Apesar de ambas comporem a existência, e no seu desenrolar, uma não existe sem outra, não é verdade? Se nascer, um dia vai morrer, e assim vamos vivendo esse grande mistério de existir em diversos planos, em diversos níveis de ser e de estar; mas falar de morte, ainda é de alguma forma, desagradável, temido, e talvez aqui, seja válido refletir o porquê.
Por que temos certa dificuldade de aceitar a ideia de que a vida existe para além de possuí-la em um corpo? Corpo que, por sua vez, tem a chance de nascer, crescer e morrer para voltar a nascer, crescer e morrer, e assim sucessivamente; quando a própria natureza da matéria que nos compõe a todos, de todos os Reinos aqui da Terra, se apresenta claramente em ciclos que se repetem como padrão, ritmo. Ondas.
Tudo aqui é frequência, vibração, tudo aqui está sob regência das leis da criação e destruição. Do ir e vir. Em cada ciclo de nossas vidas e mortes, são muitos assuntos a tratar para curar. Percebo em mim. Percebe em você? Aí estará o mecanismo da consciência, outro tema a se explorar a parte, mas que a esse respeito, é capaz de passar de um nível para outro da existência, consciente entre vida morte vida na vida, vida na morte.
A Consciência - já parou para pensar ou sentir o que quer dizer isto que extrapola essa palavra? Poderia ser a base para construção, da ligação entre este plano e os planos superiores? o mundo material com o mundo espiritual? Esse ponto em nós de unificação, este aspecto da cura em nós, que é capaz de coligar o que está embaixo, aqui na vida material, com o que está acima, na espiritualidade, eis a revolução da morte. A Fênix que gira, gira ao redor da pira e incendeia-se no fogo gerado por seu canto, renascendo do pó de suas asas almadas, cheias de Fé.
Sem a compreensão ampliada da energia da morte, isto a que chamo de revolução, a tranquila aceitação dos fins, sem medo, sem culpa, sem dor, sem nada, apenas a consciência plena da vida que está na morte; não é possível termos acesso também a energia daquilo que faz nascer. Aqui jaz a vida criativa, a magia da manifestação de todas as coisas da terra, então, para acessarmos o poder criador, vamos precisar enfrentar o medo do desconhecido, bem como a dilacerante dor da morte, que realmente vivemos ilusoriamente, nos parecendo ser o fim da vida, seja de um ser, de um animal, de uma planta, de um rio, de um relacionamento, de um objeto. Será preciso encarar a morte, o final dos ciclos sombrios, dolorosos, incertos com Coragem para renascer das cinzas, além da Fé, que é a força oculta, propulsora, que alimenta a vida seguir dentro de nós.
Coragem e Coração derivam do mesmo radical. Isso faz todo sentido. O coração não mente, a coragem não pensa, então é no coração que a coragem nasce e por sua vez, é na coragem que o coração faz pulso, diz como Ymã, a cigana dentro de mim. Ela que me acompanha há séculos, os meus processos de mortes e renascimentos. Ela que se mantêm vermelha, chama acesa em meu Coração atiçando a minha Coragem.
Coração em ação. Sentimento no pensamento e coragem para entoar a canção, que faz ecoar no silêncio, a voz da verdade sem participação da mente que mente. Não é um produto mental, é uma intenção que vai fluindo por nosso ser, na abertura do silêncio da mente e na entrega ao coração. É ele que nos dá a oportunidade de fazer o contrário, a revolução que nos trará a oportunidade de glorificar a vida diante da morte. Com esta entrega ao coração, tudo que estiver acontecendo será sintetizado, unificado naquele nível, incluído e resolvido na sua química oculta, agindo bem à revelia daquilo que estamos pensando. A Chave da união está no coração.
A cada oportunidade que se toca nesse tema da morte, assunto incomodativo para a maioria de nós, percebemos que tal assunto ficou registrado apenas em parte no nosso nível mental.
Dentro do reino humano, essa ideia não incorporou, não desceu para nossos outros níveis mentais, de forma natural como deveríamos esperar, daí a revolução. Ficou em um dos níveis das nossas mentes, não nela toda, concorda? Existem partes das nossas mentes que não querem ouvir falar sobre a morte. É ou não É? Então, essa ideia da morte está clara apenas em uma parte dela, e se nos voltarmos para o nosso nível emocional então, menos ainda, porque nesse nosso corpo, estão os desejos, os apegos, as emoções, os sentimentos, esse corpo de água que quer preencher todos os espaços de si, sentir com os sentidos físicos; e este assunto de deixarmos de ver uma consciência que muda de plano sem precisar do corpo, isto o emocional não gosta muito, e quando ancorado no ego, ele quer ter desejos, apetites, quer perceber as coisas concretamente, corporificar.
Mas é chegado o momento de deixar de acreditar na morte, como sendo o fim da vida, o fim da existência, mas sim encontrar no findar dos ciclos de construção e destruição, dentro e fora de nós, a energia do amor que mantêm coesos os átomos permanentes, pois que a vida não está somente no corpo físico, sentidos, desejos e suas tantas limitações espirituais, estas que estão ocultas na vida criativa. A vida criativa se amplia em sua continuidade, e nesta revolução, a lucidez da existência, que está na consciência, nesta transição entre um plano e outro, reconhece a plenitude desse mecanismo contribuindo para harmonia dos fins. Este parece ser o trabalho mais urgente a ser feito. Ir em direção ao núcleo mais profundo do nosso ser. Viver fora, contudo aprofundando mundo adentro.
Vamos precisar de unificar os corpos, nos alinhar com núcleos mais profundos, considerando as condições desses corpos e a realidade atual.
Dois planos, dois níveis, dois mundos, contudo em um. A Vida criativa é muito ampla. Nesse momento, já consegue identificar um e outro? Eu externo, Eu interno? Bem, o nosso eu externo, é óbvio, é esse que vive a vida voltado para fora, num modelo decadente, sem saúde, previsto, repetitivo, superficial, cruel até, pois por muito tempo ficamos sem saber que a vida externa não nos serve a nossa integridade. Aqui fora, só percebemos, divisões, competitividade, heterogeneidade, diferenças, forças psíquicas, demasiadamente humanas, e tudo isto não é o eu interno. Na hora da próxima prova não se deixe cair para fora. Caí inúmeras vezes. Na revolução da morte, desapegar-se de um, do eu externo, da personalidade, desapegar-se do eu pequeno, e identificar-se com o outro, entregando-se ao núcleo interno, para que ele esteja presente como energia, onde quer que estejamos, sem ficarmos servindo somente ao eu externo. Nessa transição ofertamos tudo que fazemos ao eu interno, isto é, ao Coração.
Cuidar desse aprofundamento estando entregue ao propósito real da vida, que não é o que imaginamos ser ou pensamos saber, mas sim, que podemos ir cumprindo, nos dispondo a cumpri-lo, a partir desse contato com a realidade interna: Coracional. É uma forma de voltar-nos para o eu profundo, porque este propósito está lá dentro, e precisará da sua coragem para ser buscado. Será quando, nos voltando para esse eu profundo, essa parte de nós mesmas, em uma região da consciência do coração, onde não existem dúvidas, vacilações, divisões, conflitos, neste nível da realidade, essa força que vem daí, afastando a ideia de que somos apenas isso que aparentamos ser, nos fará sentir esta unidade com a vida criativa, que não estará mais restrita ao pequeno mundo pessoal da personalidade, muitas vezes, já inadequada para a situação da alma. Vamos renascer?