentivo e de promoção dos produtos nacionais, entre eles a exploração eficiente de materiais energéticos de forma a recuperar a economia. No ano de 2014, a exploração e o consumo voltaram a crescer e foi na exploração de minerais não metálicos e na biomassa que se retomou a atividade de um dos setores predominantes da nossa economia nacional, o setor da construção. No ano seguinte, a procura desta tipologia de matérias-primas traduziu-se em 73% de 145 milhões de toneladas destes materiais extraídos nacionalmente.
Portugal, por ter uma extensa costa marítima ao contrário de outros Estados-Membros, não tem sabido aproveitar eficientemente e conscientemente, recorrendo à energia hidráulica só cerca de 65%, mesmo com a sua utilização, a sua reutilização é ainda gradual e lenta, dados que retirei da Estratégia Portugal 2030 de 2020.
Foram feitos diversos estudos de quais eram as energias existentes que o território português era capaz de produzir, e encontram-se energias derivadas de fontes renováveis. No ano de 2015, dá-se uma mudança de paradigma, onde se registaram investimentos estratégicos neste setor e na utilização do hidrogénio, do lítio e da biomassa como fontes alternativas, de forma a reduzir a ainda forte utilização e dependência dos combustíveis fósseis.
O cerne da questão surge quando já se comprova que o modelo de economia linear esgota ainda mais rápido os recursos do que efetivamente a produzi-los, portanto, é necessário encontrar outras soluções com menos impacto, e é aqui que surge o modelo de economia circular.
Relativamente ao modelo da economia circular, este é um modelo distinto do primeiro apresentado, o próprio nome traduz isso mesmo, ou seja, o processo das matérias-primas é feito ciclicamente, de forma sustentável. Baseia-se da seguinte forma, na desmaterialização, reutilização, reciclagem e recuperação dos materiais. Desta forma, é possível extrair e aplicar preços econômicos e uma nova utilidade aos equipamentos, aos seus componentes e bens pela maior duração possível, sendo só possível através de um ciclo formado por fontes renováveis. É um sistema win-win, ou seja, através deste ciclo é possível extrair vantagens econômicas tanto para os fornecedores como para os utilizadores e vantagens para o meio ambiente, através de menos impacto da extração e da importação das matérias-primas, reduz-se a quantidade de resíduos assim como a emissão provenientes destes.
Para que este modelo transcenda da agenda para a realidade são necessários esforços permanentes e em alguns casos adicionais da classe política, da classe governativa, pois é a partir desta que se formam as políticas públicas necessárias que visam dar uma resposta direta aos anseios e necessidades da população.