Qual sua percepção de sucesso de vida? O que significa conforto para você? O que faz aumentar nosso bem-estar: viver em uma cidade grande ou pequena? O quanto o "onde moramos" afeta nossa qualidade de vida?
Costumava olhar de uma forma muito mais positiva para a cidade grande, afinal, morar em uma metrópole significa ter um acesso mais amplo a serviços, mais oportunidades profissionais, mais opções de instituições de ensino e lazer. Naquela época, o sucesso de vida que tinha era o de estar em cidades que me oferecessem de tudo um pouco, que pudesse experimentar diversos serviços a todo momento, que tivesse acesso a pessoas de todos os lugares, com diferentes estilos e opiniões.
Não sei dizer o que de fato me fez acreditar, em boa parte dos anos, que a vida agitada era sinônimo de sucesso. Talvez os filmes de Hollywood? Pode ser. Lembro que a primeira vez que assisti ao filme Diabo Veste Prada, com Meryl Streep e Anne Hathaway, achei o máximo morar em uma cidade como Nova York. O que consumimos em formato de mídia e também por meio de opiniões à nossa volta tem o poder de moldar nossos pensamentos e ações, e essa influência acaba tendo caminho livre quando não sabemos o que nos gera bem-estar de verdade e não temos controle sobre nossa consciência.
Conhecer a si mesmo e o que lhe faz bem é essencial para escolher o "onde morar" e priorizar a qualidade e sucesso de vida. Demorei alguns anos para compreender que uma vida agitada não era o que me gerava satisfação e, consequentemente, viver em cidades grandes e populosas também não. Gosto de estar e conhecer? Claro! Sou apaixonada por descobrir novos lugares (e, sempre que posso, aumento a lista de países e cidades visitadas pelo mundo), mas o que de fato aumenta meu bem-estar, qualidade e satisfação pela vida é ter tranquilidade. Mas aí entramos em uma questão que gera debates, assim como o significado de sucesso, porque cada um de nós possui um conceito de tranquilidade distinto.
Para alguns, pode ser a proximidade da família, a conexão com a natureza; para outros, a oferta cultural vibrante de uma grande cidade. O meu está diretamente conectado ao conforto e prazer, e isso encontrei no oposto do conceito que tinha como "sucesso". O que me gera satisfação é o bom dia aleatório de pessoas que passam na rua, é poder andar pelas ruas se sentindo totalmente segura, é poder olhar para o local onde está e sentir que é ali que deveria estar e que sente prazer e bem-estar com o que vê, é o silêncio ritmado pelo som da natureza, é saber que ali há uma estrutura de comunidade que funciona e respeita a privacidade do outro…
Quando nos sentimos confortáveis com o ambiente no qual vivemos, mais saúde mental e emocional positivas temos. O "ambiente" ao qual me refiro não se refere apenas à cidade em si, mas também ao apartamento ou casa, à disposição dos móveis, às regras, ao comportamento da população local e ao grupo de pessoas com as quais temos contato direto e frequente. Esses elementos juntos formam um ecossistema que pode influenciar diretamente nosso nível de estresse, felicidade e sensação de pertencimento.
E por que mencionei antes que precisamos nos conhecer primeiro para depois escolher o "onde morar"? Porque, a depender do seu estilo de vida, o agito das cidades grandes é o que lhe gera esse conforto. Mas lembre-se, é o que lhe gera conforto e não o que os outros estão dizendo que é o melhor. Isso requer um nível profundo de autoconhecimento e a capacidade de filtrar as influências externas que não se alinham com nossas necessidades e desejos genuínos.
Não tenha medo de decidir o que faz bem para si mesmo e receber críticas por isso. Quando entendi que a cidade pequena era o que me gerava satisfação e aumentava minha qualidade de vida, bloqueei minha mente para comentários como "nossa, mas vai morar em uma cidade com menos de 9 mil habitantes?", "mas você consegue viver em um local tão pequeno?", "morando ali não vai conseguir crescer profissionalmente".
Independente da sua escolha, seja por um local menor ou extremamente populoso, as pessoas irão querer se meter, criticar e, por vezes, transmitir uma energia negativa, principalmente quando sua decisão for completamente diferente das delas. Quando coloca seu bem-estar em primeiro lugar, você não apenas contribui para a sua qualidade de vida e felicidade, mas impacta de forma positiva na comunidade. Ao buscar um ambiente que realmente esteja conectado com nossas necessidades, criamos um espaço onde podemos nos desenvolver e, ao mesmo tempo, inspirar os outros a fazerem o mesmo.