O ano era 2021, o ápice da pandemia da COVID-19, um dos maiores desafios que a humanidade enfrentou nos últimos tempos. Nada trivial e conhecido por nós.
Meu pai, aos 73 anos, diabético, hipertenso e cardíaco, além de uma afasia severa, resultado de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) que 'queimou' 1/3 do seu cérebro. Ele também já havia vencido dois cânceres, um de mama e outro de próstata; um verdadeiro sobrevivente.
É fácil dizer que por aqui somos especialistas em milagres. Papai, desde que me lembro, é o milagre em pessoa.
Ele era um paciente típico para intubação seguida de morte. Não havia outro caminho ou sequer perspectiva para o caso, foi o que os médicos e meu irmão, um gênio, concluíram ao ver os exames.
Meu irmão do meio, um homem sensato que sempre tomou excelentes decisões ao longo da vida, empresário no ramo de inovação tecnológica para a área da saúde, ao ver os exames que lhe enviei da emergência, tomou uma das melhores decisões da vida. Racionalmente, ele me disse: "manita, respira!" Mais do que isso, ele me ensinou uma técnica respiratória incrível, não sendo surpresa vindo dele, que fez a saturação do meu pai aumentar.
Meu irmão mais novo é mais parecido comigo, pois somos mais voltados à ação, à execução. Mas vale dizer que somos a equipe dos sonhos. Juntos, formamos um trio muito unido e capaz do impossível! Desde sempre, a vida nos impôs grandes desafios, mas nada comparado àquele vivido na UTI COVID, que carinhosamente chamamos de "Montanha russa".
Sim! A montanha russa mais intrépida e louca de nossas vidas. Foram 33 dias de internação na UTI COVID de alto risco.
O primeiro milagre já aconteceu no início, quando consegui ficar com meu pai, pois não é permitido acompanhante em UTIs. Eu fiquei 'internada' com ele durante os 33 dias, os mais longos da minha existência.
Estávamos em um hospital particular da nossa cidade, eleito o mais preparado para lidar com a loucura que foi aquela pandemia.
Eu nunca estive em uma guerra, mas o cenário que vi logo na chegada da emergência me lembrou uma verdadeira trincheira de guerra.
Lembro-me de ter ficado extasiada observando, lá de dentro, o que nem de longe a imprensa conseguia noticiar. Hoje eu sei que meu pai seguiu o caminho ascendente da piora da doença. Ninguém, nem mesmo os médicos, estava preparado, ou sequer sabia explicar ou prever o que acontecia com os pacientes que iam sucumbindo diariamente e rapidamente àquele maldito vírus.
De uma hora para outra, sem explicação ou aviso, meu pai simplesmente não se levantou mais. Foi uma loucura. Não conseguíamos entender o que estava acontecendo com ele.
O caminho da sua piora foi o seguinte: emergência, apartamento no andar COVID, Semi-UTI e UTI de alto risco. Na UTI, o médico me disse: "Agora você vai embora, pois não tem mais jeito. Ele vai ser entubado." Lembro que me faltou o chão. Recorri ao conselho trino (eu e meus dois irmãos), e nem nós encontramos uma solução.
Foi então que tomei a melhor decisão; eu subi na instância. Ajoelhei e disse: "Deus, agora somos nós dois. Posso explicar o que aconteceu." Sabe quando Jesus disse aos apóstolos: "Agora vocês vão pelo mundo fazendo milagres em Meu nome?" E eles, perplexos e incrédulos, diziam: "Como assim? Nós vamos fazer milagres?" Ao que Jesus, calmamente, respondia: "Sim! Vocês farão milagres em meu nome. Agora esse poder é outorgado a vocês."
Foi isso! Só que eu não tinha tempo para questionar, apenas aceitei. Aceitei com tanta força que a frase que me veio ao levantar foi: "Eu não vou embora, e meu pai não vai ser entubado porque quem está aqui sou eu!" E assim foi. Meu pai não foi entubado e hoje, dia 26/10/23, está celebrando seus 76 anos.